terça-feira, maio 11

pinheiro

atravessei [de novo]
a rua para apanhar aquele som,
nua e cansada.
tonta com as faixas do chão
colhendo nos pés o sangue.
estava longe e cego
e o vermelho circundava o duro da boca, tímido.
andava trocando passos por piscadas
entre a cegueira.
alcançava, quase que hermeticamente
notas giratórias que fluiam os membros
espacarticamente doídos.
meus sentidos ficavam entre as duas calçadas
e no cume da minha dança
estaria sem mais nenhum,
fingindo o sorriso,
que acabara no tesão dos giros e pontas de pé.

o som me espera, como sempre
quebrando vidas com seu volume
trezentos e dez decibéis de vontade e amor pulsante
na feição das nove comas de distância.

eu carrossel, e
ele exalando cheiros diminutos,
agudos.
carente da surdez
na iminência dos passos,
na pertinência da distância.

polução

era tarde cinza e densa
comia meus sorrisos brutalmente
e diminuia a zero o volume do som
triturava meu irritante cabelo
e machucava.

não mais,
é azul e leve.
pisa em qualquer fogo que vê
e os que não se apagam,
os toma pra si como antigos amigos.

cola meu olho novamente
animal negramente sedento
frente à um rio vermelho e inchado de água pura
quase cospindo fora seus benéficos

quero meus melhores
peco e ando torto e obliquo,
mas entre minhas tranças musculares e tropeços
estão eles.
é só desenrolar que fácil acho.

é minha cama, quando acordo
enrugada e fina, espalhada pela madeira carunchada
cobertor grosso da goza do saber.

eu acredito em dedos

abri minha bolsa
e tirei de suas entranhas o suor amargo
a bolsa, sujamente mordeu minha mão e deixo nos seus anais
meu azedos dedos.
''VAMOS, RASTEJEM ATÉ A BORDA
ESCALEM SUAVEMENTE O NEGRO DA DOR''
alguns caem e me doem.

por não poder mais segurá-la,
a bolsa gorda e suada roda pela terra
e aos poucos me dói mais, no interno.
derruba meus ícones:
faz um laço com sua alça alucida.
os pontos da costura vão se soltando pelo caminho
e vão dando suas mãozinhas para meus dedos.
custando para me achar.

pensamentos pós-agora

havia um medo
medo bem grande
agora torcido pelo tempo.

sento no chão duro
em cima do medo enorme
sorrio pra cima
e deixo escorrer o sorriso
que infesta e repete o começo.
mas desta vez fica até o fim
sim, gruda no nosso olho
(um olho só, pro par todo)

escondo eu
sob a cama
retorcida e insistente.
implica e replica a volta de terceiros
pede, me enforcando o olho,
por suor e sono
cinema e risada
pede que eu dançe novamente.
aguarde por novos textos.
em breve.