quarta-feira, agosto 4

houveram dias de negro mar

houveram flores nas quais os tolos se apoiavam,
faziam-nas cama para seus desagrados, colo para seus consolos tolos.
houveram flores nas quais os tolos se gabavam de amor,
faziam-nas beijo para seus lábios, e dorso para seus desejos tolos.
hoveram flores.

houve dia, no qual fui tolo, ao ponto de ver de perto a floração antiga,
fiz das minhas lâmpadas, florescas divagações.
houve dia, quando pequei sob a constelação,
que nada me vinha de agrado, nada me abraçava ternamente,
tudo que tocava, me repelia como sangue à boca,
me cremava como cadáver passado,
tudo que me chegava era de horror, era de tensão.
eram crianças moribundas, dúbias na essência, sangrentas.
me cortavam todos os sentidos com um olhar cinzento,
com uma só palavra.

há, agora, dia, no qual me falo sobre outras primaveras.
falo só, sobre toda minha vã soturnidade,
sobre o sangue que já me escorrera no rosto,
sobre o amor que deixei divagar sobre os negros pântanos da desgraça,
minha alma velha suplica para que esses dias reinem sobre mim,
que façam de mim seu leito e tapete, seu caminho real,
que faça de meus versos, suas asas;
de meu olhos, suas mãos, para alcançar o corte da noite.
de meus sentidos, suas palavras,
tomara que os peguem pela raiz e levem para outros sóis.

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