terça-feira, dezembro 28

o aprontamento do beijo

olho que sente o toque
que apronta os impulsos do aconchego
é mesmo olho que lê o lábio
mesmo que fechado.

são alguns centímetros eternos,
e rapidamente arrepiantes, calorosos.
é só um nada entre dois sorrisos
mas quando se ouve a dança sincera
esse nada se vira num espetáculo.

são alguns segundos intermináveis
que no escuro de nossos olhos fechados
desenham leve o setimento,
transformam o não-palpável
em forma concreta, colorida.

transforma o amor em saliva e nó.
transforma o pensamento num só.
ali e naquela hora.

pode durar somente ínfimos minutos,
mas o infinito rouba a cena
e o beijo se enche dele.
o beijo,
o gosto e a pele.

domingo, dezembro 26

me dói a espera

pura vaidade do pensamento
- ser a união forte de duas almas.

vaidade ruim.
descolorida de mal cheirosa,
que cada vez mais é alimentada pela raiva de outros,
maltratando dois sorrisos.

por ora é o que se passa
- e esse asco só se aumenta, dia a dia.

e cada vez mais o chorume do meu amor aumenta.
e faz a saúde esvair-se rapidamente.
ela pula dos olhos,
dos coros e choros.

e um rio lagrimal me afoga.
machuca meu querido futuro,
meu pesado querido futuro.

entendo essa distância,
essa aversão aos passos,
essa distância da dança que me levanta,
porém a compreensão não é minha vizinha
e não está presente nalguns olhares flamejantes.

ao meu ver, o tempo não fez seu papel.
digo o tempo de antes, o tempo dentro da minha cabeça,
o tempo de antes do retorno.

ao meu ver:
o tempo se ampara sendo assassino.
- de amores e mudanças.

sexta-feira, dezembro 24

definição

é definição:
a palavra aguda
que muda o sorriso.

o pedido,
cercado da chuva,
se fez grande.

e em sua grandeza,
se fez realeza
o sabor do beijo.
e levado à diante
o atenuante amor
se fez feliz.

sábado, dezembro 18

(des)levedura

a desfermentada carne vossa
é o verbo saturado do material;
calhado do suor  concreto.

confundindo as frases
num estranhado suingue;
é o grosso da idéia.

maltratado.
escroto.

é como se deixasse
ir ao longe seu maior bem,
sua maior arte composta;

é um acorde pisado,
pisoteado,
amargamente abandonado.

é deixar de lado sua fonte
não é o mais confortável pra cunjuntura atual.
não é bem.
e este vai se perdendo,
junto das formas significantes
junto do significado.

quinta-feira, dezembro 16

haikai livre

é estranho:
estar com a cabeça lá longe
mesmo com as asas fechadas por aqui.

terça-feira, dezembro 14

ele quem sabe

Quero amor cru.
Repleto dos palcos queridos,
Amado em sentido corrido.
Nu.

Sei que há dores
E desgostosos sabores,
Mas a luz é maior,
E o brilho sabe mais.

Sabe mais da chuva,
Do dia querido,
Da palavra dita.
Sabe mais da tarde,
Da flor,
Da cor, próprio amor.
Carece a ele o sabor.

Sabe mais do sorriso,
Do apego sabe mais.
Sabe mais do beijo,
E nele se refaz.

poema moribundo

Descansada da estúpida monotonia que nos veste
A morte vem e nos rouba da naturalidade do livre.
Amamenta a verrucal teimosia e num piscar a leva.
Apaga da vista jovial uma corada luminância - e dói.

É da morte o esdruxulo da traição, a descortesia da solidão.
É assim que se é, quando ser tomado por ela é mais forte que a decência
Quando seus braços são desgrudados de um corpo amado
E um abraço vaza e escorre junto das lágrimas.

É incitar a dor. Cutucar uma longínqua saudade instantânea.
Como se fizesse anos.

É longe. Distante, ao ponto de não saciarmos a tristeza
E de não entendermos a realeza de nossos saudosos.

segunda-feira, dezembro 13

o palco lá e eu cá

Se sambar não sei
Amenizo minhas vontades apenas no olhar,
Na contemplação de um rodar de braços e cabelo.

E me satisfaço com o calor que me esquenta
E sento, pra me descançar as emoções,
Na penumbra dum botequim.

Foi sempre desse feitio,
Eu cá, a olhar
Os pés e olhos de outros,
Amando, e sentindo o derradeiro fim.

Um retrato móvel,
Aliado dos meus sonhos,
Nos quais amo,
Desejo e me sinto assim.

não questione

Salvo minha pele em uma só nota
E num só relance sonoro.

Arma maravilhada e maltrapilha,
Assassina dos pobres perdidos na podridão
Da ignorância.

Um passo recalculado,
Repesado que
Num piscar de sentimentos
Se torna frágil paixão.

sexta-feira, dezembro 10

tem peões na minha janela

Junto do sol veio a obra ao lado leito.
Fechando com suas trombetas de concreto meus sonhos,
Maltratando os sorrisos e sono dos bêbados na rua.
Maliciando o jantar de janela aberta.

Coloco no futuro.
Digo, essa cortina.
Tampando mil outros olhos
Mas abrindo outros mais.
Colocando na minha mira a vida nova.

 A despedida e a conformação
São necessárias.
Estarei aqui, mas não tão perto.

de lã

Há essa sutil diferença
Entre sentir os cochichos
Dos pingos da chuva em sua janela
e
Somente se molhar.

E na sua sutileza,
Faz da água algo intenso, recheado.
A preenche com alma.
Alma de água,
Suave, mas no mesmo instante,
Alma de poeta sem palavras.

É uma salva de palmas.

quinta-feira, dezembro 9

agora, eu vou.

Olhe o samba
Que passa e repassa a cor o povo
Passa dentre as peles
E por entre os olhos.

Tingindo tudo que é livre,
Pois assim, ele é.

É vento,
E nele tento me enganchar,
Para ir à outros carnavais,
À outros pessoais,
Para não mais me acorrentar no marasmo.

Me leve certo,
Me leve veloz,
Para que nem do caminho eu me lembre.

Olho o samba,
Que treme as peles dos ouvidos e dos corações.
O admiro,
E miro minhas vontades em suas ações.

logo

Há uma rosa,
E um verso.

Flutuantes nesse presente,
E que deveriam pousar
Em nossos sonhos futuros.

E pousam,
Como buquê
E poema.

no alto da serra

Dou-me dor,
sacrilégio.

Talvez nada mais seja
Capaz de , com vigor,
Saciar algumas de minhas malícias.

Não há mais cuidado.
Nem espaço há mais.
Só o apertado,
Que por trás
Anula e derruba
O pilar do meu sorriso.

Soa como se não soasse,
Como um um som sujo e longe
Que não esperaríamos dar nossa atenção.
Soa como neblina:
     É isso. Meio cinza, meio quieto.

domingo, dezembro 5

vestido azul

vi o vestido,
com flor e tudo, dançar mais perto.
rodando e rodando cheio do sorriso.

num som confortável, e carinhoso
que se fechou num anel de apertos.

olho com olho,
estendido no breu
e tremendo mais que as notas,
que faziam o ato mais sincero.

ontem, nos embriagando
nas gargalhadas da quase paixão de outrora.

quinta-feira, dezembro 2

não se estranhe
se teu pliê soar mais pesado.
- é meu desejo grudado em teus pés,
é meu calor amarrado ao seu.

deixo minha bolca a sós com você.
e a partir de agora ela é tua,
faz parte da tua valsa e do teu samba.

te dou, sutilmente, minha posse,
ó, doce do vestido florido.
e rode-o feliz,
que sinto o movimento
e largo o beijo no vento que te refresca.

terça-feira, novembro 30

nuit

à noite, quando nem os pássaros são ouvidos,
fecho meus olhos.
são eles que me levam longe,
são eles que cavam minha mente
deixando os sonhos à flor da pele.

e assim me sinto seguro.
maduro e capaz de dormir.

através de meus olhos, se faz assim

Entendo fielmente que só se faz de tempo,
de naturalidade
de momentâneo sorriso.
É ajustar.
Encaixarmo-nos na fragilidade de um olhar
bem olhado.
É sentimento beijado
de quando se acorda com um corpo ao seu,
ou de quando a água se divide nas duas faces
e só se enrosca nos narizes, que se tocam.
É quando se tem outro corpo,
outros braços e outras pernas, capazes de adivinhar o que você quer.

É um clichê,
que todo mundo reconhece, mas ninguém entende.

[digo, o amor]

quarta-feira, novembro 24

dance mais perto

quero romper teu vazio
jogá-lo no escândalo
fazê-lo ínfima saudade e frio.

quero responder o sofrimento
e a tua solidão
com nosso silêncio conjunto
- aquele bem junto, que é o agora e o depois,
que é preso e colado, e nos faz leve.

quero saber dos sonhos teus,
das noites, dos pensares e dos teus passos,
dos sentidos que te fazem falar sobre o dia amanhã,
do dom que tem em você e que ensinou milhões de coisas.

quero me encontrar em mudanças
e cores suas,
quero me ver nos seus versos corporais
que fazem o vento cheio do teu cheiro,
e quando este chega em mim me sinto cheio.

digo, o amor

sinto meu mundo mais mundo
quando teus passos puxam minha força
e me faz andar.

quando a folia de teu sorriso
preenche o calor que tenho em mim
e me sinto livre pra sonhar.

certamente tudo cresceu
e absorveu todo meu eu e te deu,
e sem o teu eu não há o amar.

tenho em mim que me aprendi em você,
tenho sim, e sei da alegria,
do seu bom olhar.

é um sonho, renovado todos dias,
que me faz feliz e me comove
e me move, às nove ou de madrugada,
onde for,
me muda o pensar,
só de ver teu dançar.

tristeza, sente-se comigo na mesa de bar

sem pedir licença de entrar ou ficar,
sinta-se à vontade, te deixo me apossar
em teu colo,
em teu choro
que escorre no meu rosto.
deixo teu corpo,
que é minha lágrima e minha vergonha mal sentida.

não faz diferença se pode ou não ser minha agora,
pois já me faço de você há algum tempo
e não há como te apagar tão rapidamente.

rode teus olhos de sangue em torno dos meus,
me deixe te enxergar
e te entender, me deixe.

todas noites que te acolhem aqui ao lado,
espero que se esfriem cada vez mais,
espero que te consumam inteiramente,
mas por ora, tu és minha morada.

segunda-feira, novembro 22

é preciso regar

doce clarão do meu mar,
que chegou por entre essas entranhas tortas:
suga meu sentimento,
que é sincero e costura esse sorriso em mim.

voe mais perto,
que nos fazemos mais seguros
e há uma ou duas mãos para nos segurarmos,
pois não há o cair, em nós.

quero que tenha um lugar
para mim e meus eus em teu amor,
quero que me faça novamente seu

e sendo como digo,
haverá muito mais flores em nosso jardim,
e em nosso poema,
estrategicamente versado
te darei todos os botões que quiser plantar,
te darei um buquê de amor.

sexta-feira, novembro 19

renascimento

acendam todas as velas,
que se transformou em real
o sonho que foi tanto contado
e tanto sangrado.

acendam bem minha cara,
que se sorriu e sentiu o vento
do acreditar.
que perdurou antiga durante
tanto tempo,
mas agora se refaz em certeza.

eu sei de mim,
como voo e como vou,
como ando por essas águas,
sei do que faço e do que laço.
e sei que sei.
não fico mais inventando novas verdades.

terça-feira, novembro 16

haikai pandeiro

você é samba,
rodado e florido,
como vestido de domingo à tarde.

só com tempo isso se desfaz

meus prazeres,
frutos de gentis demônios,
bateram à porta da rua hoje.

fiquei só.
e só fiquei assim, não houve
uma palavra se quer.

foi momento
de um estrondoso silêncio,
de um breu de fala,
e eu prefiro ficar assim.

o sol recusou a iluminar,
e só eu, só eu,
ouvia essa descoloração da mente.

e quantos ouvidos teram eles que ter
para me ouvir
e saber que sou eu,
do maneira como me conceberam,
da forma e sentido que me colocaram aqui.
não há alguém invadindo meu quarto,
e me tomando.

sonho com as belezas que nos faziam,
e espero, só, o orgulho.

na lua de teus olhos

faça de teu presente o teu palco,
que diretamente o sol oscula em tua face
e me mostra teu dançar,
me desnorteia dos certos e corretos
e abre meus olhos em sincero olhar.

é um brilho, quase que eterno.
e terno, macio e sofisticado de teu olhar.
amar é que torna mais difícil o esquecer
que no dia de ontem foi desejo nosso,
e hoje é apagado, como se não existisse.

faça de meu palco, o teu,
e mostrarei a você, que consigo te acompanhar,
que dançar não é só dos pés,
é da alma, do amor.
digo da dança de nosso sentidos,
da harmonia de nossos seres.

é teu olhar,
confortável e silencioso,
que escolho como minhas lentes,
como meu meio de ver.

e se quiser, te dou o meu.

quinta-feira, novembro 11

amanhã

olho o verso
que te acompanha.
ele, ou sua farta essência
geram uma breve combustão
que sabe de cor
como me por a frente.

me sabe bem
e sempre canta essas canções
ora tristes, ora facilitadas pelo riso,
que me carrega até um abraço teu.

olho o verso,
que para mim é luz,
e fico meio descoberto
meio nu no meio de palavras
que não tendem a acabar,
palavras (repetidas) que preenchem algumas
de minhas telas amorosas...
e algumas delas são como sol,
morno e confortável.

e, desta vez,
me dizem onde ir à noite,
que é sua agora
e que se vira, no próximo dia,
em colo e calor.

calem as palmas

fuja as mãos uma das outras,
estas peles marcadas e sofridas
que cultivam a dor
que te esfrega os olhos.

deixe de lado todo o amor
que não te acompanha mais
em mesas e conversas,
apague a brasa que outrora
te acendeu nas idéias
os fogos de uma outra paixão.

mazelas te fazem agora,
esqueça de hipocrisias falsas
que não te abandonam!
solte, e deixe ir, tudo.
mas, longe de seu calor
longe de suas vontades.

e a pelejante certeza
nunca vai ser sua,
vai ser o vazio e o pensar e pesar.

na verdade,
não há sorriso e telas coloridas,
não essa beleza verdadeira...
pertubantemente, não há.
é nua e crua
a vida que se faz de solidão.

é só uma questão de tempo

sabida dor,
o que verso a ti,
quando a lógica de meus fundidos pensamentos
se abre e desabrocha
em finos verbetes de amor
dor ou riso,
não é mais que sincero
ou
profundamente querido...

me ouça,
o que rogo
e que sou.

deixe-me no calor de vosso olhar
e na fissura de teu término,

sobrevivo, por ora, afundado em ti.
merecendo
e
tecendo minhas verdades
com linhas finas
que com o passar de vários sóis
acha seu fim

quarta-feira, novembro 10

é bom cair nos risos do amor

percebi quando o chão sob os pés
pareciam tão leves, que estavam aptos a sair voando,
e saíam.
minhas pernas se elevavam, e pairavam pelo meu andar.

os pesares, a mim, não atrapalham,
apesar de serem o revés do sentimento,
talvez me dão forças e versos apaixonados.
é só uma questão de mera paciência,
que com o amor, naturalmente
nossas notas se harmonizam
e uma melodia se abre num começo belo.

quando menos se espera, tudo se reverbera,
e se faz esse mundo nosso,
que me reflete na feição
a sinceridade do apelo e da paixão.

meus ditos e escritos beiram seu quarto
e se você quiser,
é só abrir a janela que eles te abraçam,
e tão cedo não te largam,
não te fazem temer a perda.

e, além do abraço,
eles se tornam teu pão e teu sorriso,
e mesmo que não tenha visto,
por ora eu tento dar o nosso laço.

segunda-feira, novembro 8

pardon adoniran

bem vinda, alegria!
demoraste, alegria
você veio hoje me ver
e eu já estava meio só,
de não estar com você,
por tão grande tempo.

se chegue, alegria,
sente-se comigo,
aqui na mesa do bar,
e seja meu copo,
e me dê seu sorriso,
que é pra eu abraçar,
gritar de alegria,
alegria de amar.

domingo, novembro 7

pequeno amor

o tímido padre nosso
que vazava por entre seus lábios
conturbava as vossas senhoras,
que afinadamente sabiam suas preces.

e da timidez,
seu olho passava para o pequeno vulcão,
inquieto e vermelho.
talvez vestido de paz para a ocasião,
mas por dentro se pulava todo, enérgico.

arrancava sorrisos até de quem não devia,
e o choro de alguns se fundiam com essa alegria,
transformando o ar.

é como se não existisse,
coisa mais preciosa e brilhante.
um pequenino sorriso que libera cores
e milhares de amores.

segunda-feira, novembro 1

tu és samba

prenho de razão e
decidido em meus pés,
canto meus versos pra um só corpo,
e danço o tango.

e, além do tango,
vejo nos olhos redondilhos
o samba que és.
e me encanto com seu andar de pandeiro.

quinta-feira, outubro 28

sombra

sonho com belas sombras
maravilhadas com a indecência da luz,
chegando e derramando o ver, a visão.

são da essência de acordes luminosos,
de asas fototrópicas e frequências abastadas.
são conjuntos de corpos parados,
que em sutis movimentos mudam a vida de suas fomas,
transformando o amor do abraço negro,
num vazio de luz e cores e profundidades.

sonho com belas sombras,
que quebram a claridade
com seus desenhos unidimensionais.

dois

mil olhos
entornados de sentidos
e sensações.
rúbricas solidamente pláticas,
donde saem vivos
                   mortos
                   cores
                   marasmos.
donde filam os cérebros
e os fazem esfumaçar
de lágrimas, arrepios,
e é só.

matadouros ignorantes
das pelúcias vazias que andam,
que em seu próprio sarro
caem na escada da ironia.
            mil olhos!
            mil sentidos novos
            e iluminantes.

nova era antiga

um velho começo de era
inicia-se novamente,
borbulhando com a paixão
que por tempos salgou
as faces do vazio.

uma velha janela
aberta como se pela primeira vez
visse o sol iluminando frases,
apagando pesares da solidão
e tecendo em ar e riso
o aperto que nasce feliz.

mas com uma fina singularidade.
vejo nossos pés costurando
outro caminhos,
corresto ao ver alheiro, e
sadio ao nosso amor.

terça-feira, outubro 26

um céu (de)novo

meu corpo na cruz de olhares,
ausência de normalidade
me deixa sorrir levemente.

moralidades esquecidas e talvez
um altar de saudades canonizadas,
veleiros de vidas outrora vazias
que agora se fundem por mil amores
e recheadas se tornam novamente.

salvando meu eu,
e alisando a prontidão de desejos e
decisões repentinas, tomadas por verdadeiro querer.

suas mãos de fazer tudo ir à vida,
mãos de apego, de sóbrio e desfumaçado amor.

passado novo

volto aos palcos de meia luz,
sem cenários, mas assim, cheios.
e a liberdade e esperteza das palavras
estranhamente continuam as mesmas.

sinto cheiro novamente,
sinto leve meus pés e meus lábios.

como se tivesse dado à luz
a esse sentimento novamente.
é um abraço, terno e quente.
lento e intenso,
repleto de manias e sorrisos.

quinta-feira, outubro 21

fedão

um brilho de olhar que me brilha quase em todos os luares,
lembrança de vagas memórias, poucas e ricas.

de rosto redondo e óculos,
é o abraço que queria sentir nas horas atuais,
nas verdades que frago por hora.

fluiriam infinitas conversas,
que antes mesmo de existirem
foram apagas pelo derrame de células,
pelo ínfimo adoecer.

um brilho que vejo
que anseio
talvez, morrer logo pra ver de perto.
capitão desses pensamentos meus, que vão e voltam.

terça-feira, outubro 19

quando vejo o sol pousando

se canonizar meu ínfimo coração é desejo de sua mente,
escolha nossos passos sem checar seu altar particular
e nos deixe no caos dos juntos olhos - é normal.

meu desapego de mil outras vidas possíveis não se confunde
com esse sorriso meu que chamo de possível amor.
de onde estiver, salve meus(seus) versos,
e levo na mão fria, teu nome,
que brilha e não para.

meu apego não foge tão cedo desta trilha,
é quase um fardo, mas de pura boa vontade e abraços.

segunda-feira, outubro 18

sonho

corredores de animais,
estranhos anais de mal gosto,
pegam suas
pérolas e me enchem os saberes
e não vejo mais.

películas
de momentos, privados
por meu próprio escuro,
cabem em minha arte.

é colocar, na mesma mira,
a cabeça
o olho 
e o coração.

chuva

vem da luz,
que se difere dos dias sãos
na sutileza do brilho que esta causa no verde das folhas.

um brilho eterno,
fotografado no verde que vem dos caules.

e após o brilho,
saem estas gotas de cor,
roubando das folhas e do chão falido
o cheiro.

cai,
normal à nossos pés,
decepando bebedeiras
e juntando abraços
embaixo de panos de cobrir
e piscinas de olhares amados.

quarta-feira, outubro 13

minha noturna aparição

escondo meus olhos
na madrugada, no breu,
num copo.

tento deletar o sol por
períodos de solidez.
tento apagar o sol,
me enfiando na lua,
redondamente iluminante,
cativante.

é da lua, que sou.
sou filho e sombra.

escondo meus olhos
na madrugada,
no escuro,
de uma noite boa, ou
boteco soturno,
de madeira cheirosa,
ou em beijos de salamandras,
quentes e coloridas.

sexta-feira, outubro 8

faz zum-zum e mel

a madrugada de meus sonhos
terminou nesses velhos sambas,
rasteiros em meu quarto.

novos bronzeados de acordes,
padroeiros de minhas tardes vãs.
toquem sempre em meus discos,
e melhorem o molho de meu prato,
para eu batucar livremente.

quarta-feira, outubro 6

minha coroa de espinhos

os espinhos de fogo
que vagavam soltos por lá,
me enfeitiçaram de traição.
uma víbora de vestido azul
e de asas e olhos pintados.

corra,
pois teu corpo se aproxima da cova
se imagina como verme no chão.

estes epinhos
de derradeiro luar
esperam o sol sair
para secar e apodrecer minhas idéias.

morte

não é por medo
ou solidão;
não é de sede
e enem de fome;
não é com frio
ou calor;
não é só
nem acompanhado;
não é agora
nem depois;
não é de susto
ou surpresa;
não é aqui
ou lá.
é tudo, mesclado.

só sei que
é por desapego,
por despaixão
de alguém acima dos sonhos.

sei que é durante o tempo todo,
e não ontem, ou amanhã.

sei que é certeza e não surpresa.

não é por medo,
mas o é em sua essência,
é o medo da solidão, encrustado no vazio.

é a carne,
padecendo à outros poetas,
poetas da terra,
da melodia que é morrer.
é, realmente, ser parte de algo.
ser o chão de seus filhos.

terça-feira, outubro 5

amor

é uma peleja,
um doce vazio.
é, também, cheio, enorme.
e de seu vazio vaza um sol
alumiando dois rostos.
duas estátuas morinbundas de tanto se olharem,
no seu amar estático.

é uma quase morte.
de tão intenso que é.
que é mais,
que é tudo,
que é a vontade,
que é o susto,
que é o suor,
que é a bondade,
que é uma dor.

e como diriam?
-é uma daquelas que não se sente.

domingo, outubro 3

máquina

me calo os calos do falar,
afastando pontuais abraços
do não e do vazio.

isolo meus lábios,
saboreando sorrisos de anil.

e os beijos,
corredores de escuro
dança de cego,
arrastam e atrasam
o amor,
que como se fosse o último
me faz escapar.

um ele chegou diferente

é esse doce irmão,
que sem saber me enche os olhos.

enche as aventuras de meus sambas.
minha temporada do nada, rimas e outras mais.

me mande notícias boas,
de cartas ou mortes,
manhãs e botequins.

uma vida atoa,
gloriosa,
a minha,
que se torna um tanto sorridente
quando louca de acordes e olhos azuis.

sexta-feira, outubro 1

bondade

corre no meu sangue,
e com ele.
esse fogo de carinho.

fogo forte,
que em muitas vezes
me tropeça no ar
e faz meus olhos fecharem.
faz meus cílios
grudarem de dor
e lágrima.

me faz menos.
me faz ser menos.

quinta-feira, setembro 30

tela

cores,
mil cores quero
cores de anil
ou do céu
quero cores.
azul vermelho,
prédios, mar,
pés e peitos.
corpos.
ou boca.
quero cores de amor.

banhadas de sentimentos novos
quero cores
de sabores,
cores favoritas
quero cores.

quero conhece-las
saber seus passos,
para não me borrar novamente.

foda-se

quero me confortar
com outra dor.
esquecer desse velho pássaro.
chega!

que me encontrar em
outro corpo,
seja no fútil,
no mero egocentrismo
ou no balanço dos braços.

quero voar.
quero ensinar minhas asas bater.
quero amar
sem ao menos saber o nome
da cor favorita.
quero ser.

quero te afogar
na chuva fotográfica
que por ora nado,
e me sinto confortável.

arrancar-lhe as penas
com meu sorriso.

sim, sinto raiva,
mas o poema é sinceríssimo.

a vida é uma ópera e uma grande ópera

era o tempo da criação,
o qual esbanjava de intermitentes canções
no conservatório do céu.
as notas bailavam sobre as nuvens,
as faziam de palco
e mil arcanjos cantarolavam seus libretos abençoados.

era o tempo da criação,
e assim se sucedeu
a síntese de nosso chão,
do nosso beber,
da nossa razão,
do inferno
e da terra:

havia,
o que hoje se chama por fogo.
o mais afinado dentre os anjos.
o par da melodia,
a vida das dissonâncias,
o mestre do compasso.
porém, balbuciava suas melodias
pois das rebeldias e sorrisos era feito.

havia,
o que hoje se chama por Pai.
a santidade.
o senhor das letras,
 o par da grafia rimada.
que cansado com a preguiça
eliminou o fervente tenor
das notas do céu.

          II

naquela hora, o nada era tudo que havia.
era o nada e o tenor amaldiçoado,
embebido na furto do libreto do pai eterno.
eram agora o diabo, o libreto e o nada.
era só,
era nada.

virava a terra
sua partitura,
e seus pensamentos sustenidos
o erguiam ao céu.

          III

hove dia
no qual suas notas o caminharam ao céu.

houve dia
no qual foi ouvido.

- pinto aqui
nosso cume, Padre Eterno!
agrado aos ouvidos angelicais
lhe trago, letrado.

houve esse dia,
e nenhum outro que valesse a pena,
que valesse o queimar do inferno
.
houve esse tempo,
que parou, e congelado está.
afogado no brilho de mil olhos,
de mil asas.

e no tempo parado
os anjos tocam.
de seus arpejos
fluem a terra
a água
o ar.

e fazem de nós
suas notas
nessa ópera vital,
sem ensaios ou rodeios.

somos e seremos
embebidos na arte de outro alguém,
nos acordes das trombetas reais,
que dia após dia vão cerrando o soprar,
até acabar o fôlego,
e nos pintarem de negro e solidão

sábado, setembro 25

sou sol

minha carne é samba,
de batuque santíssimo,
e melodia insecável e
transcedental.

a jogo no mundo,
a par de olhos de lunetas,
viajando por meus mistérios.

sigo meu caminho
pelo ar.
malandro, da terra sugado.

sexta-feira, setembro 24

saga verde

uma vez de floresta,
vesti minhas logradas saudades.

fiz de plantas e planaltos,
meus meros sonhos.
esperei germinar a falta de sono
e acordei junto do sol.
-junto do rei,
se nascendo todo orgulhoso perante mil olhos.

uma vez,
vesti-me de floresta,
de bulbo e sangue.

fiz meus rios,
de plantas mal colhidas.

quarta-feira, setembro 22

desejos talvez desejados

queremos saber:
o que voa no vento de dissonantes desejos?
o que bate as asas de sonhos maltrapilhos?

quero ir junto,
terminar de rasgar suas poucas roupas,
acabar com tua sujeira.

quero acordar,
da sarjeta romântica
passar pro viver sóbrio,
melhorar da ebriedade de teu corpo.

segunda-feira, setembro 20

eu tenho medo de chuva

tiros flácidos de vida
invadem as frestas da janela,
e me fazem encolher o rosto.

me dão, com o rouco trovão
o medo que aparece.

fazem o novo céu,
outrora liso de azul e pluma,
agora riscado e rasgado por cortes acesos,
pelejas de luz entre as estrelas.

tenho medo da chuva,
da feia água que apaga as estrelas,
e fica gritando na minha janela,
me impedindo da lua.

quinta-feira, setembro 16

derradeiro fim de tarde, de noite, de vida

estava caminhando,
leve, e claro.

hoje, parei.

senti minha pele queimando,
de raiva,
de dor,
de saudade.

não havia água que cessasse a chama,
que lhe arrancasse da lenha a brasa.

[ o fogo, é feito do rancor,
da raiva que lhe foi passada!
realmente por erro de crianças,
por omissões de outras marés.!
e no rancor vai padecer,
vai ficar].

não havia água
para lhe refrescar a feição de inferno,
para lhe matar a sede do ódio.

           II
rego meu fogo com sinceridade plena,
abastada por um só erro,
que foi a tônica dos fins,
a gota transbordante do cálice.
um só errar,
que vez ventos tremerem todos os sentidos,
e virar os olhos em rubro desgostar!

sou, fielmente, fruto de sinceros dizeres,
de versos serenos.
- nunca faria mal a minhas próprias prisões,
nunca sangraria os olhos do pavão.

olho, com olhos de céu,
os andares do calor, da tentação,
e os vejo vagar pra longe,
de mãos dadas com sua angústia.

talvez gerada por mim,
mas sem a minúscula intenção,
sem o menor intento de correr lágrimas.

o vejo, batendo asas de cera,
que se desse jeito continuarem,
derreteram logo.
- e darás de peito ao chão.

peço, jogando-lhe um pouco mais de lenha,
para aguçar os ouvidos nervosos,
que na calma seja mais sutil.
-voando seus pensamentos para a ventania de paz.

ao menos, almeje,
ser sóbria de ódio e raiva.
transpareça os olhos por segundos!

- são o que basta para lhe chegar
o vento que te falará por mim,
que te dará a minha sã palavra,
a minha verdadeira paixão.

                 III

hoje, eu parei.
parei e vi o horizonte vermelho.
vi com medo,
com rios nos pomos!

vi as trombetas do inferno soarem como trovão!
vi o céu, rubro negro de dor.
eu vi.
eu vi.

queria que não fosse inverno no nosso tempo.
queria florir novos sorrisos em seu voar.

queria pintar com meu infanto bater de asas,
mil obras de amor em teu leito.
queria muito,
muitas cores invadindo-lhe a cara.

que lhe apagar da sombra.

pois admito meus erros,
e mesmo assim sendo,
não vejo nenhum sorriso,
nenhum abraço voando à mim.

sou fruto da verdade,
da verdade das manhãs de limpo sol,
de brilhoso céu.

bairro preto e branco

bairro sujo,
de vielas tortas de sangue,
calhadas calçadas de passeio mal andado, mal singrados.

queria garimpar minhas próprias ruas,
descobrir em minhas entranhas
o calor das cores que tanto pintei.

o cheiro dos mil alveolos queimados em minhas sombras.

quarta-feira, setembro 15

onomatopéia carinhosa

o imenso sol que vazou,
de um simples apertar de cabelos,
foi suficiente,
e regou belos botões.

onomatopéias carinhosas,
combinadas à um franzir de rosto,
e uma voz afinada. bela.

que perdure dentre
as erupções de meu viver.
que perdure,
com seus braços longos e desajeitados.

terça-feira, setembro 14

poema escrito numa tarde de domingo

peço desculpas.
peço, por usar do fogo mais uma vez.
mas a poesia é inevitável.
é vital.

morro ao saber do fim da chama.
vejo o cerrar de meus cílios nitidamente,
todos ele grudados por lágrimas
e saudades.

esse é o fim,
esse é o fim, linda amiga.
lindo pássaro.

me enterro junto
às minhas palavras...
agora, serei um outro alguém,
borrado como esta tinta que borra as letras e seus sentidos,
vazio como céu sem nuvens.

serei só, e somente só, as cinzas de seu olhar.

mas, saiba,
continuo voando baixo,
por perto,
na falsa ilusão de caçar abraços.

areia molhada

aquele sonho
de encontrar alguém ao mar;
sonho de infinitas soluções
mas de poesia impossível!

o mar me soa diferente,
me arboriza simples emoções
mas continua impassível.

continua sendo
como a curva do oceano, que meus olhos
impedidos da vontade
vêem no horizonte.

é uma sutil ironia,
que um banco de areia
me dá por litros d'água.

saudade dos tempos

a saudade é
um terno pesar de
cheiros e toques.

os quais vamos
encaixando nos olhares
e assim aprendendo amar mais
essas vítimas do tempo.

é vontade,
alegria da distância
e deveras dolorido.

mas trabalha como uma exclamação,
afirmando aos gritos
a falta que um abraço faz.

domingo, setembro 12

os olhos do sol

o sentido que vaza do sol,
já não é o mesmo.
não vejo suas labaredas me alcançarem;
não sinto o calor me queimar as falas e palavras.

voe!
mas voe pra longe!

deixe só a saudade,
e amizade quente.

esqueça o amor ardente.
deixe as mãos dadas,
que assim
ficamos mais confortáveis.

sexta-feira, setembro 3

[mas antes...]

na atual conjuntura
me deparo com uma muralha.
de fogo e amor.

trepidante e quente.
amiga e amor.
presente maior que quero ganhar em todas primaveras.
POR MOTIVOS MAIORES QUE EU, NÃO POSTAREI DURANTE ESSA SEMANA QUE CHEGA.
ESTAREI VIAJANDO.
CONTUDO, VAI QUE CAI UM COMPUTADOR DO SOL BAIANO E PREGUIÇOSO DE PORTO SEGURO!

quinta-feira, setembro 2

hoje é dia do crisântemo

hoje é dia,
cultivarei minusciosamente meu jardim azul.

meus belos pés de sorrisos,
que chegam por um abraço ou beijo, enfim.

culminam versos estritamente sinceros
e adubam uma horta de malícias e beldades coloridas.

poema cafona

o amanhã nos dará noite bela,
sorte bela
e cuidadoso amor.

um sutil olhar dos céus
desenhará novamente todas as estrelas
outrora apagadas por feias fumaças.

quarta-feira, setembro 1

poema

mirante maltratado
mais maléfico mortal!
machuca mil meninos
mudando minha mera maldição.
me magoa magistralmente
maliciando minúcias maravilhosas.

mastro maior:
morra! mundo merda!

olho por olho o mundo acabará cego

o mundo cego que nos olha!
essa é a problemática matéria,
a viva ilusão que nos dá a falsa realidade
das ruas,
chuvas
cães e pessoas.

a maravilha dos amores,
a qual é acorrentada em poucos sábios,
em ímpares bem vividos,
deveria ser tônica em nossos dizeres.

terça-feira, agosto 31

haikai amor

ouço um vento,
corre à mim, e me sequestra.
é amor.

sou mais que você

eu sou o preto e o branco da memória,
as dádivas dos teus pensares que vagam por outros ares;

te atento os olhos
para meus dizeres
e te furto dos sonhos nos quais se perde.

sou tua razão,
e teu ser.


o cheiro que você esquece em mil becos,
becos bêbados, sujos e verdes.
a roupa que deixa em palcos maltratado,
por teu duro drama de viver,
pelo seu pisar de pedra.

sou teu medo,
e teu corpo.

as vontades sem controle
que te estremecem os olhos
e fazem lágrimas em suas infinitas faces.

segunda-feira, agosto 30

levai as almas para o fogo do inferno

consiste numa perambulante metamorfose,
numa cor de sol e dois fundos olhares.

recheada da arte,
e da ave que te caminha as costas;

do gostoso querer e curioso sorrir
se faz o gesto mais singelo.
que em sua tez aflora a paixão
e o gozar de felicidade.


muda aflição do olhar,
que gera nenhuma palavra
senão os desejos meus,
que tanto atormentam e tremem a paz que te consola.

é o bater das asas,
e o queimar do nome
que me arrebenta os deveres,
que me cuida quando preciso,
e me esquenta.

sábado, agosto 28

linha,
que caminharei sobre,
rogo-te para assim continuar,
sem surtos ou abalos.
livre de sedes de insanidade
e paupérrimas indecisões.

não pisarei à frente
antes do tempo que tenho,
mas podemos amar
na luz da vontade,
no colher dos sorrisos.

quarta-feira, agosto 25

saber é pura luz

saberá a vida, negar o que passa?

amamentar falsos falecidos anagramas
seria mera opção de devaneios tolos.
pura rouquidão do intelecto balbucioso.

saberá a vida, negar o que passa?

apedrejar o ar não leva a lugar nenhum
se teus punhos se cerram junto da dor,
calhando o saber da divina podridão.

saberá a vida, negar o que passa?

são palhaços

quero de novo seus dois pedaços de noite
fitando vagamente meu tímido andar.
quero o cheiro, as curvas, o riso.

quero matar a vontade
de ser menos oblíquo.

preciso de discos novos

não me esqueci do velho samba,
que outrora me invadia a cara,
e como vento bagunçava meu cabelo.

não desejei mal nenhum,
e nenhum mal tentei cometer,
contudo, e mais um pouco, o disco arranhou,
e agora não há como eu consertar.

terça-feira, agosto 24

feche com força

abra a mão
e assim a ternura lhe toca a pele,
lhe dá um pouco de maciez
e te abre pro amor.

sinta o chão
e no fim, feche a mão.
guarde o macio em sua tez
e sinta,
sinta você mesmo.
mergulhe teus olhos para o outro lado,
para o outro lado de seu corpo
e se veja por inteira.

nunca abra a mão.

cinco versos para sentir saudade

a saudade sabe apertar o peito;
amarga a alma quando de sepulcro se faz,
e ao mesmo tempo,
pode florir um sorriso de amor se sua essência
for a mais pura gratidão.

pode rasgar as pétalas da flor mais predileta,
destruindo abraços e apelos.
pode deixar em pó um mero beijo,
e fazer sãs atitudes se virarem em vermelho sangue,
em uma alma vazia, perdida.

pode, também, trocar os míudos da indecisão.
pode aumentar o amor de um simples olhar,
e tornar vivo o sentimento que falta,
o corpo que falta.

torna vivo o presente que não existe,
teletransporta ao lado mais próximo
queridos lábios ou risadas.

e faz,
como maestro impecável,
gotas escorrerem ao longo da face.
consegue reger,
nota a nota, a solidão.

tu és o vazio que enche meu quarto

eu vejo uma nova sentença,
uma nova crença ao meu lado.
crianças cafonas que pairam no parque,
dizendo, com sotaque de amor, à lua,
que esta deveria roubá-los.

são dois.
como um só.
colados.
e o amor estica junto de suas peles
se não estão pertos. mas não arrenbenta, não estoura.
não admite a solidão.

na minha solidão,
faco-te o escuro e o vazio.
te materializo
a partir do que não está presente,
a partir da falta de carne.
e pego tua mão,
e não solto.

segunda-feira, agosto 23

nove haikais para voar

voar é ir mais além das vontades,
é perder de vista o amor querido
e dançar em outros palcos.

fui para floresta, atrás de lenha

vejo só de tengente
pássaro maior que eu voando para longe.
se conformando com o presente doído.

hoje foi um dia sofrido,
doído no vermelho do sentimento
amargo de saudade.

quero ser herege
e morrer como bruxa,
para ter o fogo me abraçando,
me sentindo gritar,
me alisando o corpo.

domingo, agosto 22

continuo aqui até que seja assim

até que meus ouvidos sequem,
que minha pele esgote
que meus olhos cansem
e
que minhas mãos doam.

estarei colado à tinta.

sábado, agosto 21

não chores, mãe

é como não saber mais nada, às vezes:
esse choque que destrói teu e meu sorriso.

é soco na cara e um tapa na sua.
e nos matamos por um pouco de lágrima.

apesar dos pesares,
não apaga o amor e nem mancha o carinho,
mas por alguns minutos deixa tudo escuro.

sexta-feira, agosto 20

a vida é de palavras

volta teu verbo à carne,
o faça membro de tua sede.
arraste-o pelos olhos
através de toda tua mais favorita sala.

toque todas tuas notas,
e o faça seguimento de tua melodia,
de teus sentimentos.

quinta-feira, agosto 19

vá, ó, grande fluente

corre,
         enquanto teus filhos vão te singrando,
         enquanto teus assassinos te robam as crias.

foge,
        até encontrar com o azul grandioso,
        até poder se misturar com mil outras vidas.

meus óculos quebraram

minha vista entorta em mil formas
e vejo avante um mundo diferente,

vejo por minhas esféricas portas
que atrás de hoje
fica só a essência,
só o rastro.

me incomoda um pouco
- acordar pro real - mas
não os vejo concertados
num breve futuro.

prefiro doer a visão
a não saber onde vou bem ao certo.

quarta-feira, agosto 18

espero o momento

não quero a ilusão
lhe tocando a feição,
pintando-lhe a cara de rubra vergonha.

lhe deixando sem norte;
deixando teu leve desfilar, tímido.

exprimindo à mim
gaguejadas palavras,
difíceis expressões apaixonadas.

te deixo livre.
você é quem sabe a hora certa.

haikai saudoso

um eco sábio da vida,
anda ao meu lado.
gosto de chamá-lo de saudade

olhe pelo olho mágico e verás

um momento estático ao vento.
parado e pairando em pedaço de papel.

que tradz mil olhos e sóis exatos em tuas cores.

reprimie milhares de segundos
que sobrevoam lentes e complicações mentais.

um momento fúnebre
ou singelo sorriso,
imprimidos e reprimidos
em poucos centímetros
de cores e precisão

haikai do tiroteio

levei um tiro.
me furou os olhos da paixão
e tirou de mim a vista leve.

na quadrada dos sonhos

eu queria a porta aberta.
queria a vida leve e janela aberta.
queira voar e bordar com o meu nariz

e deixei minha vida por um triz,
quando meus sonhos se tornaram realidade.

olhe bem na caixa de correio

me sento,
para escrever história de velha e criança.
história de amor entre a poesia e fogo puro

passo horas tentando fotografar em papel
todos singulares ápices de rebelde amor.
só risco do roteiro meus deslizes joviais
e teu rancor idoso,
tuas asas que colhem o ódio da impulsividade que te roda.

[espero que o mesmo seja feito no inferno,
uso água para apagar nossa desgraça, nossa.
e não para meu desejo ímpar,
não para meu próprio sorriso].

escolho um belo pacote,
florido de paixões e versos escritos em quatro luas,
e recheio este de sinceridade e saudade.

segunda-feira, agosto 16

sinto-te chegar

me virei quando vi som entrando pelo quarto
junto de um característico cheiro seu de dias atrás.

junto de um caminhar ímpar,
dum sorriso novo,
de vergonhas
e medos.

estava com frio.
colhi sua cabeça entre meus braços
e te afaguei até o sono vir junto.

vejo meu corpo voando longe

hoje acordei com meu balde intelectual meio desvairado,
solentemente desviado para alguns lados de solidão preto e branca.

um canto, como foto, cheia de momentos imprimidos numa destilada árvore.

vi meus pés me guiarem por entre cores desconhecidas,
e por entre arrependimentos que meus ouvidos jamais escutaram.
me puxavam forte como vento de chuva,
como maré quando meus deuses se rebelam.

senti meus ventos irem de encontro com os da maré,
e estes, mais fortes, me empurraram para outro desvio.

porém, no mesmo curso,
continuei singrando,
e estou acolá até agora.
só ficou meu cheiro.

floral haikai número dois

aqui em casa,
no meu sóbrio jardim,
há flores que falam. pensam e refletem.

insólito poema

não quero o rancor
lhe vazando pelas palavras;
lhe corroendo as mil peles
e infinitas cores que tens.

disse para voar, sim.
mas pedi pelo bem,
pedi para que o futuro que corria à nós
não nos cortasse penas e amores.

disse, sim, rude.
mas não quero o orgulho te atordoando as ventas.

não sou covarde,
sou pequena ave,
lecionada por uma outra maior,
de penacho colorido e esfumaçado.

quero que fiquem os voos longos,
as caçadas pela liberdade.

quarta-feira, agosto 11

tu és filha do solo falido

joga-te junto de tua mente absorta
ao lixo.
seja areia como teus sonhos de apêndices!

há algumas horas no dia
nas quais é belo o fato feneçer beirando a embriaguês.
há algumas horas no dia
nas quais o belo se curva frente ao feio

- e não digas que minto,
se não estaria afundada em tua própria hipocrisia banal,
pois, filha deste aterro, tu já és há tempos.
és a carne própria do mátire que és o chão.

testemunha dessa breve imundice que tenho,
mas que reina sobre vossa tez.

palavras repetidamente já ditas

são teus nomes,
que aqui dedico.
são por eles que afinco
minhas soberbas mentes no pairar do vendaval.

e no ar,
permaneço atento.
permanece teus ventos
e tuas majestosas ventas.

permaneço atento,
pois, dos que me vem,
seu cheiro é mal que não me atenta o lado ruim.

terça-feira, agosto 10

és amor, uma flor

nós flores, vos somos peso, ó, dado à vida única,
causamos aos teus periféricos uma inibida felicidade,
que escondem por pura fragilidade.

se desabrochamos no lugar correto,
somos dignas de transparecer o mais leve dos amores,
dentre todos que são desejados.

somo teus,
se quiserem

somos vocês mesmos,
se amarem à nós.

 [somos versos
de mãos dadas com a paixão].

amor de caminhão

há uma sombra aqui.
uma sombra, o amor.

cafona e risonho.

digo sombra, pois é privado à nós,
solamente nosso.

és da señora do inferno
e do filho da madre poesia.

nos pega em breu vermelho
e fotografa-nos o beijo.

és cafona e capota todos os versos ditos.

um sonho

coloquei meu olhos nos devidos lugares e, de fato,
sequei a àgua me escorria à face.

sonhos, nos quais calhavam o azul sentimento,
me sorriram a cara:

andei
sedento
por luz
e leveza,
e encontrei o que estremecia minhas vontades.

o achei
num bom sorriso, de leveza ímpar
e sábia paixão.

um pacote lunar

aceite a lua,
que de coração te dou.
aceite-a como aceitou à mim.
a tenha como quando sente frio
e me pede como lenha;
a tenha como quando sente calor
e me pede como frescor.

aceite-a de olhos cheios.
como me cabe quando sinto em mim
teu mel prazer.
aceite-a pois.

o luar me traz um pouco de orgulho,
e por hoje, é seu.

[quando a lua morrer,
espere que é porque o sol está vindo
te alumiar também,
iluminar teus amores] .

segunda-feira, agosto 9

[AUSENTE, ATÉ FLUIR NOVAMENTE]
(deve durar só um ou três dias de transtorno)

me dê um título

um ou dois mais versos,
parcos por natureza,
me calçaram hoje.

enfiaram meu corpo
em teus membros,
me apertaram em seus ventres.

me viro em carga pesada para suas letras,
me transformo em pequenos traços,
e curvas negras.
me transformo em sua própria forma,
em seus componentes literários.

fatiam meu corpo,
e viro estrofes de meu próprio poema.
e não sou um de amor.

canção para ver

versos rápidos,
belezas de paixão
que anoitecem a folha,
tomam conta do viver matutino.

maravilhas próprias
de viver, que somente
enaltecem a alma e envelhesse a cor.

caminhos a serem
pisados e desenhados,
montanhas de letras
e águas leves de amontoados de palavras
me chegam à cabeça, por hora
e enchem a cama de saber.

sexta noite

é como um teste,
que me abandona no princípio do clímax
e se junta após o gozo.
me confabula e estremece as idéias.
me faz bem.

e
de
repente
cai o chão,
junto de folhas e roupas.
como quase morte, apaga.
é intenso o frio
altamente vermelho.

reconstruo o piso e as árvores.

haikai do brilho

meus olhos brilham,
são verdades que me chegam.
espero que assim seja continuado.

pedra branca

estou, talvez
com as mãos geladas,
duras de pensar.

vejo que é.

é, pois, me sinto pedra.

é, pois, vejo.

é o que vejo,
que me gela o ser.
há, o que realemente se destina?
o que nos dá de amar
e nos ama quando sabemos dar?

há quem diga
as verdejantes verdades e não é glorificado
e

grosas de sujos burros,
abonados de sorrisos e paixão.

há uma guerra

há uma guerra
em mim.
uma batalha de sentidos,
de todos meus barões internos.

há uma guerra,
enfim.
em todos os cantos
há janelas se fechando,
há pedras e cabeças voando.

há uma guerra,
sem fim.
e ajusto neus olhos
para ver certo meus inimigos,
sinto medo de perder.
sinto medo em mim.

segue uma anotação que consta em meu moleskine nº 4

Acho que concretizar meus pensamentos
em textos e escritos, está ficando um tanto quanto
complicado.
Fica, cada vez mais, difícil arrancar de mim as idéias.
estou um pouco [ou muito] repetitivo. Massante.

sexta-feira, agosto 6

haikai fundido

flores e peles,
quando se encontram é poder.
e podendo elas fundem o sentimento de viver.

quinta-feira, agosto 5

canção para a verdade

a verdade é mais que a palavra dita,
é leveza impressa na tua essência
com tinta dura das nuvens,
cinza do céu.

é a feria que custa a abrir.
é difícil e burocrático ser verdadeiro.
é a mais pura melodia que pode transparecer
à teus gostos.

a verdade,
a mesma que te encolhe à pó,
é a que te leva ao sol.
é a mesma que te guia por entre
bosques de ferro,
por selvas de sangrento mistério.
é seu ópio, e o cheiro das palavras.

são belos, os beijos teus

são bicos de mel,
no doce da boca que te fazem tão assim.
são todos os melados,
todos os beijos, que te dão o dom da vontade.

se não forem por estes,
me entrego ao mar e vou pra lá.
se não forem estes,
teus belos motivos,
corro pra longe e não te vejo mais.

loja de doces

sou nada,
sempre serei esse pouco,
não posso desejar ser mais
à parte disso, sou sonho de todos do mundo


filhos do meu quarto,
de meu próprio quarto que ninguém ousa saber qual é
(e se soubessem, o de importante eu seria?)
dais para suas sabedorias, cruzadas constantemente por pessoas estranhas,
para um sonho inacessível a todos que te rodam .

[pardon à pessoa - senti comichar minhas vontades por ti.]

tem abelhas no meu banheiro

talvez idéias versadas
estejam se tornando repetitivas, batidas.
clichês de meu próprio abandono.

disso eu realmente tenho medo,
de que elas partam de minha cabeça
e pousem sobre outros lugares, outros intelectos.

queria que me transportassem por anos,
por tempo que caber à luz me vigiar,
por lugares que caber ao pé me levar,
por frases que caber à mão escrever.

sei, pois, que posso ser mero reflexo,
rápido e passageiro, que expira num piscar dos cílios
que evapora na mesma rapidez com a qual vieram esses versos.
sei que esse pode ser o úlitmo degrau, que minha idéia há de pisar.

quarta-feira, agosto 4

haikai do abandono

ouço passos,
ao longe, ouço que estão vindo à mim.
quando chegarem, talvez por medo, eu não esteja aqui.

juntas, as virgens terras

as terras estão voando novamente.
elas passaram por aqui e acolá, dizendo frases infinitas.

cheias de sabor e palavriado complicado,
confundindo todas as mentes que pisavam.

- foi ai, que uma delas, me olhando, resolveu
colocar virgulas em sua vida.
transviar seus passos em capítulos.

resolveu descer à nós.


já no caminho, deparou-se com o anil gigante.
com o mostruoso amor, que tem por nome céu.

mostrei à ela mil aconchegos,
dezenas de beijos,
grosas de amor
e centenas de seres oblíquos na vida.

dei à ela sabedoria de ser,
de perceber o que lhe é confortável,
de conseguir vestir a palavra certa.

vejo na luz de seus olhos a arte do sentimento

corro, se não te faço jovial novamente,
se não consigo apagar os anos, corra.

fuja, já que não criamos essa máquina do tempo,
que nos apaga das diferenças e nos coloca
no estado verossímil que é a paixão.

congele teus seres interiores durante algumas primaveras
e se deixe florir quando meus frutos amadurecerem.

espere, e ganhe o sol do próximo ano,
espere que a lua vem e te pega,
prum passeio vermelho, inundado de cores e dissonâncias.
repleto de caminhos grandiosos.
de amores calorosos,
de diversas estâncias,
de pequenas distâncias.

crie um enxame de traços e versos,
sorrisos cobertos, cobertos de abraços e mais sorrisos,
e risos magistrais.

cante sua dança num palco vizinho,
para que eu possa escutar nítido.
mostre suas belas penas em seu vôo vital.

digo, convicto, que espero o sol nascer de novo,
e espero a terra girar por mais longas primaveras.
e peço que não voe para longe, durante esta gestação sentimental.

houveram dias de negro mar

houveram flores nas quais os tolos se apoiavam,
faziam-nas cama para seus desagrados, colo para seus consolos tolos.
houveram flores nas quais os tolos se gabavam de amor,
faziam-nas beijo para seus lábios, e dorso para seus desejos tolos.
hoveram flores.

houve dia, no qual fui tolo, ao ponto de ver de perto a floração antiga,
fiz das minhas lâmpadas, florescas divagações.
houve dia, quando pequei sob a constelação,
que nada me vinha de agrado, nada me abraçava ternamente,
tudo que tocava, me repelia como sangue à boca,
me cremava como cadáver passado,
tudo que me chegava era de horror, era de tensão.
eram crianças moribundas, dúbias na essência, sangrentas.
me cortavam todos os sentidos com um olhar cinzento,
com uma só palavra.

há, agora, dia, no qual me falo sobre outras primaveras.
falo só, sobre toda minha vã soturnidade,
sobre o sangue que já me escorrera no rosto,
sobre o amor que deixei divagar sobre os negros pântanos da desgraça,
minha alma velha suplica para que esses dias reinem sobre mim,
que façam de mim seu leito e tapete, seu caminho real,
que faça de meus versos, suas asas;
de meu olhos, suas mãos, para alcançar o corte da noite.
de meus sentidos, suas palavras,
tomara que os peguem pela raiz e levem para outros sóis.

terça-feira, agosto 3

sou outono

vou deixar
o sonho navegar por onde for.

plantar e colher seus condimentos,
crescer às suas próprias custas.

rir sozinho do seu próprio veneno.
rir sozinho de sua própria lua.

vou deixar,
o sonho.

vou acordar,
no outono,
floriando o vento e meus membros,
em meu eu,
em meus olhos.

e, vou, depois do cair das flores,
dormir novamente,
e ganhar minhas sementes.

medievalesco

ouvi os cavalos da rua,
que entraram compassados com a música,
em meu quarto.

vieram com mensagens molhadas de sangue,
mensagens de morte,
de despedida

- Adeus, ó, Cavaleiro.
vá-te com pena no lombo.

mas saiba que teus mortos,
te caçam.

cabelos curtos

vermelho de sol soturno,
que anda e vaga por pensamentos...
sinto-te aqui por completo,
vejo-te como rima de poema!
- sim, você cabe como tal.

uma rima riquissima,
um fino prato,
um forte perfume de calor.

sinto, pois,
seu êxtase termal
onde minha boca seca
e meus pés adormecem.

quando me sinto como pena,
quando me sinto digno.

desenho em seu apse,
meus versos sinceros,
que desde o princípio
te acompanharam por entre corredores transviados.

quando escuto o voar do beijo,
me choro as entranhas
e os internos pesares.

e eu ouviria qualquer coisa,
de seus lindos lábios,
ouviria a morte,
ouviria a vontade e a tristeza.
ouviria a saudade.

auto retrato completo

me vejo como sombra,
numa nuvem de fossas rurais,
onde trai meus queridos
e acidentei meus sentimentos

uma fogueira loira,
flamejante fênix,
onde guardei meus bens
e acabei por ter de esquecer,
acabei por expôr a carne viva à chama

culpado dos horrores,
dos sorrisos,
dos amores, das canções,
culpado por apagar o claro da soturnidade.

me sinto como a lenha
que é base da tortura quente,
minimizando, reduzindo os sonhos à cinzas cheiros.

me ouço gritar socorro
pelas ventas,
me sinto vento forte,
me toco com vergonha
e decepção

faço tudo isso,
pois sou filho da maldita carne,
vazio e mal rebocado.
pois ando ao lado dos demônios,
atrás da visão de paixão que tenho de minhas melhores.

segunda-feira, agosto 2

solidez noturna

boa noite,
tome-a como amiga.

deleite-se das estrelas que voam sobre ti.

tome-a como antiga,
antiga coberta, antiga história de criança.

saboreie teus sonhos,
pois sonhar é o melhor a se fazer agora.

tome-a como cantiga,
serena melodia de outras danças,
sem a dúbia incerteza de que esta irá acabar.

boa noite, ó, coagulante fervor,
boa noite para você,
carregue a noite em vosso ventre.
ela te pertence como o vermelho é para o amor,
como os lábios são para o beijo,

e não tema o bom dia de amanhã,
pois ele te trará seus sonhos
e te deixará livre, e solta.,
com o nacer lunar.

vi em frente, um belo nascer de frutos e flores

creio que foi pela manhã de penumbra,
onde eu andava de cabeça erguida,
e cigarro aceso.

acredito que sim.
e foi quando o apaguei
que fitei no além aquela doce melodia.

fazia imensos verões que não a sentia.
caminhou até meus ouvidos, lentamente
e arrombou bruscamente com sua leveza
meus pensamentos,
e guardou para si minhas próprias notas,
meus próprios versos.

quero que ela espere a primavera próxima,
e floreça em mim,
antes de ir embora,
para outros risos, e antes
de brotar em outras tantas a leveza que me deu.

tinta

ando por meus traços,
- digo, os do papel, dos incansáveis desenhos.
suas curvas finas e negras são abismos para mim.

curvas onde o, sempre presente, olho medieval
me acompanha numa fixação ortodoxal.
como se meu caminho fosse pro outro lado,
como se meus pés fossem mal guiados.

acredito que ele seja o tal medo,
a tal solidão.

sempre me fitando e em corroendo.

a cada gota negra,
sai de mim um pouco do céu noturno,
um pouco dos uivos e  das pequenas multilações.

tomara que minha caneta não cesse nunca.

misterioso sabor

o que é? que não alcanço quando me dilato todo?
que corre de meus ventos,
suga todo o caminho e se sopra pra outros amores!


poderia ser essa solidão que me encharca a cara,
que me embebeda as pupilas.

poderia, também, ser o escuro.
                                a dor.
                                o vazio.
                                a falta.
                                o horror.
                                a saudade.
                                o medo
                                a maldade.
poderia, qualquer um destes.
todos eles, meus condimentos,
matéria prima.

o tempo é mercúrio cromo

agora, voe livre. pinte o céu com teu vinho.
alimente outras crianças literárias,
pois tenho a verdade de que estas
serão enternamente gratas.

serão gatos em cima dum muro,
atrás de tubarões céticos,
correndo por leite,
levando seus passos à seus sonhos.

agora, peço perdão. cerrei teus olhos
e corri de teu seio, de teu leito.
deixei deitada a ave celeste,
com sua aura de mil cores,
com sua fumaça que fora, em mim, algema.
que me prendeu fortemente.
larguei fervendo seus olhos cegos.
comi de teu corpo e deixei no prato, tua essência cinzenta.
mas tenho a verdade de que não fora culpa minha.

apaguei a última chama;
abandonei a ave,
mas tenho a verdade, a mais pura das verdades,
de que ao menos uma pena, e um bocado de cinza estão registrados
em meus olhos,
absorvidos pelos meus sentidos.

sexta-feira, julho 30

bromélia

expresso minha indignação
quando por falta de intelecto,
subalternos nos acabam o verde da sala de estar.

como se fosse aula,
foi dito para que embebedasse de leve
nossas verdes folhas.

- mas não!
cirrose até cessar o sangue que flui pelos floemas.

vejo os prantos de minha superiora
que me afloram pequena raiva
- sentido tão vago em mim,
mas que brotou junto da desfloração da bromélia.

quinta-feira, julho 29

a difícil leveza de ser

bela magia de ser,
que tanto se deseja,
rogo-te, oro para que seja vizinha,
quem eu possa tomar um café à bela companhia,
seja um retrocesso fulminante,

[que pega fogo,
no amarelo da chama...
me evaporando pelo ar,
distribuindo minhas cinzas
junto ao vento.]

imploro que me seja leve,
leve ao meu ver,
ao meu sentir e tocar.

seja hormônio para meus olhos,
calor para meus demônios,
e pena de anjo quando eu
cessar a queimada.

mostre-me seu mago,
para que eu aprenda
como sintetizar outros truques,
outras novas magias.

outras novas lenhas
para queimar mais forte minh'alma;
meus sentidos.
fazer brotar deles glândulas de fogo.

arde, chama

quero tanto,
pois creio que ser
é vital:
é árvore de vida,
florida de amores.

não o ser de simplismente
estar vivo, em chamas...
mas o ser de saber viver,
de ser o fogo,
e não se afogar nele

deixe a porta aberta

reparo como os olhos,
são portas.
portas da percepção,
portal para a alma.
viela para o sorriso.

quando,
os que são como os meus
- sofridos pela natureza míope-
encontram transparentes lentes,
uma árvore torna-se árvore, e não borro verde,
pessoas são pessoas,
pássaros voam nítidos,
bocas se abrem sem chiado,
bochechas se coram,
crianças correm livres,
cordas vibram,
balanços pairam sob o ar.

há quem possua portas lacradas,
seladas,
escondidas das cores,
cortadas das flores.

me guie por suas estradas tortas

me torno pão
vinho e diversão
de meus versos.

prefiro assim,
quando sou guiado,
e não sou guia.
quando cerro os olhos
e versos me escrevem

prefiro assim
à me esforçar.

a fluidez
é sã e bela.
mais bela que a força,
que nalgumas horas
tive que usar, só para
mostrar minhas lágrimas

sou folha

escreva suas lágrimas
em meu pranto,
escorra teus olhos pelo canto
e deixe de lado as fogosas lástimas.

corra de encontro ao vento,
vá de cara ao medo
que te afronta quando sente
que estou ao lado.

mergulhe em nuvens brandas
de saber,
pintadas à mão
no azul escuro que és teu céu.

escreva seus risos em meus lábios,
e deixe-me corar seu rosto,
com um só suspiro.

quarta-feira, julho 28

meu sofá

sinto a maioria pensante,
a rua esburacada,
a desconstrução,
a timidez,
a espuma do café,
os números da bolsa,
o entendimento da hipocrisia.

sei que estão sentados aqui,
ao meu lado.

filha das cinzas

sempre que a importância
me invade, me sinto como estou.
cheio, gordo, fluente, sorriso.
mas hoje é diferente.

hoje me sinto no agreste,
no sertão morto,
na terra falida.

engolido por fênix,
brotada de meus próprios sonhos.
que me arranca a pele,
e me planta suado ao seu próprio sol sertanejo.
queimando meu corpo,
meu cérebro,
meu ser,
meu eu mais belo.
ser belo, que pode lhe ser útil.

mas,
quer fogo, mais fogo.
por ter vindo dele.
quer o calor lhe invadindo as ventas.

[não digo que isso me atrapalha, que faz mal,
ou que ao menos ligo...mas,
sou sincero].

pavão misterioso

umas imagens
me chegaram ontem.
duas delas, mais foscas que a própria vontade
de ser.

de onde vieram, não me contaram.
mas espero que seus perfumes sejam verdadeiros,
mesmo que descompassados.

uma delas é vontade,
e a outra pode, pode ser paixão.
e elas vêm do fogo e cinza.
para me borrar mais a visão.
para anestesiar minha mente e saliva.

terça-feira, julho 27

minha cadeira de dois lugares

onde vão?
quão longe deixam
papos e pingas e flores?

não sei onde,
mas os vejo indo.
não concluo se isto é bom,
ou ruim.
mas vejo.

desejo, talvez,
ir junto.

mas por hora, fico sentado
na companhia do cigarro
e dos óculos escuros.
do pó e da ave.

quarta-feira, julho 21

floral haikai

cresce rápido,
o marrom, o verde,
e logo depois a flor, seguida do fruto.

terça-feira, julho 20

me dê novamente meus sentidos

saliente medo,
que afronta meus lençóis,
vá-te pra fora,
pro frio e lua.

deixe-me apaziguar meu tempo,
serenar minha sobriedade.
peço-te que vá.

corra no mar,
que mora em ti,
nos teus olhos fundos e altos.
que vagam pelas minhas costas e vida.
peço-te que vá.

vá para sertões mais distantes,
mais remotos de pensamentos e sorrisos.
peço-te que vá.

peça de um jogo
perdido por mim,
és tu.
és tu, medo oblíquo.
remete à tudo e todos à minha volta.
peço-te que vá.

peço-te que me deixe livre,
leve,
peço espaço para ver,
cor para sorrir,
e sabor para sentir,
peço-te, humilde, meu ser.

logo pela manhã meus olhos cinzas

por que tão cedo?
por que descolo meus vãos,
logo pelo primeiro fio de sol?

formam-se vielas em meus olhos,
todas cheias de solidez mental e vigor de criança.

nos vãos,
o ar sopra duro e reto,
nem uma curva de devaneio e digressão se forma
por entre os mil amores.

são três dias corridos do mês,
e já jogam concreto em olhos meus,
para que essas ruelas se formem,
tão cedo, tão cedo.

segunda-feira, julho 19

poema amor

salvo o olhar,
amar é como água.
um serene pecado
que dá a partida do conviver
muta-se em calor, no suor
quase que religioso.

é como respirar,
transpirar o coração
pelos poros e palavras.
sangrar segundos de conforto;

dar, à quem for, rosados lábios,
não temendo o após,
não sofrendo os males públicos,
é ser,
é ver mais de perto
o cheiro do macio,
livre e leve.

quarta-feira, julho 14

bússola

o norte
está apontando pra cá.
e creio que ser feliz,
é aqui.

grito óptico

derramo meus olhos ao chão.
talvez doa como vampiro,
mas dor que me vem por hora,
emerge risos e noites de verão.

noites compridas de serenatas,
afinadas à sua viola.

eles rodam e rodam
sugando tudo que encontram.
pelas pupilas e cílios
vão entrando calor,
flor e bocas.

até saliva seca,
de mórbida ressaca da agonia.
ah, a  mística ressaca da vínicola.
pai e mãe de manhãs infinitas.

entram outros olhos, talvez.
e desses saem medos traduzidos,
ilusões metamorfoseadas em azul ou verde.

azul que é a cor do céu,
mar, pano, pavão, maria,
olhos seus, meus,
cor da urbe, da tela,
do ser, do viver.

verde que é.
e sendo,
recolhe meus olhos e me dá.

[pelo menos, agora,
terei recheio neles.
estão em erupção de sons e sentidos,
eles gritam.]

sopre quente em todos os lugares

és vento,
agarrado em galhos cansados.
vento que corre vespertino,
que corre o mar azul sempre que dá.

que corre o mar infinito verdejante.
vento de todos gostos,

és vento,
um señor tão bonito,
a tônica de versos do inverno.
vivo como a cor que,
com pincel, pintou em suas flores,
livre, tal qual a onda do sol,
que te barra em dois ou mais poemas.

me imagino em forma
desses galhos,
galhos que agarram seu ar,
seu mar. seu pincel de veredas indecifráveis,
vielas nas quais enxergo pouco,
e mesmo sendo cego à estas pequeninas manchas de realidade,
me perco ébriamente em seu soprar,
ó, vento.

terça-feira, julho 13

onde se encontra?

onde estou no mundo,
que cores não me guiam?
onde estou no tempo,
quando o sal já me arranca a pele?

será que não mais terei a sorte de viver?
a chance de sentir o cheiro do azul,
ou até mesmo o calor do fogo?

quaisquer vontades são nulas,
onde terra não vive mais,
onde o canto desafina,
e versos se sentem presos,
pois não conseguem dançar.

sexta-feira, julho 9

o nascer solar

a lua se despediu hoje,
me deu abraço fulgaz e saiu fina.

disse segurar mão versada,
disse-me segurar corpo quente,
disse-me que fica em pó,
ventando em minh'alma.

lembro de estar bela,
como cheiro de um velho lírio,
estagnado no tempo da orgia de amor.

como montanhas,
que cortam terra diante nossos olhos.
[aqui, as vemos, mas no horizonte elas somem, bem ali, de frente à crianças de barro]

é como se tivesse ido,
e deixado rastro  de linho azul,
me enfernizando alma faminta.

a mancha de céu
que desenhei por outras diversas horas
está brochando.

minas

sei que ele
é.

o céu de voz,
nuvem de mar doce flutuante
em ouvidos.

sapo dos bares negros,
pelas estradas escravas das minas geraes.

uma faca amolada
de fé amorosa,

uma fazenda cheia de fumaça
e sol quente.


defino, pois, amigo de noite só.
o escravo de meus discos,
a agulha que vos traduz em nota.
uma onda transcendendo o horizonte de meu leito.

o vinho de todo dia,
a fé que está.

a luz que brilha fosca no breu de me ser.

hesito, mesmo, trocar o disco.

flor

a manga rosa,
me guiava pela estrada.

dias e dias mais pedi à ela.

meu corpo lá, suava,
soava, timbrava mil sons de cores
onde fizeste a morada.

a rosa, meu bem,
me pedia mão, e palha,
fonte de idéias, e cachaça.

dai-vos-ei a flor da montanha,
para viver de coração,
sem machucar outrém.

para fluir-te a consagrada,

inimiga do frio e garganta,

parceira do cheiro forte,
de manhã cedo,
onde nasce o tenso e dor.

onde nasce nosso menino,
fruto da terra
que nos dá de beber,

e ele é à nós pensamento,
raciocínio pesado
quilos de poeira e grama,
entrando pela nesga da janela aberta.

acredito na boca entreaberta

queira ser feliz,
queria, se sorriso lhe toca gentil.

queira se amor lhe é confortável,
se mel escorre doce,
se flor brota do cheiro da terra,
como se fosse risada.

ser feliz,
nos cabe ao certo,
dá o destino da saudade,
a vontade do futuro,
e o prazer do que acontece.

segue os olhos cheio de lágrimas,
pasmos de quaisquer bobeira;

segue o sorriso,
que sucesso, sucedará.


creio não fazer isso ao pé da letra,
mas o poema é sinceríssimo.

quinta-feira, julho 8

outra vez mais, quero

abro o pacote de lábios.

doce e beiço.
como o de tal anos atrás,
que perdura por ventos inimigos,
que dura entre outros beijos,
de outros marcianos.

não esqueço, como era.
de trás de brincadeiras de crianças,
como se fossem adultos.

e foi indo,
assim, periodicamente belo.
de tempos em tempos,
vivendo romances de abraços,
e beijos relâmpago.

a lua é diferente

escrevo torto,
teço linhas judiadas,
pelo vento.

e quem tem fome
de mim?
ninguém.

um sabotado
poeta,
unicamente grande
pra mim mesma.

minha pele sua, por hora.

e não vejo.

creio na porta de entrada,
por que sair
e desejar errado,
deixar para trás
o filme rodado,
a letra escrita,
o sonho acordado.

é como o sol pelo anoitecer,
que nos esquece de alumiar.

terça-feira, julho 6

relva

espanto a lucidez
que acaba de pousar em minh'alma.

dou-lhe um tapa
e esta responde na consternação da vida.

talvez seja natural,
meus sonhos que saem como brisa,
num voo que podia não ter volta.

mundo mais bonito

cuido da terra,
ao ponto de deixá-la
leve, e afinada o suficiente
para receber o seu jardim azul.

carinhosamente me apego,
recito versos por entre a relva
e trato com água minha futura mãe sepulcral.

quando vejo ecoar o sol,
que bate nas verdes folhas e brilha,
sei que a garoa nos encontrará,
serena fina paz.

ouço passos subterrâneos,
dentro de mim,
quebrando minhas peles,
quebrando o brando ser.
querendo mais de meus sentidos.

segunda-feira, julho 5

seis horas da manhã

tenho três passos, só.

paciência,
              minhas pernas
              são o tempo, sabido.      
              amigo do ser lua
              aguardo cair da noite,
              mas o sol acaba de nascer.

saliência,
             desses sentidos.
             moralisando meus olhos
             de soturnos pensamentos,
             que afloram torturas e
             prisões internas de vã distância.

abismo,
            que vez em quando
            machuco ao cair.
            pois equivoco meu presente
            achando-o futuro,
            que é, para mim, tão belo e forte.
            pensando-o como vida,
            sabendo-o pouco.          
            pois ando cego, como os homens.

[todos homens são cegos,
nadadores de turvas águas
onde enxergam somente o próprio nariz.]

tenho três passos,
e minhas pernas cansam.
oro para ter-las
quando o luar chegar,
pois ai,
não será andar,
terei de olhar fundo.

quinta-feira, julho 1

terreno dos sonhos

negocie loucuras,
e veja ao certo quem te vê.

compilações do barão itabirano,
ou do negro carioca,
que ficam sentados em meu mudo criado,
que me traz águas e frases, cinzeiro, balas,
óculos, lápis, caderno e  linhas.

vejo essas negociadas loucuras,
bailando por entre seus olhos,
pelo seu avesso,
e quando venho para esse mundo,
quando venho pra cá,
morro no palco
bem mais velho do que eu.

um esforço futuro,
grato,
apoiando em meu ombro,
esperando a hora de trocar a máscara.

o que vejo nos olhos do palco,
não vi não vejo e não sei
quando encontrarei
paisagem que me eleve tanto,
à outros céus.

comidos por uma distância,
maior do que a minha para com
imortais letreiros nostalgicos.

me afeta,
olfato,
tato,
visão.

e esta é o que me resta.
mas de olhos no escuro,
o vídeo dos sonhos,
imaginado.
sem saber ao certo se a forma
é a mesma.
se cabelos ornam com o vestido.

imagino mais e mais.
mais intenso mais tenso.
fico tenso mais e mais.
ilumino minhas loucuras
com overdose de orquestra utópica,

que é voz e o azul no pano.

quarta-feira, junho 30

lis

o bojo daquela manhã,
que emerge até hoje,
sabe bem como sou silêncio.

sabe sem ter que ouvir
línguas arcaicas,
e me sola o giz.

diz, flores,
o que querem quando
do sol são filhas,
rodopiando durante uma valsa de arco,
mais que os casais do salão.

tomando luz como vida,
sugando a força de águas  perplexas.
anexas da mão da terra,
como dedos,
unhas dos titãs olimpicos,
que são aparadas pelos tolos de macacão,

que não sabem bem ao certo onde a curva verde,
dos florais mais belos, vai dar.

um vestido pro chão,
de bordados clorofila.
daquela manhã de ressaca,
que acordei e vi pétala ao lado.

ser

pelos homens
e mais seres,
serei total adepto.

credenciarei meus belos
pelos belos de viver,
pelo menos hei de sentir.

me repito frases
e frutos salgados
que saudam prosas nupciais.

um par de consoantes
destonadas, desbotadas.

pelos homens e mulheres,
moças de folhas claras,
pecarão em nome da língua.

sabotearam os cristãos
os cristos
e os seguintes infernais.

em nome dos adeptos,
serei homem e mais.
nativo da letra que vos corre.

que faz a correnteza em maçãs,
vazar por cavernas o muco do sentimento.

choram-te os olhos
devaneios à esmo.

e a fulgaz esperança
me dá de amor
o aberto do abraço,
que ecoa,
toda vez que sou.

terça-feira, junho 29

onde está meu dicionário?

vejo palavras,
cobiçadas,
o vocabulário que
nós, poetas da vida,
cobiçamos pelo andar.
pensamos ter,
mas não temos tinta
suficiente para escrever.

palavras azuis,
imagens de nossos sonhos.
que não contamos para ninguém,
se não, não acreditariam em nós.

flor de maracujá

olhe bem em meus olhos
que acabam de acordar pro sol,
para mais tortura numeral.
os visto com um pouco de carência,
preguiça e luz.
fico pesado, sem decência para sair do leito.

minha porta de saída,
ainda fechada,
me implora companhia,
pede-me para ficar, sem marasmo,
sentado ao chão, criando mais.
de janela e mente aberta,
à luz do sol matutino,
morna e confortável.

hesito o pedido.

calho a descer degrais
mancando os pensamentos,
sentindo larica de mundo.

vejo entrar pela porta da cozinha um vento comprido,
frio, doente.
exatamente como meu viver durante
a dor do dia.
que dura o tempo do sol.
e há de acabar com o nascer da lua.

porém, esta está longe
e demora para acabar a gestação lunar.
espero quente ela nascer.

a cada passo,
sento versos no asfalto e passeio.
na rua, sei que posso olhar o frio
com meus próprios olhos
dar-lhe minhas próprias idéias,
sem paredes sufocantes me prendendo,
me ardendo.
na rua, livre, sei que sou.
e sei que posso.

o guardo para mim,
sem receios e anceios,
sem medo,
medo este que tanto me atormentava,
batendo sempre à minha porta.

me sinto leve.
sem dores,
quando transpiro livre, livro.
pelas vielas azuis antigas,
à sombra de maracujás
com em fatos de infanto sorriso.

bom dia, flor
como vão as torturas
que perambulam por aqui?
flor de sombra fria, azul
fruto de doces desejos,
adubados até mesmo
pela desgraça dos pesadelos mundanos.

me sinto pesado novamente,
quando saio da sombra do leve
e vou para o castelo dos inquisidores,
ábades da minha melâncolia.

império dos assassinos,
criando novos matadores,
gerando mais dor e agonia.

mas me amarro à mesa,
e decolo meus sentidos gastos
em direção às linhas.
tento fugir pra chuva, mil vezes mais.
e divago, navego, vivo, na tinta negra e folha.

sorrio ao ver o escuro chegar.
a noite, mãe, acolhedora,
de minhas lágrimas, que corta minhas dores,
surge como amor.

minhas porta de saída
vira-se em alegria,
calmaria.
sutilezas me bañam e pairam sobre o lençol.

me visto de vontade e
saudade.
uma nostalgia emerge
em notas queridas que voam
como água quando de boca de sol.

à noite, me sinto filho,
vivo pela lua, escondido
em crateras azuis.

meu leito me chama.
espero meus pés esquentarem,
e fecho o ver, criando meu falso céu.
e quase desejo não ver o outro amanhecer.
quero o sonho, vive-los na noite,
onde quer que seja.
quero o azul mais perto.
sentir o repirar perto e quente,
inalar os gases lunares,
e ser vida.

quarta-feira, junho 23

cresca aqui, ó, lírio

escute as estrelas,
tão sábias quando amadas.

escolha uma,
que escrevo à ela mil versos ,
tentando ganhá-la para ti.

não tenho certeza dessa verdade,
mas uso todos dicionários presentes
para escolher palavras gordas
e cheias.

palavras transbordantes,
como chuva em seus olhos,
como folha do pé,
que cai da árvore da qual
sonho ter a sombra sobre as idéias.

frutos me caiam na mão,
de sua copa,
me deixe ter lenha de você,
para me aquecer no marrom de seu ser.

sede de ter tudo,
que agora me é normal,
e para o tempo quando sei que está dando flores.

roubo aos poucos estas,
e vou montando-te aqui ao meu lado.
falta raízes e folhas.

fica aqui, o cheiro e alma,
do sol da manhã, do poente sol da tarde,
da lua da noite.

fica aqui, olhando-me as estrelas,
sinta-me como pássaro,
roubando-te o doce da flor.

segunda-feira, junho 21

tempo

me dê a lua
que enterrarei em crateras mil
um coração vermelho maravilha

onde está?
ó, soberano?
compondo mais destinos,
sendo guia de outrém.

como fica?
se te respeito,
mas não aceito,
por seres assim, tão señor bonito.

conde dos sonhos,
até dos sonhados por desgraça do ópio.

te escrevo desenhos belos,
e te deixo mais vivo,

e ouça :
não me esqueça,
me dê prazer preciso,
para jorrar d'água
a sangria do meu correr,
da minha pressa.

sei que não devo temer,
e ser calmo é o que me cabe.

mas o vinculo aflora-nos
a angustia temporal.

pelo menos à mim,
os pelos sobem sob o ser,
trepidados de frio no ventre.
adrenalina dura e que custei para encontrar

mas achei nesse samba.

nos dou silêncio

encarcero pensamentos
no sabor dos papos e abraços.

laços de vogais distonais
amarram-me consoantemente, e
me sinto estranho por mais uma vez.


tendo por estranho
um cuitelinho voante,
um azul rastejante,
um olhar sangrado,
e deliciosamente desejado
pago mil letras
tortas
para me prender novamente,
caso seja libertado.

pago mil sorrisos
para ver de perto
o xerife de meus versos.
pago à lua,
o sol, o dia e noite
para continuar transpirando mais denso.
para continuar sendo livre.
sendo eu. do jeito de ser.
e não auscultar o coração dos ignorantes,
e sim escutar somente o silêncio
que tanto achas impossível.

mas eu te dou o silêncio, se quiser,
silenciando sua atenção à terceiros,
olhando seus olhos negros e profundos.

domingo, junho 20

deite ao chão de estrelas

nessa boca de estrelas
vivo, viveremos para sempre.
embotados de adjetivos medievais
e pseudônimos.

sabemo-nos o suficiente
à eclodir sãs vaidades cabiveis.

sei-nos o suficiente
à me deixar ser,
a nos ver-nos sorrindo.

lagrimo mais um copo
e cozinho fora meus alheios.

complico-me ébrio
no poente solar e
jogo fora meus duos antigos.

sinto sua mão
me pegando
e sabendo meus pensamentos,
como se tivesse cerebelo,
na ponta dos polegares,
coçando minha instiga
e colhendo meus desejos.

leva-os contigo,
trate-os como me trata.
e cuide bem de seu céu,
com manchas brancas
e verdes azuis.

amarra-te o velho pano azul
e lembra-me de ser seu.

sexta-feira, junho 18

verlaine

me vejo na platéia
encolhido, de preto sujo.

olhando pro lado, sem prestar
atenção no triste fim.
prestando amor ao começo,
às vontades, ao banco do lado.

sonho com essa fileira e com toda
a acústica do anfiteatro amado
ecoando meus versos pensamentos,
rodopiando pelo palco e dançando em nós.

me vejo,
me vejo,
pousando como ave,
no ensaio sobre o drama prostituto.
querendo pisar em tudo,
e bater minhas asas fortemente.

levanto.
acaba a peça.
e pego a mão,
nossa mão, uma mão.
sem dedos.
um bloco de pele sedenta
balançeando para frente e pro lado,
andamo-nos pelas crateras lunares,
claras e macias.

sento.
sinto a mão quente.

penteio cabelos,
com os dedos,
para fora dos olhos,
fundo narizes, e olhos secos e cegos.

quero ser lua e sol do meio dia, novamente.
por enquanto sou invasor,
rato na parede,
vigiando de longe o agora.
me escondendo quando devo,
me exaltando sem querer
quando dou o bote das letras.
minhas armas roedoras, as letras.
uso-as de bem,
de bom,
querendo bem,
sendo bom.

posto dois ou mais selos,
com desenhos recheados de azul.

esperando crer no futuro que
esperamo-nos.

esperando findar na verdade
do agora
a loucura do que vem ao nosso encontro.
vem como amigo amor.

pensamento aleatório do inexistente Arthur nº 1

     Na seca, abro a azul geladeira, fedida; esquecida pelo supermercado. Procuro a mais gelada água para me molhar a garganta feita seca, pelo conhaque.
     Talvez eu nem lembre de como vim embora, mas sei que lá estavamos ouvindo algum blues setentista, rodeados pela fumaça do ambiente e pela luz baixa. Umas velas na mesa. Porra! Sem água gelada. A do barro me serve melhor do que nada. e meu fígado solta seu bafo em minha boca. Não adianta escovar os dentes por cinco ou seis vezes. Cadê o cigarro? Ahh, esse não acabou. Acendo um e me sento à tevê. Um jogo escroto ilumina minha cara e cabelo bagunçado.
     Hoje é sábado.
     Já que surgem pessoas aqui. Talvez nem sejam desejadas, todas, mas aparecem mesmo assim. Agora é o que? Três da tarde? Talvez. Vejo que o dia estreiou sem mim, e me afundou no sono e ressaca matinal. Acordei trezentas vezes pela manhã com o galo filha da puta gritando na minha janela. Como se quisesse me acordar. Só eu, só eu ouvia. Cóóóóóó... ACORDA!!!!!!! ACORDA ARTHUR.!!!! E ainda por cima era desafinado. Errava suas chulas notas de bico, e engasgava no meio do cocoricojar. Nem isso sabe fazer.
     Creio que lá, antes do galo, da ressaca, do blues, e até mesmo do conhaque, dois cidadãos me convidaram para uma espécie de banda. Aqueles bacanas que você conhece há anos mais nunca lembra o nome, mas se julgam seus brothers. Talvez o Ramirez, ou Sabino. Não sei. Sei que aceitei. Várias vezes pequei dessa maneira, quando olho de soslaio as propostas e quando vejo estou numa garagem ou palco destruído. Pegarei uma cerveja. E nesses palcos, bêbado acabo por terminar as músicas sem emoção alguma. Fico só pairando nas cordas, desatento. Mas sempre tocando em alguma banda de merda.
      Daí me entorpeço infinitamente e caio na risada com dois ou mais amigos.
      Tenho que para de levar essa vida à la Novos Baianos FC... Tirar o pé do teto e por no chão. Firme.
      Outra cerveja, outro cigarro. Outro gol. Puta merda. Que jogo horrendo.
      Quem é?? Quem será que é? Eu quem, inseto? Entra Bira.
      O Bira sempre veio aqui. Nem sem onde o conheci, mas vem aqui, acho que antes de mim. Tão sequelado que acho que nem percebeu que o dono do apartamento mudou. Avoado, vive viajando, brisando com cadeiras e coco de cachorro. Cadê o Chico? Chicooo, vem menino! Vem, vem.
      Ganhei o Chico no ano passado, de uma menina namorada escrota. Ele foi e é melhor que ela. Menina desgraçada. Me fodeu e me deixou só, nessa merda de apartamento. Sujo. Ele é pequenino, o cãozinho. Pelos curtos e marrons e brancos. Ontem ele vomitou mais que eu, hoje.
      O Bira inventou de dar amendoim pro coitado. Bira! Pega mais cerveja lá.
      E ai, Malu? Puta que pariu. A Malu sempre veio aqui também, mas antes ia na minha outra casa, e não aqui. Sempre junta de mim. Vivia cantando com sua voz de lua cheia. Mas anda rouca e doente, sempre.
      O jogo acabou.
      Antes da ressaca, da água quente, da geladeira velha, do conhaque, do blues, do bar, teve outro dia ruim, igualzinho este.

quarta-feira, junho 16

agora

abro o espelho,
sujo,
curtido.
vejo esse reencontro, queridíssimo.
e meu peito arde, como toda vez que vejo

minhas marcas d'água
correm nesse rio,
que nos encontramos na
margem certa

e no reflexo,
vejo-me livre de pensamentos tortos
e plano meus sadios.

miro de soslaio,
quase sem ver,
outro criado
desse nosso mundo esquecido por nós

que nos matamos entre nós
de sorrisos momentâneos,
que fogem quando há adeus
e se fecham na nossa prisão
torturante, no planeta morte,
nas cabeças rochas que são nosso
mar.

somos ilhas.
perdidos em meio
ao bombardeio de desilusão.
e meu espelho se quebra.

terça-feira, junho 15

ma lune

a lua, quieta
me olha, longe.

me aperta com a luz
e me deixa
sem membros.

jogados ao chão.
derretidos,
juntos à meus olhos

ajude-me a recompor.
não meu físico.
mas meu intelecto,
sentidos,
fala
e visão.

os perdi,
nessa distância que vivemos.

se os achar, guarde-os para ti.
numa caixinha.
faria o mesmo, com alma e corpo.

segunda-feira, junho 14

criado falante

abro meu criado,
cheio de sentidos.
e apanho os mais confortáveis
à minha conjuntura.

visto uma calça
de saudade, bordada calmamente.
inteira chorada, cozida pelo tempo.

coloco um cinto,
para segurar essa saudade imaginada,
que não sabemos como existe.
e sinto prender-me o ventre
de cores.

abotôo as linhas da camisa,
azul, criada de estrofes livres
a ti dedicados.
a gola dobra-se num diminuto
verso recheado.

enfim,
calço meus óculos,
grossos.
transparecendo meus todos todos outros sentidos.
verdadeiros e em sanidade.

tento, agora,
te vestir.

quarta-feira, junho 9

vem brincar

algema-me o tempo,
em sua longa presença
concava no meu quarto,
quase plana.

uma boa noite escaldante
está no portão.
- vem cá, vem brincar!
exalta meus sentidos,
o frio e o estresse mundano.
aflora-me o sangue
sem doer um tico
e ilumina minha decadência
transcendental.

tomo uma dose da cristalina
e calho a fumar mais um gole.
roubo do vestido colorido
mais um trago.

me algeme, pois.
junto ao seu tempo,
em sua longa presença querida
quando olho nas pontas do dedos
ou no céu, à noite.

acorda, maria bonita

 Há quem acorde de mal, soturno. Não!! Creio que seja a maior parte do moradores deste mundo cão,
mas existem também os que estão do meu lado, que numa bela manhã de sol, ou chuva, ao abrir os olhos,
vêem motivos infinitos para sorrir graciosamente ou fazer um café sem resmungar à coitada da água fervente.
 Vejo o acordar como uma prova do dia vivo, pulsante,onde talvez seja livre passear com todas suas indagações
mundanas, por mais obliquas que elas sejam.
 Vejo o naquele momento ( quando meu quarto se forma lentamente; quando passa do preto para o branco, e este
vai ganhando formas de cadeiras, tevês, mesas e estantes; quando levanto rápido e sinto uma leve tontura e uma
boca grudenta e sedenta ) formar-se o meu eu. No simples fato de acordar está meu impulso para fazer certo durante
o dia, como fazemos nos sonhos.
 Fico feliz por acordar bem e fazer certo meus desejos cotidianos, pois quando for dormir, meus sonhos serão
como continuação. Uma faculdade para meu próprio entendimento. E nos dias que me esquecer deles, não terei outra chance
para tentar.
 É belo acordar e dizer bom dia com a bochecha enrugada.

segunda-feira, junho 7

reino de paz

ó, menina feliz.
roda à minha retina
vestida com um vestido colorido
cigarro ao peito
nos chamando pra uma overdose
de uma saliva que já secou.

atrasado nos correios,
parando pelo caminho
cantarolando pelos botequins
infinitos de nuestra estrada.

ó, menina feliz.
deixe minha cabeça errante
te invadir - meu império!

me de a graça de ser mais.

um céu turvo

escolho minha roupa azul,
listrada
para tal ocasião, monocromática,
única

me sinto, dificilmente,
aliado de seu sorriso,
me sinto coberto pelo seu cachecol cinza,
cheio de pêlos do rei do passado,
sinto o cheiro da lua,
que vejo em minhas unhas, sempre.
sinto o cheiro da lua
no meu céu escuro de olhar.