segunda-feira, maio 31

me exploda, terrorista

tento,
       claramente te explodir.
       e deixar um clarão na calçada
       visível pro ônibus e borboleta

penso,
       voar na direção da chuva
       me imagino deveras alado
       rindo do seu sorriso


mato,
        meus cadernos,
        veja bem meu bem
        eles me confortam
        quando acabam
        e vejo ele todo recheado de azul.

domingo, maio 30

versos brancos recheados

não queria só meia xícara, não
por favor.

quero o garrafa toda
sentada em minha mesa

me olhando,
e contando sobre como foi o dia

encenando essa distância
no sarro da risada

observando e provando
o que observo nas palavras

que são colocadas ali na tela
ou num envelope branco

não quero só meia.

quero o dobro,
transbordar de versos

colhendo o que chama
de incrível

e colocar numa bandeija antiga
e colocar na sua campainha

depois de sentar e olhar
queria esvaziar a garrafa toda

te-la para mim, ó, café do meu sol primeiro
estupefada de tantos versos

vivo cada uma de minhas vidas presentes
como o filtro.

esperando a água passar pelo meu pano grosso.

não queria só meia xícara, não.

quero seu samba
no meu tapete,

seu sorriso no meu colo.

e falo mesmo, e falo denovo.

sexta-feira, maio 28

cãibra

talvez por falta de flore e cor,
uniformes cinzas jogados
com bigode e chapéu no corpo,
davam cãibra pontiaguda
em seus heróis escondidos

naquela panela airada
de versos,
que voava fora de curso,
magneticamente perdidos,
talvez sorrindo,
eles voaram

martelos de pedra
construuíram uma construção flácida

calando no corpo do copo
os corpos do cálice comandado.

sem nome

agora chegou a hora
e me dá de prato cheio, o que comer.
meio azedo vou mastigando
com força
inuminando-os

será que será
como desejo e sonho ser?
me inibo de vocês aqui, malditos.
no corredor ou livro
livro de mim a ignorância
do monte
ou pelo menos tento

sento aqui,
esperando chover em mim.

mas, cuidado, jovem poeta.
não se mate em seus sonhos,
vivendo seus pesadelos.

devaneio vital nº 1

tento escorregar
mas vejo longe
chegar motivo
para eu subir mais

e lá em cima
cuspo para baixo
tudo o que não sinto
e levo tiro no peito

enquanto caio
vão passando por mim
todos os pescados da vida

e cada um me sorri
ironicamente o véu
me contanto alegremente que morri.

quarta-feira, maio 26

feno

desejo, não tão cedo
mudar meu mundo

fundo meus desejos
como cidade
e cedo à meu irmão
as plaquetas de minha sociedade

quase estourando,
estou assim;
cansado de minha prisão
e do teste quase fatal.

queria tudo diferente
colorido e liberdade.
canal de chiados
dos montes aqui onde moro

meia dúzia de óculos
conterrâneos nos salvam
da ignorância pré adquirida

animo no meio dos cavalos, para viver.
e, aqui estou, e assim vou ficar
e, lá, quero estar
para dar minhas opiniões, longe.

dorian gray

sim, vejo ele(a)
agora

um novo instrumento para minha arte.
identifico-me orgulhosamente
com novas literaturas.
um quadro, com um belo rosto escrito

a escultura gritando a saída do mármore
como se fosse vontade própria.
modelo vivo de meus rascunhos
e a vida de a última pincelada
vítima da última pincelada, digo, facada;
quando a tinta esgota no papel
e toda você crava as idéias

a simples presença espiritual
me aflora a rte
me cortando como fogo
as linhas de uma nova escola.

a obra vital de minha morte poética,
eternizada em cheiros e flores

Harry! Se soubesse o que Dorian Gray é para mim!

escreverei, sim

por mais trepidantes que sejam
minhas letras são belamente
empacotadas por mim

para mim, digo.
paradigma, individual
de incertezas medievais
sonhos inalcansáveis,
mas sonhados com fervor

elas, vejo elas
gordinhas, agora
preucupadas demais
chorando diversas vezes
coitadas com negros fortes
assassinados noutros lugares.

são minhas letras,
meus poemas,
minha metalinguagem criticada.
quase por osmoze
elas saem de mim.
passo na virada do sono
transgredindo insetos gigantes
e o senhor das moscas
jogado ao chão, sujo,
acompanhado de seu bem querer

formigas flamejantes
me comem, e
me lançam
nesse barco
navegante naquele mar
que é cinza e duro

pouco depois,
vejo meus sonhos,
no trem azul
de gafanhotos negros
assassinos de meu bem querer

vejo minha pressão cair
de cara no asfalto,
e sair dançando, risonha
fugindo de mim, pros braços
do pano.

terça-feira, maio 25

terça noite

conversamos sobre o café
ou cigarros.
discutindo risonhamente conjuntos mineiros
estranhamente descombinantes.

sylvia plath e suas
inúmeras vidas de gato
entopindo nossas orelhas.

segunda-feira, maio 24

mademoiselle

escrevo nessa tarde cinzenta
chuvosa.

calho a achar metáfora combinante.
subo minhas escadas com medo de encontrar
o defunto deitado em minha cama.
lendo meus livros, tirando minhas fotos.
no verão de maio vi a canção parar.
desta vez acabou o disco,
e já foram tocados os dois lados.

o defunto me olha,
sim, o encontrei em meu quarto,
e resmunga torto a dança diluída.

reencarna, depois, na simbiose momentânea
de minha visita paradoxal.
e me vê uma dose de versos, s'il vous plaît.

só meia xícara, por favor...
meia basta?
não sou tã azul como você.
basta inteira para doer o osso,

doer bom.

é bom transviar o caminho
de minha chuva.


me perco no significado.

sinto agora seus braços me envolvendo

paro de me preucupar
tanto com o medo
quero fluir
nessa nova liberdade

o alimento do meu ego,
não quer ser o seu próprio
então pego esse papel
no seu teatro de sempre

dou nome a plantas amigas
e crio raízes em outro lugar,
numa escada em zigue-zague
eternizo aquele momento
eternamente fotográfico e mágico
perante aquele mar de cultuta,
onde listras se fundiram com o cinza de você.
e subiam mãos imaginárias,
no chão das letras
com certos presentes
e um fedegoso de jornal nos rodeando
discussões anarco-poéticas.

na base do trem,
onde descubro que tudo
aqueilo é real, o abraço
o cheiro, a poesia, a liberdade que me deu,
a expressão,
o troco,
a catraca, seu cabelo, sua mãe, meu pai, as películas,
verlaine, o sol, a lua, a medieval,
o ar, o queridissimo, o senhor feudal
o falso beijo imaginado.

encoste

minha mãe está oxidando
palavras não param de fugir
de meu cérebro
para os dedos. Oh lord.

me sinto medieval,
o servo e o rei
e está ficando díficil de respirar,
e ai volto à você, sol.
estático pelo papo
e minha mão em cabelo
enquanto a drámatica dorme.

aceito o abraço
ou até mesmo sua perna
para encostar minha cabeça

domingo, maio 23

sexta noite

acordei com a fogueira
me cutucando a perna com chama
escuramente quente e vermelha, ardia
três ou quatros poetas riam com a cabeça pra cima

sob as notas de um samba malandro
sambando sob o fogo
as palhas
e violões desafinados.

o bigode sobre a percurssão maluca
e sua dona querendo o tirar de lá, do vinho.

mulheres bêbadas grintam por nomes estranhos
e a camionete se enche de loucos.

solte seu cabelo

desenho  flores
azuis e grandes
com as letras
pretas e miúdas

enrolo-as num
pano e te dou
de olhos fechados
de cílios grudados

espero um sorriso
de batom vermelho
remoendo meus óculos
coçando meus sentidos

escrevo uma ou três frases
grandes ou pequenas
retas ou tortas
porém, sinceras até o fundo

amarro-as ao seu cabelo
e te deixo levar
sem perceber
que me leva junto

doente nas palavras
rezando pra você soltá-los
e me sentir
grudado

erre, vê

conto segundos e horas
e letras corridas.
durmo para o tempo terminar
e eu parar de só desejar, e viver

na encenação de pseudônimos franceses
brincamos de ser nossos mestre

cantamos em algum palco por ai.
correndo e saltitando
com sorrisos cravados no canto do lábio
brincando de rimbaud e verlaine

pano azul II

sinto o confortável da pele
pra tatuar no pano minha distância
do desejo
crente no saber do futuro que há de nos vir

senhor das letras

vivo, pois, na alergia de meu surgimento
sugando minhas raízes
até a última folha
na lezera de meu ser, estar ficar.
colhendo insuportáveis sementes
gordurosas
e adultas
na medida do impossível

creio em minhas palavras sujas.
interminando a matinal prisão
prisão colante e saturada
de meus queridos amores
distantes e inalcansáveis

sexta tarde

olhei para trás
oh, meu senhor!
vi terror e sombra.
saindo da flor bela
dos passos e rodas de carrossel.

não não não
não quero não.
desejo, mas me medo.
não o de antes,
contrário àquele.

tenho certeza absurda
muda pra mim.
acorda e muda.
resolve tudo.
tira o peso da minha barriga

p'ota pessoa entrar e chegar
encenando um chá numa sexta à tarde.
quero a chaleira inteira.
preu embriagar minha pançola
ardida e desconfiada.

pinte sua cara de azul

confundo-me agora
com sentimentos tropeçantes
que vieram molhados de longe,
comendo tudo e me amamentando
com o calor e a cor azul
que masturbam meus olhos sombras
chorando na calçada com um ou dois amigos,
rindo e me estupefando com alegria,
que tropeçam na minha cara gorda
pisando e amassando minhas idéias
malditas e sem escrupulos
que me fazem ter medo
muito medo.

eles renascem, no simbolismo de hoje
não tente me matar, por favor, Verlaine!!
escuro da gente
longe, na chuva e fumaça, e cela.
agasalhada de verde.
corra, coelho, corra.
pro chapeleiro.
isso me conforta

temo nós dois
um pouco distantes
mutantes de nós mesmos.

terça-feira, maio 18

pro recheio

                I

estamos aqui e acolá
o lenço na cabeça e as palavras
com o cigarro pendente no lábio
quase flutuante, devido a energia
proviniente do corpo

presos pela manhã
na cadeira de madeira
um aqui e outro acolá
discutindo Rimbaud,
no romance, perdido nas folhas
e na sutileza da beleza de uma música cigana

a fome que nos dá
e a vontade de sair daqui
e ficar ai
com a poetisa da vida,
encenando no setembro
a sua peça vital,
onde a platéia terá presente meus versos
encrustados na alma dos bancos

            II
queríamos só liberdade,
queremos poder respirar,
na nossa arte...
que foge nalguns livros e películas
fervendo em nossas mãos
na ponta dos deods de piano,
entrelaçados no seu esilo
cozendo versos livres
na eminência de ser você.

desejamos um lugar
livre e de fulgaz espontaniedade
música boa e grande energia,
petrificado na paixão com a qual me conta
sobre o galpão sujo e com tapetes e sofás

          III

não canse de minhas palavras.
em ano próximo
a poesia dos mortos voltará,
e poderemos (tentar) mudar o mundo

o poeta bebado
e os cílios grudadinhos, igual tempos atrás.

segunda-feira, maio 17

haicai

espero,
lá,
você, toda linda.

pano azul

escolho bem essa próxima canção
com medo da arma
saltando, com o pano azul na cabeça,
do trem garoante.

acende o cigarro
e o fogo ilumina,
na escuridão da cidade grande,
seu queixo e brilha nos olhos
só ouço o queimar.
estonteado.

sinto sorriso e fumaça vindo na minha direção
mas por frações, somente,
e some par'o lado
no vermelho do vinho.

o balão lhe chama.
chama a chama para cama
da culturariedade do fogo frio
e leva pro teatro cheio o olho brilhante

escolho bem,
mas espero aqui.

garoa

meu olho está doendo
de tão bonito.

entrou isso nos ouvidos
daqueles óleos pincelados
seculares, brotando das paredes da luz.

disse a beleza em pessoa,
julgando a legitimidade dos bandolins
com a sobancelha franzidamente levantada.
desconfiada,
falando do pandeiro,
do cachecol alheio.

passa pelo piano e me pede por música,
arranho o disco daquela estação, um pouco.
descrevo as notas
e logo após o alto de óculos solta o sorriso
em escala menor.

no outro caminho vemos seu clone dançante
rodopiando com movimentos mesmos.
leve igual.

me separo, para meu outro sonho.
uma cantoria magnífica.
cantante pelo ar,
no pé das cuspidas pesoas deslizando pelo céu

sinto o desejo quando a vejo novamente.

terça-feira, maio 11

pinheiro

atravessei [de novo]
a rua para apanhar aquele som,
nua e cansada.
tonta com as faixas do chão
colhendo nos pés o sangue.
estava longe e cego
e o vermelho circundava o duro da boca, tímido.
andava trocando passos por piscadas
entre a cegueira.
alcançava, quase que hermeticamente
notas giratórias que fluiam os membros
espacarticamente doídos.
meus sentidos ficavam entre as duas calçadas
e no cume da minha dança
estaria sem mais nenhum,
fingindo o sorriso,
que acabara no tesão dos giros e pontas de pé.

o som me espera, como sempre
quebrando vidas com seu volume
trezentos e dez decibéis de vontade e amor pulsante
na feição das nove comas de distância.

eu carrossel, e
ele exalando cheiros diminutos,
agudos.
carente da surdez
na iminência dos passos,
na pertinência da distância.

polução

era tarde cinza e densa
comia meus sorrisos brutalmente
e diminuia a zero o volume do som
triturava meu irritante cabelo
e machucava.

não mais,
é azul e leve.
pisa em qualquer fogo que vê
e os que não se apagam,
os toma pra si como antigos amigos.

cola meu olho novamente
animal negramente sedento
frente à um rio vermelho e inchado de água pura
quase cospindo fora seus benéficos

quero meus melhores
peco e ando torto e obliquo,
mas entre minhas tranças musculares e tropeços
estão eles.
é só desenrolar que fácil acho.

é minha cama, quando acordo
enrugada e fina, espalhada pela madeira carunchada
cobertor grosso da goza do saber.

eu acredito em dedos

abri minha bolsa
e tirei de suas entranhas o suor amargo
a bolsa, sujamente mordeu minha mão e deixo nos seus anais
meu azedos dedos.
''VAMOS, RASTEJEM ATÉ A BORDA
ESCALEM SUAVEMENTE O NEGRO DA DOR''
alguns caem e me doem.

por não poder mais segurá-la,
a bolsa gorda e suada roda pela terra
e aos poucos me dói mais, no interno.
derruba meus ícones:
faz um laço com sua alça alucida.
os pontos da costura vão se soltando pelo caminho
e vão dando suas mãozinhas para meus dedos.
custando para me achar.

pensamentos pós-agora

havia um medo
medo bem grande
agora torcido pelo tempo.

sento no chão duro
em cima do medo enorme
sorrio pra cima
e deixo escorrer o sorriso
que infesta e repete o começo.
mas desta vez fica até o fim
sim, gruda no nosso olho
(um olho só, pro par todo)

escondo eu
sob a cama
retorcida e insistente.
implica e replica a volta de terceiros
pede, me enforcando o olho,
por suor e sono
cinema e risada
pede que eu dançe novamente.
aguarde por novos textos.
em breve.