era o tempo da criação,
o qual esbanjava de intermitentes canções
no conservatório do céu.
as notas bailavam sobre as nuvens,
as faziam de palco
e mil arcanjos cantarolavam seus libretos abençoados.
era o tempo da criação,
e assim se sucedeu
a síntese de nosso chão,
do nosso beber,
da nossa razão,
do inferno
e da terra:
havia,
o que hoje se chama por fogo.
o mais afinado dentre os anjos.
o par da melodia,
a vida das dissonâncias,
o mestre do compasso.
porém, balbuciava suas melodias
pois das rebeldias e sorrisos era feito.
havia,
o que hoje se chama por Pai.
a santidade.
o senhor das letras,
o par da grafia rimada.
que cansado com a preguiça
eliminou o fervente tenor
das notas do céu.
II
naquela hora, o nada era tudo que havia.
era o nada e o tenor amaldiçoado,
embebido na furto do libreto do pai eterno.
eram agora o diabo, o libreto e o nada.
era só,
era nada.
virava a terra
sua partitura,
e seus pensamentos sustenidos
o erguiam ao céu.
III
hove dia
no qual suas notas o caminharam ao céu.
houve dia
no qual foi ouvido.
- pinto aqui
nosso cume, Padre Eterno!
agrado aos ouvidos angelicais
lhe trago, letrado.
houve esse dia,
e nenhum outro que valesse a pena,
que valesse o queimar do inferno
.
houve esse tempo,
que parou, e congelado está.
afogado no brilho de mil olhos,
de mil asas.
e no tempo parado
os anjos tocam.
de seus arpejos
fluem a terra
a água
o ar.
e fazem de nós
suas notas
nessa ópera vital,
sem ensaios ou rodeios.
somos e seremos
embebidos na arte de outro alguém,
nos acordes das trombetas reais,
que dia após dia vão cerrando o soprar,
até acabar o fôlego,
e nos pintarem de negro e solidão
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