sexta-feira, junho 18

verlaine

me vejo na platéia
encolhido, de preto sujo.

olhando pro lado, sem prestar
atenção no triste fim.
prestando amor ao começo,
às vontades, ao banco do lado.

sonho com essa fileira e com toda
a acústica do anfiteatro amado
ecoando meus versos pensamentos,
rodopiando pelo palco e dançando em nós.

me vejo,
me vejo,
pousando como ave,
no ensaio sobre o drama prostituto.
querendo pisar em tudo,
e bater minhas asas fortemente.

levanto.
acaba a peça.
e pego a mão,
nossa mão, uma mão.
sem dedos.
um bloco de pele sedenta
balançeando para frente e pro lado,
andamo-nos pelas crateras lunares,
claras e macias.

sento.
sinto a mão quente.

penteio cabelos,
com os dedos,
para fora dos olhos,
fundo narizes, e olhos secos e cegos.

quero ser lua e sol do meio dia, novamente.
por enquanto sou invasor,
rato na parede,
vigiando de longe o agora.
me escondendo quando devo,
me exaltando sem querer
quando dou o bote das letras.
minhas armas roedoras, as letras.
uso-as de bem,
de bom,
querendo bem,
sendo bom.

posto dois ou mais selos,
com desenhos recheados de azul.

esperando crer no futuro que
esperamo-nos.

esperando findar na verdade
do agora
a loucura do que vem ao nosso encontro.
vem como amigo amor.

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