terça-feira, março 23

vento que sopra e vai-vai

transcrevo esses opacos versos
doidos e curtos
que culminam na ponta do dedo
provém da ponta da caneta
e saem por ai.

traço essas linhas tortas e negras
gritando com a tinta algum beirut ou saxofone
porcos doentes
soltando seus balões pelas costas;
desenhos assim.

eles me chamam à noite
eles me chama à noite
eles chamam a noite
de sol,
dó ré mi fá sol lá sí

si fosse ao dia;
eles seriam clarinhos.
retos e geométricos
a gema das idéias
dariam às mãos as letras e sairiam,
pela calçada em frente de casa

transcrevo essas idéias fulminantes.
quiemam um mais dois, juntos.
determinantes ao lado dos outros
vento ao meu lado :
que sopra e vai.

sexta-feira, março 19

uma dezena mais nove dias

ano e meio
faz tudo sintilar, sintilante
penso em par, agora.
faz um tempo já, mas, agora penso mais
estonteante, estonteia o par, na hora.

minhas manias merecem morrer
malditas maluquices,
me matam.
merecem morrer.

ano e meio
e ainda não aprendi,
é difícil desplugar isso de mim.
porém, contudo, sei que às vezes tenho razão.

amo andar, assim, alegre
amorosamente amado
aliviado, ainda alego amar
ainda amante, amando

ano e meio
e agradeço pelas danças e solos
tento excluir sempre brigas posteriores
aprendendo assim, você.
com essas brigas.

penso por que parar:
pelo povo parado
pairando pela ponte;
podendo, pois, poder.

ano e meio
posso amar, amor.
sei que não faço o melhor
mais tento, melhorando, o pior.

fica meio ambiguo, às vezes.
mas sei que você sabe, é amor.
é meu e nosso, e seu.

fico calado esperando
algum vento pela janela
vindo de lá, do azul, da parte de baixo.
do quarto bagunçado.
da gaveta quebrada.

fico gritando aqui,
calando o silêncio que paira, negro no quarto meu.
em cima e embaixo da cama,
me esmagando, torturando
querendo tirar uma resposta sem pergunta.
que não sei de onde vem, só questiono.

fico aqui,
calado, fechado, tentando abrir a brecha.
pra dê tudo certo,
e que venha de algum lugar, um sorriso
que entope minha cara junto da sua :
com um só olho. 

quinta-feira, março 11

dedão

creio que não é tanto pela aparência.
é sempre assim.
diminui e é essa cara de um conhecido.
eu gosto.
ela gosta.
homônimos gostam.
gosto por que ela gosta.
meu tudo.

alguns já assustaram com a semelhança
mas tudo bem.
sustos de saudade valem a pena.

já que cresce denovo e volto ao léo.
enquanto curto, me falam sobre esse céu.
sempre.
não que eu deixe eu de lado.
de maneira nenhuma.
é que é sempre.

agora

sinto agora
como se fosse normal,
sentir depois.
essa liberdade
a dois, nós dois.
confiantes no que vem
é um braço mais uma perna

sinto agora
livre, querido.
aceito.
não o dejeto de antes
não o que será amanhã.
sim o hoje.
o riso agora.

quinta-feira, março 4

les bonbons

é confortável.
um passo atrás do ôto.
girando a cabeça depois do corpo
                                           [lindo]
cabelo curto.
pinta no chão com os pés, indo.
flui com o chimbal.
segue o curso, nas curvas.
                              [linda]
no palco, fazendo par com o disco.
até me deixa de lado.
mas não esquece. ama.
senta no meu colo, dançando com os braços e pernas.
denegrindo os pobres ignorantes.
que não sabem um só espacarte.