domingo, fevereiro 28

vergonha nº 3

queria você, querendo
correndo.
temendo nosso acontecimento
com esses seus olhos de cimento
me deixando tremendo

comendo carne crua.
lambendo os dedos
olhando pra você, com vontade.
esquecendo do momento
atento só ao seu olho
alimentando essa cor bela.

bebendo eu, do avesso
respiro eu fundo
e penso em seu olho
e seu nariz.
atormento sua boca e seu seio
dormindo,
colhendo o seu anseio.
ansiosa, preciosa.
teimosa.

somente com seu olhar rimado, paro
e de repente vem esse seu cheiro,
me lava.
larga eu;
deixa eu aqui com seu olho.
o meu e o seu, grudado um noôto
ôto?

vem cá.
te prendo.
te atendo
te socorro
no rio-escola-montanha-sofrimento.

do marrento.
do atormento
do lamento.

te olho, nesse seu olho.
repito e repito.
(repito)

te tendo
te entendo, te lendo.
sabendo do seu gosto lento.
te lendo, te aprendo.

quarta-feira, fevereiro 10

rabisco

escrevo essa quase-grosa
grosa de letras
gozo versos
e verbetes
e trocadilhos
moderninhos
foda-se.
mas não vejo saída
eu sou dessa época.
fazer o que?
grudou,
na minha caneta, no meu moleskine.
essa poesia incolor
já faz parte do cotidiano,

meu eu lírico
está falando mais alto agora
e ontem
e daqui a pouco
e amanhã
e na minha morte

quero meu caixão cheio de flores
e poesia.
pode ser dessa sem sabor,
divertida de ler
iguais as minhas,
pode ser dessa
pode ser a das flores
do mar, do chão,
da terra, da pá, da madeira
do meu irmão
do pessoa, dos andrades
pode ser.
só quero que seja poesia,
de qualquer espécie.

quarta-feira

veio o trator
me ensinou o que sei,
me deu esse tiro
de livros e movimentos

veio do nada, o trator
comendo e matando
matando minhas criticas mal formadas
formando novas.
debulhando cada frase dita.

consumido do ódio e pelo ódio
passa, quem sabe? uma falsa calma, uma vez ou outra.
calma que é desvendada,
por um simples olhar

esse olhar matador
de trator mesmo.
gordinho e robusto
me apontando o que é bom.

                   (desculpe-me os termos)

Letícia

                      I
eu mundo
eu mudo o mundo, será?
pertubo
escolho com cuidado as palavras
penso, repenso
conto pra todos canalhas.

tenso, continuo no lápis,
no papel,
léo, só a idéia do poeta,
só a essência.
é o que sobra da minha vã,

rã, pulando da boca pro papel.

                    II

quero mudança
e foda-se deus.
e tudo o que ele sabe.

sempre dizem isso quando algo dá errado
''ele sabe o que faz''
sabe o caralho

a gente não merecia isso.
esse sangue mensal
e nada de vida nova.

mas, calma, Mãe.
quem sabe essas minhas rezas poéticas.
quem sabe essas vãs sutilezas
vão mudar alguma coisa.

chega de sei idéia
e de ter esssas digressões.
esperando que a Sofia chegue.