terça-feira, julho 26

mente sambada

como consegue
moldar as palavras
e esculpir os versos?

dança o sentimento
e possui um
cerébro arquiteto.

mente artesã
dos dizeres.
e
corpo moreno
do samba.

mundo que gosto

gosto do olho semi-aberto
do céu bem azul
e do gosto de usar terno.

gosto de dizer sem falar
e de ouvir o silêncio
gosto das cores
e do jeito que a moça samba.

gosto de gostar
disso e daquilo
gosto da textura do café
e de como irritante pode ser o mosquito
e gosto, também de sua pequinez.

gosto da poesia sem rima
dos versos livres e da leveza
mas se tiver um pouco de destreza
a cadência um pouco se afina.

gosto da boca
da voz rouca
da pouca roupa
e de quando pessoas
viram guarda roupas no frio.

gosto da fumaça do leite
da cor da água
e de frases que não entendo.

gosto de música nova
de rock velho
e de imaginar o que estar por vir.

gosto daqui,
dali
e de quadros surreais.

gosto de gente feia,
de gente bonita
e de como
a simplicidade
e a sujeira
às vezes torna alguém maravilhoso.

gosto de brincar com criança
e gosto de malemolência.
gosto eu de sambar
e gosto de ter vergonha
de isso se concretizar.

para que numa hora
eu dançe no meio de uma roda.

gosto das rodas,
das calotas raspadas
e dos parafusos.

gosto de olhar
e reparar.

mesmo que meu alvo
nunca saiba que meus olhos
o gravaram.

e também gosto
quando esse meu olhar
é descoberto em um segundo.

gosto de mim,
gosto do mundo.