segunda-feira, maio 24

mademoiselle

escrevo nessa tarde cinzenta
chuvosa.

calho a achar metáfora combinante.
subo minhas escadas com medo de encontrar
o defunto deitado em minha cama.
lendo meus livros, tirando minhas fotos.
no verão de maio vi a canção parar.
desta vez acabou o disco,
e já foram tocados os dois lados.

o defunto me olha,
sim, o encontrei em meu quarto,
e resmunga torto a dança diluída.

reencarna, depois, na simbiose momentânea
de minha visita paradoxal.
e me vê uma dose de versos, s'il vous plaît.

só meia xícara, por favor...
meia basta?
não sou tã azul como você.
basta inteira para doer o osso,

doer bom.

é bom transviar o caminho
de minha chuva.


me perco no significado.

sinto agora seus braços me envolvendo

paro de me preucupar
tanto com o medo
quero fluir
nessa nova liberdade

o alimento do meu ego,
não quer ser o seu próprio
então pego esse papel
no seu teatro de sempre

dou nome a plantas amigas
e crio raízes em outro lugar,
numa escada em zigue-zague
eternizo aquele momento
eternamente fotográfico e mágico
perante aquele mar de cultuta,
onde listras se fundiram com o cinza de você.
e subiam mãos imaginárias,
no chão das letras
com certos presentes
e um fedegoso de jornal nos rodeando
discussões anarco-poéticas.

na base do trem,
onde descubro que tudo
aqueilo é real, o abraço
o cheiro, a poesia, a liberdade que me deu,
a expressão,
o troco,
a catraca, seu cabelo, sua mãe, meu pai, as películas,
verlaine, o sol, a lua, a medieval,
o ar, o queridissimo, o senhor feudal
o falso beijo imaginado.

encoste

minha mãe está oxidando
palavras não param de fugir
de meu cérebro
para os dedos. Oh lord.

me sinto medieval,
o servo e o rei
e está ficando díficil de respirar,
e ai volto à você, sol.
estático pelo papo
e minha mão em cabelo
enquanto a drámatica dorme.

aceito o abraço
ou até mesmo sua perna
para encostar minha cabeça