segunda-feira, junho 7

reino de paz

ó, menina feliz.
roda à minha retina
vestida com um vestido colorido
cigarro ao peito
nos chamando pra uma overdose
de uma saliva que já secou.

atrasado nos correios,
parando pelo caminho
cantarolando pelos botequins
infinitos de nuestra estrada.

ó, menina feliz.
deixe minha cabeça errante
te invadir - meu império!

me de a graça de ser mais.

um céu turvo

escolho minha roupa azul,
listrada
para tal ocasião, monocromática,
única

me sinto, dificilmente,
aliado de seu sorriso,
me sinto coberto pelo seu cachecol cinza,
cheio de pêlos do rei do passado,
sinto o cheiro da lua,
que vejo em minhas unhas, sempre.
sinto o cheiro da lua
no meu céu escuro de olhar.

sem nome

o tardar,
            quente e dissimulado
            me encontra no infinito, creio.
            assim me tangencio a terceiros
            para esperar

a manhã,
             a manhã do dia que vem
             é aplaudida com quatro queijos
             e bourbon de sorriso
             engarrafado há semanas atrás
             mas curtido centenariamente

a noite,
           do dia que vai
           é despedida sem querer
           aponsentada num baño ou sopa
           quente e dissimulado.

alimento para o ego número um

sei que como dor
sou fraco o bastante
para nem precisarem de remédios.

apenas deixar de lado, cura.

mas sei, também,
que teimo como parasita
e mesmo morto, dentro de meus hospedeiros
continuo lá,
pra apoquentar meus bens

catraca

me esponho, nu.
pairo no espelho
de meus globos,
e nada existe, agora.
vivemos, pois, em sonhos de imagens.

minha janela guarda
para si, a desgraça
parece que quando chego
ela se fecha sozinha
não me deixa
escolher,
colhe pra mim,
e sempre aceito esse fim:

pois é belo e cheio de graça
numa boa noite de insônia colorida.

e não quero, também, causar
outro qualquer além do nosso.
além da nossa espera.
só isso.
assim, pinto nosso estandarte de azul.

minha janela embassa

deixa-me pintar com meu nariz.
ser feliz
e desenhar minhas humildades!
saudades não quero ter mais
e, assim, jogo fora o bilhete.

falsete de meu sonho
continua insistindo.
mas fico bem, decidido.

flutuando ebriamente
sob minha própria mata,
com velocidade dos anjos
piscando meu silêncio
em três passos mais.

quero ter meu próprio
jeito de me mostrar,
de queimar os feiticeiros.

comço assim, a cansar
levemente de meu baião.
quero acordes novos,
diminutos

o amor tem que ser reinventado

meu corpo
feito furacão,
jogado ao ar,
em meu berço.

levanto minha direita
e levo o tiro.
faz um buraco em minha mão:

- por onde vazam
meus pensamentos
e vou perdendo minhas
idéias azuis.