quinta-feira, janeiro 27

nova bossa nossa

bossa no vento,
na nova aurora floral.

bossa de resguardo:
nova armadura para verso quebrado.

desenhos de acordes novos
invadindo meus impecílios e retratos
de uma maneira cáustica,
fazem tudo pelo bem do meu bem,
tudo pela dor da saudade.

fazem tudo de mais e de menos.
e eu não vou duvidar.
não vou descartar o futuro
e suas quase certezas.

de ir,
e deixar ficar.

ou de ir
e levar junto a cor da paixão.

sexta-feira, janeiro 14

relato dos futuros sonhos

eu quero a sorte
do desentedimento necessário,
da falsa harmonia de desafinados verbos.

ser livre do livro
e ser meu.
ser ar de letras.

vento que traga
a dor e a monotonia;
o riso e o amor.

quero essa fonte escondida
em meus sonhos.

quero versos soltos e amados;
fluidos num tema,
como sopro de jazz,
como beijo sagaz.

garoa de outono

folhas a voar diante de meus olhos.
folhas perdidas em ventos sujos:
ventos de fumaças.

trazem o escuro,
apagando a paz e a calma
apagando as estrelas.

preciso ir,
sem voltar cedo com a alvorada.

adeus sol
adeus céu
estrela nunca mais.
nunca mais poema.

quarta-feira, janeiro 12

o tamborim e a caixa do surdo agogô

vísceras do som:
peças suplementares de outros carnavais!

alimentando as surdinas
dos jovens malandros
que transcendem o ritmo corriqueiro,
e se projetam na leveza da harmonia.

talabartes dos sorrisos,
segurando a alegria num outro nível:
sustentada pelas batidas surdas
e pelos tremores repicados.

a noite brilha sob nós
e o som vai se misturando na fumaça.

quarta-feira, janeiro 5

síncope

quando o sol se fez no hoje
fez claro no meu tempo
a glória da grandeza.

por minha vez,
me fiz filho!
a olhar mãe amamentando dezenas de outros.

é como se fosse filtro
das vontades do rei-sol
- filtro grosso, robusto.
pairado na sombra de um sonho.

no sonho de um sutil adormecido.
quando sua mente se faz das lembranças banais,
ativado por uma breve poesia cerebral.
a síncope do sonho,
se fez aqui, na linha e no fluir,
nas notas de minhas palavras.

quando o sol se fez no hoje,
a vida se sutilizou um tanto mais.
simplismente está aqui,
paralela e, ao mesmo momento,
tangente ao fato hostil que é ser.

terça-feira, janeiro 4

sala sonora

na sala sonora
desenhamos o amor no chão
da sala sonora.

com nossos lápis imprecisos
arranhamos sentimentos
na sala sonora

servimos de discos,
rodando e rodando
dum lado pro outro
na sala sonora.

eu perco o resto da minha mente
na sala sonora.

como se parasse o tempo,
alienasse os sentidos.
e a vida se fizesse de um só momento
na sala sonora.

terça-feira, dezembro 28

o aprontamento do beijo

olho que sente o toque
que apronta os impulsos do aconchego
é mesmo olho que lê o lábio
mesmo que fechado.

são alguns centímetros eternos,
e rapidamente arrepiantes, calorosos.
é só um nada entre dois sorrisos
mas quando se ouve a dança sincera
esse nada se vira num espetáculo.

são alguns segundos intermináveis
que no escuro de nossos olhos fechados
desenham leve o setimento,
transformam o não-palpável
em forma concreta, colorida.

transforma o amor em saliva e nó.
transforma o pensamento num só.
ali e naquela hora.

pode durar somente ínfimos minutos,
mas o infinito rouba a cena
e o beijo se enche dele.
o beijo,
o gosto e a pele.

domingo, dezembro 26

me dói a espera

pura vaidade do pensamento
- ser a união forte de duas almas.

vaidade ruim.
descolorida de mal cheirosa,
que cada vez mais é alimentada pela raiva de outros,
maltratando dois sorrisos.

por ora é o que se passa
- e esse asco só se aumenta, dia a dia.

e cada vez mais o chorume do meu amor aumenta.
e faz a saúde esvair-se rapidamente.
ela pula dos olhos,
dos coros e choros.

e um rio lagrimal me afoga.
machuca meu querido futuro,
meu pesado querido futuro.

entendo essa distância,
essa aversão aos passos,
essa distância da dança que me levanta,
porém a compreensão não é minha vizinha
e não está presente nalguns olhares flamejantes.

ao meu ver, o tempo não fez seu papel.
digo o tempo de antes, o tempo dentro da minha cabeça,
o tempo de antes do retorno.

ao meu ver:
o tempo se ampara sendo assassino.
- de amores e mudanças.

sexta-feira, dezembro 24

definição

é definição:
a palavra aguda
que muda o sorriso.

o pedido,
cercado da chuva,
se fez grande.

e em sua grandeza,
se fez realeza
o sabor do beijo.
e levado à diante
o atenuante amor
se fez feliz.

sábado, dezembro 18

(des)levedura

a desfermentada carne vossa
é o verbo saturado do material;
calhado do suor  concreto.

confundindo as frases
num estranhado suingue;
é o grosso da idéia.

maltratado.
escroto.

é como se deixasse
ir ao longe seu maior bem,
sua maior arte composta;

é um acorde pisado,
pisoteado,
amargamente abandonado.

é deixar de lado sua fonte
não é o mais confortável pra cunjuntura atual.
não é bem.
e este vai se perdendo,
junto das formas significantes
junto do significado.