terça-feira, julho 20

me dê novamente meus sentidos

saliente medo,
que afronta meus lençóis,
vá-te pra fora,
pro frio e lua.

deixe-me apaziguar meu tempo,
serenar minha sobriedade.
peço-te que vá.

corra no mar,
que mora em ti,
nos teus olhos fundos e altos.
que vagam pelas minhas costas e vida.
peço-te que vá.

vá para sertões mais distantes,
mais remotos de pensamentos e sorrisos.
peço-te que vá.

peça de um jogo
perdido por mim,
és tu.
és tu, medo oblíquo.
remete à tudo e todos à minha volta.
peço-te que vá.

peço-te que me deixe livre,
leve,
peço espaço para ver,
cor para sorrir,
e sabor para sentir,
peço-te, humilde, meu ser.

logo pela manhã meus olhos cinzas

por que tão cedo?
por que descolo meus vãos,
logo pelo primeiro fio de sol?

formam-se vielas em meus olhos,
todas cheias de solidez mental e vigor de criança.

nos vãos,
o ar sopra duro e reto,
nem uma curva de devaneio e digressão se forma
por entre os mil amores.

são três dias corridos do mês,
e já jogam concreto em olhos meus,
para que essas ruelas se formem,
tão cedo, tão cedo.