terça-feira, maio 31

marco zero

repito minhas palavras, eu sei.
e sei, também, que não sou mais
cego o suficiente pra não conseguir esse respeito.

e fico de longe,
aliviando minha mágoa
em luzes disformes e letreiros de cabaré.

fico sem pé e sem delírio
mas não posso e não passo pela ponte do passado
- quero o zero,
o puro contato.

como se tivesse começado nesse instante
no qual meus dedos são canais e meu coração a fonte.

domingo, maio 22

só conto meus medos e amores

não espero alarmar raivas e furias
com meu simples sentimento.
e o divulgo na roda de todos
por que sou somente sincero
e não preciso ter medo do deprezo.

não espero alertar dores e amarguras.
sendo meu próprio freguês,
sendo único entendedor de meus versos
talvez eu precise me explicar mas claramente,
mas não há como negar
que gosto quando o desentendimento alheio saliva,
e enche as bocas da mente de curiosidade.

se você quiser amor chegue aqui

como pode?
ver de cima do monte um passado todo!

é como se os pisos dessa terra
gerasse um retrocesso em meus passos
e os fizesse lentos.
e parece que só assim
o homem não vê minha saudade.

e a alma fica fazia,
nem que for por ínfimos segundos,
mas ela fica.
mais sombreada
mais escondida.

e o amor é aqui.
disso eu tenho certeza,
mas não posso ser doce nem rude.
somente tenho que esconder
para poder ao menos ver um sorriso
e não costurar as lágrimas no meu céu particular.

segunda-feira, maio 2

ave maria

é como se tivesse apagado um pedaço.
pedaço que foi moldado
pela inocência de risonhas estórias,
pela mão enrugada
pelo pequeno tamanho
e pelo riso doce.

é como se o olho
que podia brilhar um pouco mais
sentisse obrigação de se esfumaçar
e assim, sem querer, acabou borrando
uma parte de coração.
fazendo, numa segunda-feira,
meu toque ir pra longe,
pra hostilidade do passado.

mas sigo a seta,
e sei que estou pronto
e sei que seu, sou.

mas vou despir meu choro,
e colorir minha tristeza com um breve sorriso.

e agora, num relance,
meus olhos vão pra outros cantos
roubando seu brilho.