quinta-feira, outubro 28

sombra

sonho com belas sombras
maravilhadas com a indecência da luz,
chegando e derramando o ver, a visão.

são da essência de acordes luminosos,
de asas fototrópicas e frequências abastadas.
são conjuntos de corpos parados,
que em sutis movimentos mudam a vida de suas fomas,
transformando o amor do abraço negro,
num vazio de luz e cores e profundidades.

sonho com belas sombras,
que quebram a claridade
com seus desenhos unidimensionais.

dois

mil olhos
entornados de sentidos
e sensações.
rúbricas solidamente pláticas,
donde saem vivos
                   mortos
                   cores
                   marasmos.
donde filam os cérebros
e os fazem esfumaçar
de lágrimas, arrepios,
e é só.

matadouros ignorantes
das pelúcias vazias que andam,
que em seu próprio sarro
caem na escada da ironia.
            mil olhos!
            mil sentidos novos
            e iluminantes.

nova era antiga

um velho começo de era
inicia-se novamente,
borbulhando com a paixão
que por tempos salgou
as faces do vazio.

uma velha janela
aberta como se pela primeira vez
visse o sol iluminando frases,
apagando pesares da solidão
e tecendo em ar e riso
o aperto que nasce feliz.

mas com uma fina singularidade.
vejo nossos pés costurando
outro caminhos,
corresto ao ver alheiro, e
sadio ao nosso amor.

terça-feira, outubro 26

um céu (de)novo

meu corpo na cruz de olhares,
ausência de normalidade
me deixa sorrir levemente.

moralidades esquecidas e talvez
um altar de saudades canonizadas,
veleiros de vidas outrora vazias
que agora se fundem por mil amores
e recheadas se tornam novamente.

salvando meu eu,
e alisando a prontidão de desejos e
decisões repentinas, tomadas por verdadeiro querer.

suas mãos de fazer tudo ir à vida,
mãos de apego, de sóbrio e desfumaçado amor.

passado novo

volto aos palcos de meia luz,
sem cenários, mas assim, cheios.
e a liberdade e esperteza das palavras
estranhamente continuam as mesmas.

sinto cheiro novamente,
sinto leve meus pés e meus lábios.

como se tivesse dado à luz
a esse sentimento novamente.
é um abraço, terno e quente.
lento e intenso,
repleto de manias e sorrisos.

quinta-feira, outubro 21

fedão

um brilho de olhar que me brilha quase em todos os luares,
lembrança de vagas memórias, poucas e ricas.

de rosto redondo e óculos,
é o abraço que queria sentir nas horas atuais,
nas verdades que frago por hora.

fluiriam infinitas conversas,
que antes mesmo de existirem
foram apagas pelo derrame de células,
pelo ínfimo adoecer.

um brilho que vejo
que anseio
talvez, morrer logo pra ver de perto.
capitão desses pensamentos meus, que vão e voltam.

terça-feira, outubro 19

quando vejo o sol pousando

se canonizar meu ínfimo coração é desejo de sua mente,
escolha nossos passos sem checar seu altar particular
e nos deixe no caos dos juntos olhos - é normal.

meu desapego de mil outras vidas possíveis não se confunde
com esse sorriso meu que chamo de possível amor.
de onde estiver, salve meus(seus) versos,
e levo na mão fria, teu nome,
que brilha e não para.

meu apego não foge tão cedo desta trilha,
é quase um fardo, mas de pura boa vontade e abraços.

segunda-feira, outubro 18

sonho

corredores de animais,
estranhos anais de mal gosto,
pegam suas
pérolas e me enchem os saberes
e não vejo mais.

películas
de momentos, privados
por meu próprio escuro,
cabem em minha arte.

é colocar, na mesma mira,
a cabeça
o olho 
e o coração.

chuva

vem da luz,
que se difere dos dias sãos
na sutileza do brilho que esta causa no verde das folhas.

um brilho eterno,
fotografado no verde que vem dos caules.

e após o brilho,
saem estas gotas de cor,
roubando das folhas e do chão falido
o cheiro.

cai,
normal à nossos pés,
decepando bebedeiras
e juntando abraços
embaixo de panos de cobrir
e piscinas de olhares amados.

quarta-feira, outubro 13

minha noturna aparição

escondo meus olhos
na madrugada, no breu,
num copo.

tento deletar o sol por
períodos de solidez.
tento apagar o sol,
me enfiando na lua,
redondamente iluminante,
cativante.

é da lua, que sou.
sou filho e sombra.

escondo meus olhos
na madrugada,
no escuro,
de uma noite boa, ou
boteco soturno,
de madeira cheirosa,
ou em beijos de salamandras,
quentes e coloridas.

sexta-feira, outubro 8

faz zum-zum e mel

a madrugada de meus sonhos
terminou nesses velhos sambas,
rasteiros em meu quarto.

novos bronzeados de acordes,
padroeiros de minhas tardes vãs.
toquem sempre em meus discos,
e melhorem o molho de meu prato,
para eu batucar livremente.

quarta-feira, outubro 6

minha coroa de espinhos

os espinhos de fogo
que vagavam soltos por lá,
me enfeitiçaram de traição.
uma víbora de vestido azul
e de asas e olhos pintados.

corra,
pois teu corpo se aproxima da cova
se imagina como verme no chão.

estes epinhos
de derradeiro luar
esperam o sol sair
para secar e apodrecer minhas idéias.

morte

não é por medo
ou solidão;
não é de sede
e enem de fome;
não é com frio
ou calor;
não é só
nem acompanhado;
não é agora
nem depois;
não é de susto
ou surpresa;
não é aqui
ou lá.
é tudo, mesclado.

só sei que
é por desapego,
por despaixão
de alguém acima dos sonhos.

sei que é durante o tempo todo,
e não ontem, ou amanhã.

sei que é certeza e não surpresa.

não é por medo,
mas o é em sua essência,
é o medo da solidão, encrustado no vazio.

é a carne,
padecendo à outros poetas,
poetas da terra,
da melodia que é morrer.
é, realmente, ser parte de algo.
ser o chão de seus filhos.

terça-feira, outubro 5

amor

é uma peleja,
um doce vazio.
é, também, cheio, enorme.
e de seu vazio vaza um sol
alumiando dois rostos.
duas estátuas morinbundas de tanto se olharem,
no seu amar estático.

é uma quase morte.
de tão intenso que é.
que é mais,
que é tudo,
que é a vontade,
que é o susto,
que é o suor,
que é a bondade,
que é uma dor.

e como diriam?
-é uma daquelas que não se sente.

domingo, outubro 3

máquina

me calo os calos do falar,
afastando pontuais abraços
do não e do vazio.

isolo meus lábios,
saboreando sorrisos de anil.

e os beijos,
corredores de escuro
dança de cego,
arrastam e atrasam
o amor,
que como se fosse o último
me faz escapar.

um ele chegou diferente

é esse doce irmão,
que sem saber me enche os olhos.

enche as aventuras de meus sambas.
minha temporada do nada, rimas e outras mais.

me mande notícias boas,
de cartas ou mortes,
manhãs e botequins.

uma vida atoa,
gloriosa,
a minha,
que se torna um tanto sorridente
quando louca de acordes e olhos azuis.

sexta-feira, outubro 1

bondade

corre no meu sangue,
e com ele.
esse fogo de carinho.

fogo forte,
que em muitas vezes
me tropeça no ar
e faz meus olhos fecharem.
faz meus cílios
grudarem de dor
e lágrima.

me faz menos.
me faz ser menos.