terça-feira, agosto 3

sou outono

vou deixar
o sonho navegar por onde for.

plantar e colher seus condimentos,
crescer às suas próprias custas.

rir sozinho do seu próprio veneno.
rir sozinho de sua própria lua.

vou deixar,
o sonho.

vou acordar,
no outono,
floriando o vento e meus membros,
em meu eu,
em meus olhos.

e, vou, depois do cair das flores,
dormir novamente,
e ganhar minhas sementes.

medievalesco

ouvi os cavalos da rua,
que entraram compassados com a música,
em meu quarto.

vieram com mensagens molhadas de sangue,
mensagens de morte,
de despedida

- Adeus, ó, Cavaleiro.
vá-te com pena no lombo.

mas saiba que teus mortos,
te caçam.

cabelos curtos

vermelho de sol soturno,
que anda e vaga por pensamentos...
sinto-te aqui por completo,
vejo-te como rima de poema!
- sim, você cabe como tal.

uma rima riquissima,
um fino prato,
um forte perfume de calor.

sinto, pois,
seu êxtase termal
onde minha boca seca
e meus pés adormecem.

quando me sinto como pena,
quando me sinto digno.

desenho em seu apse,
meus versos sinceros,
que desde o princípio
te acompanharam por entre corredores transviados.

quando escuto o voar do beijo,
me choro as entranhas
e os internos pesares.

e eu ouviria qualquer coisa,
de seus lindos lábios,
ouviria a morte,
ouviria a vontade e a tristeza.
ouviria a saudade.

auto retrato completo

me vejo como sombra,
numa nuvem de fossas rurais,
onde trai meus queridos
e acidentei meus sentimentos

uma fogueira loira,
flamejante fênix,
onde guardei meus bens
e acabei por ter de esquecer,
acabei por expôr a carne viva à chama

culpado dos horrores,
dos sorrisos,
dos amores, das canções,
culpado por apagar o claro da soturnidade.

me sinto como a lenha
que é base da tortura quente,
minimizando, reduzindo os sonhos à cinzas cheiros.

me ouço gritar socorro
pelas ventas,
me sinto vento forte,
me toco com vergonha
e decepção

faço tudo isso,
pois sou filho da maldita carne,
vazio e mal rebocado.
pois ando ao lado dos demônios,
atrás da visão de paixão que tenho de minhas melhores.