segunda-feira, junho 18

labirinto

o chão;
casado com os pés
da moça
como se laços
lacrassem a paixão
pela terra e pelo movimento

a parede;
superfície confortável
pro verbo.
caminho que deixo
rastro que entorna
as cores perdidas
afim de alinha-las

um labirinto lúdico
afortunado pelas diversas
tonalidades e pela
gentil vontade de agradar
- um labirinto
que ecoa versos e notas
provocando a dança;
atiçando o íntimo

e nesse caminho
cores, tons e sinceridades
flutuam em um mar
ainda não descoberto,
mas que se abre pro novo
e deseja ser mergulhado

(a menina dança
sob o mar, gira nas ondas
e se apoia na maré
enquanto a água
sob seus pés
vai se colorindo de poesia)

domingo, junho 10

atirador

sou um atirador
com o olho na mira
que faz o olhar
queimar a roupa do alvo

esvaziando o tambor
acerto minha própria sombra
minha própria boca
e já não me importa

sou um atirador
e assim sou
pois não há lugar
e nem tempo
para ser alvo

acerto em cheio
o meio do espelho
dividindo meu próprio
feixe de luz
é a reordem
da desordem

me organizando
para poder desorganizar
com propriedade
minha própria e única
realidade

sexta-feira, maio 11

tem um pote
em cima do balcão
lá da varanda que não
tem mais banco
não tem mais
nem porta pra entrar
não podecomo faz?

tem o pote
que dentro dele
não cabe mais
rebarba não
pode mais
fica rosqueado
amarrado
na parede.

quinta-feira, maio 10

moldura

como faz de poucas palavras
e só vontade
um sentimento assim sereno
solene sereno bem calminho

nos dias quais
os ventos baixam por aqui
a lua azulada tece sorrisos
nos passos
e os traços compassam
os incertos palavreados

como faz
nesses dias dos quais
cianoretratos
se encontram pendurados
- como faz uma moldura
pro rosto;
pros novos desconhecedores?

terça-feira, maio 8

casa


um par

um lar
pra lá da estrada


não vá
negar

se a porta
te leva aberta
pro fundo do mar.

e também
está aberta a janela

pronta
pra
alguém pular.

vai sem medo

evapora coração
domina o espaço
que lhe é dado
que não há motivos
para não.

para não,
sentimento gordo!
se coloca no lugar
do fogo pra se ajudar.

e depois de evaporado
vai indo com o vento
que ele carrega com aptidão
e te trás de volta na hora certa
com a caça.

não se importe em ir
que sempre chove
e você me molha
e carrega meu corpo
com seu cheiro e cor de novo.

um tempo

um momento
pro desatento
muleque
que nem sabia direito
como era a vida que vivia

um momento
pro desemprego da preguiça
pra morte do desajeito

um momento pra mim
e pra todos nós.
pois sou todos
e cada um desses
tem eu no seu meio.

um momento
confortante
um momento ser humano.

um muleque desatento
escrevendo ao vento
o tempo que quer.

com traste

luzes (ou não)
olhos
e ação!

reajuste do
peito diante dos seres
inanimados ou serelepes humanos

rebuliço instantâneo
capaz de naturalmente
organizar e escolher o momento
exato e as poses
que cabem no mundo que vejo

terça-feira, abril 24

poema de perdão

como será que faz
pra não ter medo do que foi feito
como que faz isso
se já está concreto na memória
aqui, ai e lá

como posso imaginar o pior
será que devo imaginar a calma?

justo na hora
que a irmandade é descoberta
na hora que o calor da alma ferve
as gargalhadas.

como faz pra pedir perdão
por algo que, mesmo que natural e belo,
machucou a sutil gentileza de olhar nos olhos?

questiono o vento
por que é torturante, agora,
fazer uma ferida, do tamanho que seja,
no peito de alguém grandioso
calmamente gracioso!

segunda-feira, abril 23

poema novo

é chegada a hora na qual não cabe mais orgulho
dentro da cabeça folgada que ouve e ouve e ouve mas não fala nada.

e a partir de agora não seremos mais esquecidos
não seremos esquecidos pois transpiraremos a vitória
vão escorrer, as mudanças.

vai sair do sonho do poeta a poesia e
essa vai ser o agito da vida; o grito do nosso desespero.
vai chegar na margem da loucura, no equilibrio da sanidade.

não devemos, de agora até o infinito da vida
nos negar junto da podre preguiça que cega o amor
que existe por nossa própria intelecta carne poética.
é a hora de chegar os verdadeiros sorrisos,
nada da pegajosa imaturidade.

os passos serão mais precisos, compassados,
por vezes desalinhados, mas não mais desprezados!
cada um deles explorado como as palavras escolhidas pra poesia.

só seremos amor!
nós.
eu, meu coração e minha mente
ajustados, cada uma afinado em seu tom melhor
absorvendo precisamente tudo que há por vir.