quinta-feira, setembro 16

derradeiro fim de tarde, de noite, de vida

estava caminhando,
leve, e claro.

hoje, parei.

senti minha pele queimando,
de raiva,
de dor,
de saudade.

não havia água que cessasse a chama,
que lhe arrancasse da lenha a brasa.

[ o fogo, é feito do rancor,
da raiva que lhe foi passada!
realmente por erro de crianças,
por omissões de outras marés.!
e no rancor vai padecer,
vai ficar].

não havia água
para lhe refrescar a feição de inferno,
para lhe matar a sede do ódio.

           II
rego meu fogo com sinceridade plena,
abastada por um só erro,
que foi a tônica dos fins,
a gota transbordante do cálice.
um só errar,
que vez ventos tremerem todos os sentidos,
e virar os olhos em rubro desgostar!

sou, fielmente, fruto de sinceros dizeres,
de versos serenos.
- nunca faria mal a minhas próprias prisões,
nunca sangraria os olhos do pavão.

olho, com olhos de céu,
os andares do calor, da tentação,
e os vejo vagar pra longe,
de mãos dadas com sua angústia.

talvez gerada por mim,
mas sem a minúscula intenção,
sem o menor intento de correr lágrimas.

o vejo, batendo asas de cera,
que se desse jeito continuarem,
derreteram logo.
- e darás de peito ao chão.

peço, jogando-lhe um pouco mais de lenha,
para aguçar os ouvidos nervosos,
que na calma seja mais sutil.
-voando seus pensamentos para a ventania de paz.

ao menos, almeje,
ser sóbria de ódio e raiva.
transpareça os olhos por segundos!

- são o que basta para lhe chegar
o vento que te falará por mim,
que te dará a minha sã palavra,
a minha verdadeira paixão.

                 III

hoje, eu parei.
parei e vi o horizonte vermelho.
vi com medo,
com rios nos pomos!

vi as trombetas do inferno soarem como trovão!
vi o céu, rubro negro de dor.
eu vi.
eu vi.

queria que não fosse inverno no nosso tempo.
queria florir novos sorrisos em seu voar.

queria pintar com meu infanto bater de asas,
mil obras de amor em teu leito.
queria muito,
muitas cores invadindo-lhe a cara.

que lhe apagar da sombra.

pois admito meus erros,
e mesmo assim sendo,
não vejo nenhum sorriso,
nenhum abraço voando à mim.

sou fruto da verdade,
da verdade das manhãs de limpo sol,
de brilhoso céu.

bairro preto e branco

bairro sujo,
de vielas tortas de sangue,
calhadas calçadas de passeio mal andado, mal singrados.

queria garimpar minhas próprias ruas,
descobrir em minhas entranhas
o calor das cores que tanto pintei.

o cheiro dos mil alveolos queimados em minhas sombras.