quarta-feira, maio 26

feno

desejo, não tão cedo
mudar meu mundo

fundo meus desejos
como cidade
e cedo à meu irmão
as plaquetas de minha sociedade

quase estourando,
estou assim;
cansado de minha prisão
e do teste quase fatal.

queria tudo diferente
colorido e liberdade.
canal de chiados
dos montes aqui onde moro

meia dúzia de óculos
conterrâneos nos salvam
da ignorância pré adquirida

animo no meio dos cavalos, para viver.
e, aqui estou, e assim vou ficar
e, lá, quero estar
para dar minhas opiniões, longe.

dorian gray

sim, vejo ele(a)
agora

um novo instrumento para minha arte.
identifico-me orgulhosamente
com novas literaturas.
um quadro, com um belo rosto escrito

a escultura gritando a saída do mármore
como se fosse vontade própria.
modelo vivo de meus rascunhos
e a vida de a última pincelada
vítima da última pincelada, digo, facada;
quando a tinta esgota no papel
e toda você crava as idéias

a simples presença espiritual
me aflora a rte
me cortando como fogo
as linhas de uma nova escola.

a obra vital de minha morte poética,
eternizada em cheiros e flores

Harry! Se soubesse o que Dorian Gray é para mim!

escreverei, sim

por mais trepidantes que sejam
minhas letras são belamente
empacotadas por mim

para mim, digo.
paradigma, individual
de incertezas medievais
sonhos inalcansáveis,
mas sonhados com fervor

elas, vejo elas
gordinhas, agora
preucupadas demais
chorando diversas vezes
coitadas com negros fortes
assassinados noutros lugares.

são minhas letras,
meus poemas,
minha metalinguagem criticada.
quase por osmoze
elas saem de mim.
passo na virada do sono
transgredindo insetos gigantes
e o senhor das moscas
jogado ao chão, sujo,
acompanhado de seu bem querer

formigas flamejantes
me comem, e
me lançam
nesse barco
navegante naquele mar
que é cinza e duro

pouco depois,
vejo meus sonhos,
no trem azul
de gafanhotos negros
assassinos de meu bem querer

vejo minha pressão cair
de cara no asfalto,
e sair dançando, risonha
fugindo de mim, pros braços
do pano.