segunda-feira, junho 14

criado falante

abro meu criado,
cheio de sentidos.
e apanho os mais confortáveis
à minha conjuntura.

visto uma calça
de saudade, bordada calmamente.
inteira chorada, cozida pelo tempo.

coloco um cinto,
para segurar essa saudade imaginada,
que não sabemos como existe.
e sinto prender-me o ventre
de cores.

abotôo as linhas da camisa,
azul, criada de estrofes livres
a ti dedicados.
a gola dobra-se num diminuto
verso recheado.

enfim,
calço meus óculos,
grossos.
transparecendo meus todos todos outros sentidos.
verdadeiros e em sanidade.

tento, agora,
te vestir.