sexta-feira, junho 18

pensamento aleatório do inexistente Arthur nº 1

     Na seca, abro a azul geladeira, fedida; esquecida pelo supermercado. Procuro a mais gelada água para me molhar a garganta feita seca, pelo conhaque.
     Talvez eu nem lembre de como vim embora, mas sei que lá estavamos ouvindo algum blues setentista, rodeados pela fumaça do ambiente e pela luz baixa. Umas velas na mesa. Porra! Sem água gelada. A do barro me serve melhor do que nada. e meu fígado solta seu bafo em minha boca. Não adianta escovar os dentes por cinco ou seis vezes. Cadê o cigarro? Ahh, esse não acabou. Acendo um e me sento à tevê. Um jogo escroto ilumina minha cara e cabelo bagunçado.
     Hoje é sábado.
     Já que surgem pessoas aqui. Talvez nem sejam desejadas, todas, mas aparecem mesmo assim. Agora é o que? Três da tarde? Talvez. Vejo que o dia estreiou sem mim, e me afundou no sono e ressaca matinal. Acordei trezentas vezes pela manhã com o galo filha da puta gritando na minha janela. Como se quisesse me acordar. Só eu, só eu ouvia. Cóóóóóó... ACORDA!!!!!!! ACORDA ARTHUR.!!!! E ainda por cima era desafinado. Errava suas chulas notas de bico, e engasgava no meio do cocoricojar. Nem isso sabe fazer.
     Creio que lá, antes do galo, da ressaca, do blues, e até mesmo do conhaque, dois cidadãos me convidaram para uma espécie de banda. Aqueles bacanas que você conhece há anos mais nunca lembra o nome, mas se julgam seus brothers. Talvez o Ramirez, ou Sabino. Não sei. Sei que aceitei. Várias vezes pequei dessa maneira, quando olho de soslaio as propostas e quando vejo estou numa garagem ou palco destruído. Pegarei uma cerveja. E nesses palcos, bêbado acabo por terminar as músicas sem emoção alguma. Fico só pairando nas cordas, desatento. Mas sempre tocando em alguma banda de merda.
      Daí me entorpeço infinitamente e caio na risada com dois ou mais amigos.
      Tenho que para de levar essa vida à la Novos Baianos FC... Tirar o pé do teto e por no chão. Firme.
      Outra cerveja, outro cigarro. Outro gol. Puta merda. Que jogo horrendo.
      Quem é?? Quem será que é? Eu quem, inseto? Entra Bira.
      O Bira sempre veio aqui. Nem sem onde o conheci, mas vem aqui, acho que antes de mim. Tão sequelado que acho que nem percebeu que o dono do apartamento mudou. Avoado, vive viajando, brisando com cadeiras e coco de cachorro. Cadê o Chico? Chicooo, vem menino! Vem, vem.
      Ganhei o Chico no ano passado, de uma menina namorada escrota. Ele foi e é melhor que ela. Menina desgraçada. Me fodeu e me deixou só, nessa merda de apartamento. Sujo. Ele é pequenino, o cãozinho. Pelos curtos e marrons e brancos. Ontem ele vomitou mais que eu, hoje.
      O Bira inventou de dar amendoim pro coitado. Bira! Pega mais cerveja lá.
      E ai, Malu? Puta que pariu. A Malu sempre veio aqui também, mas antes ia na minha outra casa, e não aqui. Sempre junta de mim. Vivia cantando com sua voz de lua cheia. Mas anda rouca e doente, sempre.
      O jogo acabou.
      Antes da ressaca, da água quente, da geladeira velha, do conhaque, do blues, do bar, teve outro dia ruim, igualzinho este.

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