terça-feira, junho 29

onde está meu dicionário?

vejo palavras,
cobiçadas,
o vocabulário que
nós, poetas da vida,
cobiçamos pelo andar.
pensamos ter,
mas não temos tinta
suficiente para escrever.

palavras azuis,
imagens de nossos sonhos.
que não contamos para ninguém,
se não, não acreditariam em nós.

flor de maracujá

olhe bem em meus olhos
que acabam de acordar pro sol,
para mais tortura numeral.
os visto com um pouco de carência,
preguiça e luz.
fico pesado, sem decência para sair do leito.

minha porta de saída,
ainda fechada,
me implora companhia,
pede-me para ficar, sem marasmo,
sentado ao chão, criando mais.
de janela e mente aberta,
à luz do sol matutino,
morna e confortável.

hesito o pedido.

calho a descer degrais
mancando os pensamentos,
sentindo larica de mundo.

vejo entrar pela porta da cozinha um vento comprido,
frio, doente.
exatamente como meu viver durante
a dor do dia.
que dura o tempo do sol.
e há de acabar com o nascer da lua.

porém, esta está longe
e demora para acabar a gestação lunar.
espero quente ela nascer.

a cada passo,
sento versos no asfalto e passeio.
na rua, sei que posso olhar o frio
com meus próprios olhos
dar-lhe minhas próprias idéias,
sem paredes sufocantes me prendendo,
me ardendo.
na rua, livre, sei que sou.
e sei que posso.

o guardo para mim,
sem receios e anceios,
sem medo,
medo este que tanto me atormentava,
batendo sempre à minha porta.

me sinto leve.
sem dores,
quando transpiro livre, livro.
pelas vielas azuis antigas,
à sombra de maracujás
com em fatos de infanto sorriso.

bom dia, flor
como vão as torturas
que perambulam por aqui?
flor de sombra fria, azul
fruto de doces desejos,
adubados até mesmo
pela desgraça dos pesadelos mundanos.

me sinto pesado novamente,
quando saio da sombra do leve
e vou para o castelo dos inquisidores,
ábades da minha melâncolia.

império dos assassinos,
criando novos matadores,
gerando mais dor e agonia.

mas me amarro à mesa,
e decolo meus sentidos gastos
em direção às linhas.
tento fugir pra chuva, mil vezes mais.
e divago, navego, vivo, na tinta negra e folha.

sorrio ao ver o escuro chegar.
a noite, mãe, acolhedora,
de minhas lágrimas, que corta minhas dores,
surge como amor.

minhas porta de saída
vira-se em alegria,
calmaria.
sutilezas me bañam e pairam sobre o lençol.

me visto de vontade e
saudade.
uma nostalgia emerge
em notas queridas que voam
como água quando de boca de sol.

à noite, me sinto filho,
vivo pela lua, escondido
em crateras azuis.

meu leito me chama.
espero meus pés esquentarem,
e fecho o ver, criando meu falso céu.
e quase desejo não ver o outro amanhecer.
quero o sonho, vive-los na noite,
onde quer que seja.
quero o azul mais perto.
sentir o repirar perto e quente,
inalar os gases lunares,
e ser vida.