quinta-feira, setembro 30

tela

cores,
mil cores quero
cores de anil
ou do céu
quero cores.
azul vermelho,
prédios, mar,
pés e peitos.
corpos.
ou boca.
quero cores de amor.

banhadas de sentimentos novos
quero cores
de sabores,
cores favoritas
quero cores.

quero conhece-las
saber seus passos,
para não me borrar novamente.

foda-se

quero me confortar
com outra dor.
esquecer desse velho pássaro.
chega!

que me encontrar em
outro corpo,
seja no fútil,
no mero egocentrismo
ou no balanço dos braços.

quero voar.
quero ensinar minhas asas bater.
quero amar
sem ao menos saber o nome
da cor favorita.
quero ser.

quero te afogar
na chuva fotográfica
que por ora nado,
e me sinto confortável.

arrancar-lhe as penas
com meu sorriso.

sim, sinto raiva,
mas o poema é sinceríssimo.

a vida é uma ópera e uma grande ópera

era o tempo da criação,
o qual esbanjava de intermitentes canções
no conservatório do céu.
as notas bailavam sobre as nuvens,
as faziam de palco
e mil arcanjos cantarolavam seus libretos abençoados.

era o tempo da criação,
e assim se sucedeu
a síntese de nosso chão,
do nosso beber,
da nossa razão,
do inferno
e da terra:

havia,
o que hoje se chama por fogo.
o mais afinado dentre os anjos.
o par da melodia,
a vida das dissonâncias,
o mestre do compasso.
porém, balbuciava suas melodias
pois das rebeldias e sorrisos era feito.

havia,
o que hoje se chama por Pai.
a santidade.
o senhor das letras,
 o par da grafia rimada.
que cansado com a preguiça
eliminou o fervente tenor
das notas do céu.

          II

naquela hora, o nada era tudo que havia.
era o nada e o tenor amaldiçoado,
embebido na furto do libreto do pai eterno.
eram agora o diabo, o libreto e o nada.
era só,
era nada.

virava a terra
sua partitura,
e seus pensamentos sustenidos
o erguiam ao céu.

          III

hove dia
no qual suas notas o caminharam ao céu.

houve dia
no qual foi ouvido.

- pinto aqui
nosso cume, Padre Eterno!
agrado aos ouvidos angelicais
lhe trago, letrado.

houve esse dia,
e nenhum outro que valesse a pena,
que valesse o queimar do inferno
.
houve esse tempo,
que parou, e congelado está.
afogado no brilho de mil olhos,
de mil asas.

e no tempo parado
os anjos tocam.
de seus arpejos
fluem a terra
a água
o ar.

e fazem de nós
suas notas
nessa ópera vital,
sem ensaios ou rodeios.

somos e seremos
embebidos na arte de outro alguém,
nos acordes das trombetas reais,
que dia após dia vão cerrando o soprar,
até acabar o fôlego,
e nos pintarem de negro e solidão

sábado, setembro 25

sou sol

minha carne é samba,
de batuque santíssimo,
e melodia insecável e
transcedental.

a jogo no mundo,
a par de olhos de lunetas,
viajando por meus mistérios.

sigo meu caminho
pelo ar.
malandro, da terra sugado.

sexta-feira, setembro 24

saga verde

uma vez de floresta,
vesti minhas logradas saudades.

fiz de plantas e planaltos,
meus meros sonhos.
esperei germinar a falta de sono
e acordei junto do sol.
-junto do rei,
se nascendo todo orgulhoso perante mil olhos.

uma vez,
vesti-me de floresta,
de bulbo e sangue.

fiz meus rios,
de plantas mal colhidas.

quarta-feira, setembro 22

desejos talvez desejados

queremos saber:
o que voa no vento de dissonantes desejos?
o que bate as asas de sonhos maltrapilhos?

quero ir junto,
terminar de rasgar suas poucas roupas,
acabar com tua sujeira.

quero acordar,
da sarjeta romântica
passar pro viver sóbrio,
melhorar da ebriedade de teu corpo.

segunda-feira, setembro 20

eu tenho medo de chuva

tiros flácidos de vida
invadem as frestas da janela,
e me fazem encolher o rosto.

me dão, com o rouco trovão
o medo que aparece.

fazem o novo céu,
outrora liso de azul e pluma,
agora riscado e rasgado por cortes acesos,
pelejas de luz entre as estrelas.

tenho medo da chuva,
da feia água que apaga as estrelas,
e fica gritando na minha janela,
me impedindo da lua.

quinta-feira, setembro 16

derradeiro fim de tarde, de noite, de vida

estava caminhando,
leve, e claro.

hoje, parei.

senti minha pele queimando,
de raiva,
de dor,
de saudade.

não havia água que cessasse a chama,
que lhe arrancasse da lenha a brasa.

[ o fogo, é feito do rancor,
da raiva que lhe foi passada!
realmente por erro de crianças,
por omissões de outras marés.!
e no rancor vai padecer,
vai ficar].

não havia água
para lhe refrescar a feição de inferno,
para lhe matar a sede do ódio.

           II
rego meu fogo com sinceridade plena,
abastada por um só erro,
que foi a tônica dos fins,
a gota transbordante do cálice.
um só errar,
que vez ventos tremerem todos os sentidos,
e virar os olhos em rubro desgostar!

sou, fielmente, fruto de sinceros dizeres,
de versos serenos.
- nunca faria mal a minhas próprias prisões,
nunca sangraria os olhos do pavão.

olho, com olhos de céu,
os andares do calor, da tentação,
e os vejo vagar pra longe,
de mãos dadas com sua angústia.

talvez gerada por mim,
mas sem a minúscula intenção,
sem o menor intento de correr lágrimas.

o vejo, batendo asas de cera,
que se desse jeito continuarem,
derreteram logo.
- e darás de peito ao chão.

peço, jogando-lhe um pouco mais de lenha,
para aguçar os ouvidos nervosos,
que na calma seja mais sutil.
-voando seus pensamentos para a ventania de paz.

ao menos, almeje,
ser sóbria de ódio e raiva.
transpareça os olhos por segundos!

- são o que basta para lhe chegar
o vento que te falará por mim,
que te dará a minha sã palavra,
a minha verdadeira paixão.

                 III

hoje, eu parei.
parei e vi o horizonte vermelho.
vi com medo,
com rios nos pomos!

vi as trombetas do inferno soarem como trovão!
vi o céu, rubro negro de dor.
eu vi.
eu vi.

queria que não fosse inverno no nosso tempo.
queria florir novos sorrisos em seu voar.

queria pintar com meu infanto bater de asas,
mil obras de amor em teu leito.
queria muito,
muitas cores invadindo-lhe a cara.

que lhe apagar da sombra.

pois admito meus erros,
e mesmo assim sendo,
não vejo nenhum sorriso,
nenhum abraço voando à mim.

sou fruto da verdade,
da verdade das manhãs de limpo sol,
de brilhoso céu.

bairro preto e branco

bairro sujo,
de vielas tortas de sangue,
calhadas calçadas de passeio mal andado, mal singrados.

queria garimpar minhas próprias ruas,
descobrir em minhas entranhas
o calor das cores que tanto pintei.

o cheiro dos mil alveolos queimados em minhas sombras.

quarta-feira, setembro 15

onomatopéia carinhosa

o imenso sol que vazou,
de um simples apertar de cabelos,
foi suficiente,
e regou belos botões.

onomatopéias carinhosas,
combinadas à um franzir de rosto,
e uma voz afinada. bela.

que perdure dentre
as erupções de meu viver.
que perdure,
com seus braços longos e desajeitados.

terça-feira, setembro 14

poema escrito numa tarde de domingo

peço desculpas.
peço, por usar do fogo mais uma vez.
mas a poesia é inevitável.
é vital.

morro ao saber do fim da chama.
vejo o cerrar de meus cílios nitidamente,
todos ele grudados por lágrimas
e saudades.

esse é o fim,
esse é o fim, linda amiga.
lindo pássaro.

me enterro junto
às minhas palavras...
agora, serei um outro alguém,
borrado como esta tinta que borra as letras e seus sentidos,
vazio como céu sem nuvens.

serei só, e somente só, as cinzas de seu olhar.

mas, saiba,
continuo voando baixo,
por perto,
na falsa ilusão de caçar abraços.

areia molhada

aquele sonho
de encontrar alguém ao mar;
sonho de infinitas soluções
mas de poesia impossível!

o mar me soa diferente,
me arboriza simples emoções
mas continua impassível.

continua sendo
como a curva do oceano, que meus olhos
impedidos da vontade
vêem no horizonte.

é uma sutil ironia,
que um banco de areia
me dá por litros d'água.

saudade dos tempos

a saudade é
um terno pesar de
cheiros e toques.

os quais vamos
encaixando nos olhares
e assim aprendendo amar mais
essas vítimas do tempo.

é vontade,
alegria da distância
e deveras dolorido.

mas trabalha como uma exclamação,
afirmando aos gritos
a falta que um abraço faz.

domingo, setembro 12

os olhos do sol

o sentido que vaza do sol,
já não é o mesmo.
não vejo suas labaredas me alcançarem;
não sinto o calor me queimar as falas e palavras.

voe!
mas voe pra longe!

deixe só a saudade,
e amizade quente.

esqueça o amor ardente.
deixe as mãos dadas,
que assim
ficamos mais confortáveis.

sexta-feira, setembro 3

[mas antes...]

na atual conjuntura
me deparo com uma muralha.
de fogo e amor.

trepidante e quente.
amiga e amor.
presente maior que quero ganhar em todas primaveras.
POR MOTIVOS MAIORES QUE EU, NÃO POSTAREI DURANTE ESSA SEMANA QUE CHEGA.
ESTAREI VIAJANDO.
CONTUDO, VAI QUE CAI UM COMPUTADOR DO SOL BAIANO E PREGUIÇOSO DE PORTO SEGURO!

quinta-feira, setembro 2

hoje é dia do crisântemo

hoje é dia,
cultivarei minusciosamente meu jardim azul.

meus belos pés de sorrisos,
que chegam por um abraço ou beijo, enfim.

culminam versos estritamente sinceros
e adubam uma horta de malícias e beldades coloridas.

poema cafona

o amanhã nos dará noite bela,
sorte bela
e cuidadoso amor.

um sutil olhar dos céus
desenhará novamente todas as estrelas
outrora apagadas por feias fumaças.

quarta-feira, setembro 1

poema

mirante maltratado
mais maléfico mortal!
machuca mil meninos
mudando minha mera maldição.
me magoa magistralmente
maliciando minúcias maravilhosas.

mastro maior:
morra! mundo merda!

olho por olho o mundo acabará cego

o mundo cego que nos olha!
essa é a problemática matéria,
a viva ilusão que nos dá a falsa realidade
das ruas,
chuvas
cães e pessoas.

a maravilha dos amores,
a qual é acorrentada em poucos sábios,
em ímpares bem vividos,
deveria ser tônica em nossos dizeres.