há um medo
um medo enorme
cruzo um só dedo
esperando que o medo se conforme
não sou sua vítima
não estou na sarjeta
coloquei todos os outros num trem
que vai pra longe, bem longe
estava me enchendo
eu não estava crescendo
estava ficando esquecido
eu não estava pronto
fugi pra bem longe, bem longe
mas pra outra direção
fui indo, até cansar
cansar de andar
e de ter medo.
segunda-feira, outubro 5
quinta-feira, outubro 1
O cheiro
eu quase podia tocar
no cheiro daquela melodia
atravessando a rua, rua cheia
moderna, cheia de sons e cores
fui seguindo só um.
um só, eu fui seguindo
e passando, e andando,
ouvindo, cheirando.
Quase atravessando a rua
virei.
olhei,
cheirei,
escutei,
pensei.
só naquele cheiro de música boa, pensei.
estava ali, bem atrás de mim.
sempre me seguindo,
e eu nunca conseguindo pegar.
no cheiro daquela melodia
atravessando a rua, rua cheia
moderna, cheia de sons e cores
fui seguindo só um.
um só, eu fui seguindo
e passando, e andando,
ouvindo, cheirando.
Quase atravessando a rua
virei.
olhei,
cheirei,
escutei,
pensei.
só naquele cheiro de música boa, pensei.
estava ali, bem atrás de mim.
sempre me seguindo,
e eu nunca conseguindo pegar.
segunda-feira, setembro 28
nós estávamos rezando baixo
e de repente tudo parou
nós éramos ciclopes míopes
não entendíamos direito o que dizíamos
um no outro,
olho no olho,
e daí nos confundíamos em digressões amorosas
depois voltávamos para a linha principal.
era tarde,
estávamos na sala.
na sala.
pedíamos desculpa
um pro outro,
olho no olho,
e daí petrificamos aquele momento,
lá na sala.
sexta-feira, setembro 25
Acordaaa!
Ouvi junto junto com a voz do Sinatra.
Achei que fosse apenas uma confusão,
mas era era meu encéfalo.
Que não estava mais aguentando, e decidiu falar.
Falou mesmo.
Sem dó.
O jazz que estava tocando parou,
e parou o som da rua, e o som dos copos,
parou.
Decidi ouvir meu cérebro por alguns tempos.
Daí acendi um cigarro e pedi um bourbon.
queimei meu dedo
e nas cinzas
voltei pro copo.Corpo.
Olhei pro fundo do copo,
e lá estava eu,
na mesa de bar.
vazio.
Ouvi junto junto com a voz do Sinatra.
Achei que fosse apenas uma confusão,
mas era era meu encéfalo.
Que não estava mais aguentando, e decidiu falar.
Falou mesmo.
Sem dó.
O jazz que estava tocando parou,
e parou o som da rua, e o som dos copos,
parou.
Decidi ouvir meu cérebro por alguns tempos.
Daí acendi um cigarro e pedi um bourbon.
queimei meu dedo
e nas cinzas
voltei pro copo.Corpo.
Olhei pro fundo do copo,
e lá estava eu,
na mesa de bar.
vazio.
quinta-feira, setembro 24
quarta-feira, setembro 23
Começou desde cedo. Tomei leite em vez do café, pão de forma em vez do francês.
Depois minha mulher me chamou de ''bem'' e me deu um beijo na bochecha.
Meu cabelo estava penteado para trás, e não para o lado.
Sumiu a chave do Fusca.
Fui a pé para o trabalho, que não era dos mais prazerosos e tropecei no primeiro degrau que vi.
Cheguei na minha mesa tinha um livro do Paulo Coelho e uma revista dessas de fofoca bem ridículas.
Se tem uma coisa que eu odeio é quando uma rádio não pega direito e quem está ouvindo não muda pra outra estação. Não me dei ao trabalho de mudar, pois aquela música ficava melhor com os chiados do que sem.Música ruim, bem ruim.
Em casa, à noitinha minha mulher fez omelete de espinafre e suco de cenoura para a janta.
''Não estou com fome, BEM".
Eu queria tudo diferente, tudo como foi ontem.Não no dia de ontem, nos tempos passados.
Era tudo tão bom. Acho que o prazo de validade da cultura acabou. Sobraram alguns produtos de longa data, mas raros de serem achados. E caros.
Foi tudo corroído, multilado.
Queria café e pão com manteiga, amor e beijo na boca, o carro cheio de música a amigos,
Machado de Assis e uma Rolling Stone, um vinil tocando.Um bife acebolado, uma picanha, ou uma macarronada
e uma Coca, ou uma laranjada.
Queria mesmo.
Eu tava lá,
acendi o cigarro, e
queimou
queimo
queim
quei
que
qu
q
E lá eu estava,
ouvindo aquelas notas intocáveis do Sinatra.
Quando foi que apareceu aquele treco na minha janela.
não sei se era a vida, ou morte.
calou a boca do som.
sei, também, que calou minha sorte
e aquele cigarro bom.
sem idéia do que era
fechei a janela
naquela cara torta
seria uma pantera?
um tigre-onça, que dizia, ESTOU MORTA?
q
qu
que
quei
queim
queime
queimei outro.
acendi o cigarro, e
queimou
queimo
queim
quei
que
qu
q
E lá eu estava,
ouvindo aquelas notas intocáveis do Sinatra.
Quando foi que apareceu aquele treco na minha janela.
não sei se era a vida, ou morte.
calou a boca do som.
sei, também, que calou minha sorte
e aquele cigarro bom.
sem idéia do que era
fechei a janela
naquela cara torta
seria uma pantera?
um tigre-onça, que dizia, ESTOU MORTA?
q
qu
que
quei
queim
queime
queimei outro.
quinta-feira, setembro 17
Auto-retrato encontrado.
Na verdade, gosto de fazer supermercado pensando no que a outra pessoa gosta, gosto de dar presentes, cozinhar, ficar em casa vendo tevê num sábado quente ou chuvoso e jogar gamão, tranca, buraco, xadrez, par-ou-ímpar, de ver eclipse da janela, a outra se vestir e escolher com elas as roupas, de ser aquele cara que julga se está bom ou não, se ela devia sair de cabelo preso ou solto, de botas ou sandálias, de saia ou vestido, de cinto ou sem, com colar ou sem, com brincos de prata ou ouro, se dá pra ver a marca da calcinha, sou aquele cara que gosta de sentir o mesmo perfume na nuca todos os dias, que gosta de passar xampu no cabelo da mulher, que gosta de passar o dedo nas dobras do braços, da barriga, de enfiar o dedo na boca e orelha dela, de falar besteira durante o sexo, de beber vinho e transar na sala, de dar sorvete na boca ou comer juntos todo o pote de uma vez só, de ficar a noite toda no escuro, sem acender as luzes, ouvindo todas as músicas marcantes da minha vida, de alugar três DVDs e não assistir a nenhum.
E como é bom lavar a louça a quatro mãos, com aquele detergente neutro e a água quente se misturando com o azeite da salada e depois passar a espuma do detergente na cara dela, de nos beijarmos e abraçarmos com a mão toda suja e lambuzada, de ficarmos no colo um do outro na piscina, de nos deitarmos na varanda num dia de calor, de passarmos protetor solar, hidratante, de falsificar a assinatura do outro em boletos, de lermos juntos os resumos que saem nos guias dos jornais, de dividirmos uma pipoca, um chocolate, um biscoito doce ou salgado, um coco na praia, uma água sem gás, uma aspirina, uma maçã, uma perna de carneiro, um pudim de leite, uma vitamina C, a rotina, a cama, a raiva, o encanto, uma piada, um pôr do sol, a escova de dente, uma caneta, um livro, uma angústia, uma dúvida, um sonho, um projeto, uma fofoca, um torpedo, um momento...
domingo, setembro 13
Eu estava olhando
pro velho
tocando.
quando percebi
que o tempo deixa marcas.
O motivo eu já esqueci,
mas na hora estava estampado
naquelas caras
que algo tinha mudado.
Sei lá se era o efeito da música
ou do cigarro-pinga-baseado.
Mudou, sei disso.
Mas não era isso,
que eu ia falar.
O velho a tocar e o tempo
foi passando
os acordes mudando
e a flauta soando.
Daí eu percebi,
era eu quem estava diferente.
Alguma coisa na minha mente.
E aí bebi, bebi.
pro velho
tocando.
quando percebi
que o tempo deixa marcas.
O motivo eu já esqueci,
mas na hora estava estampado
naquelas caras
que algo tinha mudado.
Sei lá se era o efeito da música
ou do cigarro-pinga-baseado.
Mudou, sei disso.
Mas não era isso,
que eu ia falar.
O velho a tocar e o tempo
foi passando
os acordes mudando
e a flauta soando.
Daí eu percebi,
era eu quem estava diferente.
Alguma coisa na minha mente.
E aí bebi, bebi.
sábado, setembro 5
Assinar:
Postagens (Atom)