domingo, julho 31

poema de dois

secando as madeixas
curtas e, ao mesmo tempo, longas madeixas suas.
encurtadas, alongadas, e assim se vão.

crescendo, diminuindo, dançando no vento gordo
meio nêgo, meio castanho acajú.

e o negume
esquenta a nuca da moça
que quase dança perto do menino torto.



              [a flor e o verso se encontram
               às vezes para fazer poesia.
               29.06 às 20:34]

eu fico

reine silêncio
- sábio silêncio.
grite mais alto
- simples silêncio.

e me ilumino
refletindo
à flor da pele
minha cor.

refletindo,
iluminando
a flor que abraço
com o coração
calmo que me foi dado.

rezo,
com fé.
e minha alma canta
quieta.
berra calada
- olhando com dor
as incertezas
causadas mim mesmo.

mas, sei de mim.

saio de mim
quando devo
e me torno etiquetado.
quando devo.
quando sou posto
diante dessa liberdade;
desse sorriso
que se abre na flor
quando lhe chamo de cheirosa.

e vou até ela,
com calma silenciosa
e intensa
- só quando ela
se abre pro meu lado.
- só quando suas pétalas
roxoavermelhadas e aveludadas
também me afagam.

com calma silenciosa!
com intensa simplicidade!
com os olhos saltando,
e o coração pulando.

terça-feira, julho 26

mente sambada

como consegue
moldar as palavras
e esculpir os versos?

dança o sentimento
e possui um
cerébro arquiteto.

mente artesã
dos dizeres.
e
corpo moreno
do samba.

mundo que gosto

gosto do olho semi-aberto
do céu bem azul
e do gosto de usar terno.

gosto de dizer sem falar
e de ouvir o silêncio
gosto das cores
e do jeito que a moça samba.

gosto de gostar
disso e daquilo
gosto da textura do café
e de como irritante pode ser o mosquito
e gosto, também de sua pequinez.

gosto da poesia sem rima
dos versos livres e da leveza
mas se tiver um pouco de destreza
a cadência um pouco se afina.

gosto da boca
da voz rouca
da pouca roupa
e de quando pessoas
viram guarda roupas no frio.

gosto da fumaça do leite
da cor da água
e de frases que não entendo.

gosto de música nova
de rock velho
e de imaginar o que estar por vir.

gosto daqui,
dali
e de quadros surreais.

gosto de gente feia,
de gente bonita
e de como
a simplicidade
e a sujeira
às vezes torna alguém maravilhoso.

gosto de brincar com criança
e gosto de malemolência.
gosto eu de sambar
e gosto de ter vergonha
de isso se concretizar.

para que numa hora
eu dançe no meio de uma roda.

gosto das rodas,
das calotas raspadas
e dos parafusos.

gosto de olhar
e reparar.

mesmo que meu alvo
nunca saiba que meus olhos
o gravaram.

e também gosto
quando esse meu olhar
é descoberto em um segundo.

gosto de mim,
gosto do mundo.

segunda-feira, julho 25

preenchimento

hoje topei
com o amor.
e meu tempo está
sobrando.

não me afobo
e o respeito é tão completo
que a futura ausência [se existir]
será total aceita.

e assovio contra vento
se necessário for.

a não ser que ele pare
em frente de meus olhos
desenhando lágrimas
para eu parar!

e só assim
serei impedido.

e digo eu!
somente eu!
se o vento desejar
soprar e secar minhas lágrimas,
ele será bem vindo.

e se caso for,
serei eu o vento.
desenhando casacos
para protejer seu assovio.

o vento e a natureza
de mãos dadas.

  II

o amor
preenche.
e isso ele é.
- preenchimento
de lacunas bucólicas.

espaço entre a fala
e seu alvo,
quando preenchido de amor,
faz essa se virar em dizer.
dizer com olhos fechados.
dizer com os olhos amamentados
de prazer e sincera simplicidade.

domingo, julho 24

nunca é nunca

pelo fato de valer à pena
toda minha pele está entregue
e não há um arranhão,
não me cortei em cerca alguma
- não deixei desgastarem minhas unhas.

pois com elas
é mais malicioso apertar
a nuca
dizendo ao pé do ouvido
que nunca é nunca.

fator amor

é como se de cima
desse pra ver o céu em terra!
- o telhado harmônico da paixão
empilhadeiras de emoção.

e que céu é mais azul
que seu próprio?
mais lacrimejante
que seus próprios olhos
em momento
nos quais se aperta o veludo
da cadeira com a ponta dos dedos
de ver um acorde emocionado que flui?

maravilhas em se notar
a pifiedade de um olhar e
a maravilha de um aperto
de emoções!
- me diz que céu é assim?

quero saber!
e não me invente
novas curtas verdades,
compostas em mesa balcão de prosa!!!

estou dito!
estupefato!
e esse desbunde
de arquitetura versática
que tento poetizar
não é muito.
- mas em sua pequinez
faz o universo ser quase que nulo!
faz a pálpebras tremularem de aflição
junto de um coração sincero
que navega entre nuvens (in)descobertas!

e faz parte de meu repertório
de saberes
o fator amor.

quarta-feira, julho 20

haikai futurista

estou compondo novas canções
amamentando um outro amor
sem precisar me preocupar com a dor.

domingo, julho 17

segredo desenhado na linha da vida

me ajude a desenhar
seus segredos nas linhas
de minhas mãos.

minhas mãos
que estão
mais lisas do que nunca,
esculpidas no ar em elas cortam.

depois de desenhá-los
te darei minhas mãos.

pegue-as.

sexta-feira, julho 15

à tarde

fiquei sem reposta
e disse
que estava carregando a lua
ao invés de estar sentado nela.

não estou carregando a lua.
não quero ser mais que ela.
estou sentado em sua superfície.
te olhando.

calmo, sereno,
     direto
firme e  sincero.

é o melhor lugar
pra enxergar a beleza
e a sinceridade.

lugar que reina
quando existe paz.
paz e entendimento.

o amor tem essa alma densa de floresta

ontem me vi em uma floresta
daquelas verde bem denso.
floresta toda cheia de alma.
- confortável e alegre.

fui vendo as formas humanas 
formadas em troncos retorcidos
em folhas caindo
- quase sincronizadas com os animais.

e no meio, bem no meio
vi a real alma dessa floresta.
e por um momento até me confundi,
achando que era outra árvore.
e era fácil de se enganar,
pois esta estava toda contorcida, também;
era a mais abalada pelo vento.

contudo, ela não estava contorcida
pelo tempo.
- eram seus passos de dança, ali, no meio.
contudo, ela não estava abalada 
pelo vento.
- eram seus braços girando e girando.
formando formas coloridas.
foi a coisa mais bela
que meus humildes olhos
fitaram.

e girava, girava.
não cansava de girar
e dançar e girar.
desenhando no vento
o futuro.

há um tempo
só visito essa floresta.
e nela já montei minha
casa na árvore,
já caçei o que preciso.

por todo o tempo
visitarei essa floresta.
pois me acalma e me faz sorrir.
e dá vontade de ficar descalço

sexta-feira, julho 8

coração

um único dia de silêncio
me apertou as costuras do coração.

e de tanto pensar
o vermelho ficou mais forte,
com as artérias roxas,
grossas e pulsantes
- meio fora de ritmo,
mas procurando
a sintonia perfeita.

apertou as costuras do coração,
e com isso
o deixou mais firme,
mais preciso.

o deixou ciente
de que é assim.

quarta-feira, julho 6

dois animais iguais

qual ritmo
fará duas notas se abraçarem?

prefiro não saber
e tentar compô-las
eu mesmo.

com calma de formiga
e firmeza de elefante.

terça-feira, julho 5

carência

como posso não conseguir
o começo de um poema
se já tenho em mim
todos meus versos livres
e todas minhas letras?

se já estou afinado com o vento,
como posso continuar à deriva?

somente o tempo
aliado à mim mesmo
que me dirá!

a única pessoa 
que está no meio de meu caminho
é a minha pessoa.

e um belo dia
o amor receberá uma carta,
dizendo aquele sonho cresceu.
e que com toda certeza
o amor se estabeleceu.

segunda-feira, julho 4

silêncio gritante

quatro olhos fechados de testa grudada
e duas respirações que se cruzam no silêncio
às vezes dizem muito mais do que um discurso infinito.

e é abrindo a mente
com momentos precisos e preciosos
que a poesia se faz no ar,
e nos proteje do frio.

é de olhos fechados e com a boca que se vê.

ali, sentados,
meus olhos se aquietaram
e harmonicamente junto de minha boca
entraram na paz.

paz grande.
tão grande que perdi a fala
e o próprio olhar,
que enquanto estava no escuro
viajou por mil atmosferas.

e que viajem real, foi.
de causar careta e riso confortável
até na cara mais dura.

gaguejei meus sonhos, depois.
todos rodados.
e apesar de não lembra-los
prefiro deixar assim,
pois sei que estão aqui.
no fundo da mente,
quietos,
aguardando a hora certa de florescerem
e virarem mundo.

sexta-feira, julho 1

mãe lua

olhe! se não é a lua!
toda pomposa
alumiando com seu sorriso
a timidez de doces bárbaros.

olhe! e veremos.
e olhando com atenção
ela é maior do que parece
e pode nos iluminar
por muito mais tempo.

sem título

e esqueça de rodeios.
apagões deletam a falsidade
que não sabe desenhar reto.

e não abrace a solidão.
por que sozinha, a vida
se perde e se desilude
entre vãos curtos e apertados.

e não sente-se.
há um milhão de pessoas
precisando pensar!
- saia correndo,
e fique em pé.
imponha o amor,

que este se faz mais confortável.

freguês da meia noite

é como se fosse freguesa
dos olhos.
dançando sentada,
pedindo olhar
e negando o seu próprio.

fugindo entre outros corpos
cambaleantes
e fazendo uma simples conversa
apertar o coração e os sentimentos.

é freguesa única,
pois colore a feira
de sinceridade
e pinta sorriso nos passantes.