terça-feira, janeiro 26

poema

passatempo,
queria que você fosse diferente.
não andasse do outro lado da rua.
andasse em cima de mim, me esmagando, doendo.
queria que fosse mais importante do que é.
fosse vital.
fosse pão.

queria depender.
pender...Ficar pendurado em cada última letra,
e ir decendo até o último verso e viver no lugar da onde eles saem.

afogar lá, para que essas palavras entrassem mais em mim.
pagar o que eu compro com versos.

não é só que dá?

às vezes,
só às vezes eu me sinto
só.

é assim mesmo, de vez em quando
dá essa sensação,


dá pra fazer linhas grandes?
dá pra deixar essa miserezas de lado?
dá pra mostrar quem é você, eu?
dá.

só, eu não consigo.
é por isso que às vezes, só às vezes não escrevo.
só, por que estou só.
é sutil, e qualquer um escreve.
é amor, é por isso que eu consigo.
é... acho que é por isso.

não é?

terça-feira, janeiro 19

1º - De São João à Águas de Lorena

21/12/1996

Meu nome é Lisa.
Eu só comprei esse caderno de folhas verdes por que eu estava passando em frente da papelaria lá da praça e resolvi comprar.
E também por que eu queria escrever sobre mim mesma. ('mim mesma'? é isso mesmo?)

Eu nasci longe pra caralho. Em São João do Salmo, cidadezinha pequena.
Na verdade eu não lembro muito de lá, saí  de lá por volta de 40 anos atrás. Lembro da praça, com o parquinho. Aquelas praças de filme sobre o nordeste, sabe? com uma igrejinha e ma vendinha e um parquinho que fica tocando músicas regionais.
Minha mãe me deixou com a Vó Lena logo que eu nasci. Nem sei o nome dela. Só do meu pai: Guido.
Dele eu lembro bem também, ele que me levava no parquinho, e me mostrava todas aquelas músicas apaixonantes e caipiras. A gente costumava ouvir na vitrolinha dele. Lembro até a marca: TomPlay, e era verde e cinza. Ele me colocava no ombro, com minhas pernas envolvendo sua nuca e me levava por ai.
Eu era sua maior companheira, onde ele ia, eu estava atrás. Correndo e pulando. Gostava quando ele ia pescar e eu tirava os peixes, até os maiores do anzol e ele morria de rir com a minha falta de jeito, sempre lembrando da minha mãe. ''Como você parece ela, Lisa.''

Na escola eu conhecia todo mundo, já que era uma cidade minúscula. Na minha sala, eu ficava com o Duda, a Dilma e com o Sérgio, que eram mais velhos que os outros, desde as primeiras séries. No colegial era a mesma coisa.
A Dilma era a mais legal, e mais bonita menina da escola, senão da cidade, linda. Ela morreu esses dias, mas isso não vem ao caso, mas tarde eu conto sobre isso.
Nós éramos inseparáveis, ela vivia em casa, e vice-versa. Ela chegou a morar em casa por uns meses, devido a umas brigas familiares, e nesse tempo que eu descobri que era completamente apaixonada por ela. Mas não dava pista nenhuma pra alguém descobrir. Naquela época era completamente proíbido uma menina namorar com outra. Logo depois que ela saiu de casa, nós nos mudamos de São João do Salmo para Águas de Lorena, cidade grande. Fomos pra fazer faculdade, eu, a Dilma e o Duda. O Sérgio fora preso lá em São joão por usar drogas. Sorte nossa que não fomos descobertos.
                     
[continua]

uma semana e uma terça-feira

as paredes estão nos apertando,
mais do que o acontecimento
gritando gritando

Não, meu amor, não esqueça esse momento.

Começou a doer e coçar
tudo isso, seu corpo.

Para de gritar!
Silêncio!

mas é impossível segurar essar dor dentro da boca.
indo e vindo.
é preciso gritar, soltar tudo
o mais longe possível, e acabar com tudo,
                                               [até com rimas.

Calma, amor, não vou esquecer.

Não é fácil esquecer esses dias, de aperto, dor.
ainda mais com você;
Calma, amor, já está acabando,
estamos quase morrendo.

segunda-feira, janeiro 18

l'amour de ma vie

eu fico aqui, longe, saudadeando.
inventando.
tentando fingir que tá tudo bem, mas não tá.
porra, eu sou assim.
desse jeito chato, crica.
mas sou eu. seu.

está bem mais forte agora.
ambos os sentimentos.
amor e saudade.

esse poema bobo é só para a tentativa de lacrimejar
não ser em vão.

triste e longe, é assim que estou.

quarta-feira, janeiro 13

verde-cinza

o disco é preto, redondo, de vinil e tinha uma vaca na capa.
o chão gelava minhas costas quentes,
e a última parada daquels notas que eu nunca entederei era meus ouvidos.
a falta de energia colaborou com a sensação.

foi bom.
rodou e rodou, depois calou
calou.

ficou mais preto ainda,
e levou na garupa a minha cabeça avoada.
que devido a ele mesmo estava, já, bem longe.

a vitrola é retangular, gordinha, de maleta, verde e cinza.
tem uma alcinha.
para eu levar pra onde for.
ela e minha cabeça. (é)

sábado, janeiro 9

noite

fazia tempo que não tinha esse sentimento
de ouvir a poesia falar por si mesma.

não quando a gente lê em silêncio, fala com os olhos.
mas quando recita alto e claro.
não somos nós.
é ela, é dela.

funde com todo o ar do ambiente e penetra na gente.
entra, bem fundo. às vezes, fundo de mais.

dói, alegra, lembra, faz chorar e rir.

estava sentado ouvindo mudo a ditadora,
quando de repente saiu tudo aquilo da tela e meu quarto ficou colorido
colorido com uma fonte bem bonita e gorda.

eu lia no ar tudo aquilo que sempre quis ler e enxergar.
agora, realmente com pleno entendimento.
cada uma das estrofes e por sua vez, os versos foram me amarrando na cama.
fiquei ali até agora pouco.
só ouvindo.