quinta-feira, agosto 4

hey, silêncio!

me aquieto.
silencio
minhas poucas palavras
calmas.

e fecho os olhos,
imaginando.
imaginando meu grito.
meu espernear quieto
de amor.

quarta-feira, agosto 3

falta de saliva

na minha boca
eu sinto a falta
eu sinto a navalha
cortando a vontade.

sinto a lâmina
da saudade
capando a saliva.

onda

ponteia
o sabor colorido
somente com o começo do olhar.

e como se fosse um degradê suave
esse sabor colorido
alivia toda a
tensão

leveza

leve
como a leve
pluma leva
a doçura
ao corpo.

como
a própria leveza.

terça-feira, agosto 2

disco favorito

escute o que calei um dia,
recordando as portas abertas
e os olhares sanados pelo amor.

escute-me,
e deixe-me chorar
como nunca consegui.

e deixe na vitrola
nosso disco favorito,
que o vento que sai dele
é confortável.

segunda-feira, agosto 1

o amor

faço uma lista.

todos meus sentimentos,
todo sorriso que dou,
todo olhar que vejo
e que olho,
toda piada sem graça,
todas cores que te defino,
todas velas acesas,
todos vinhos tomados,
toda noite dedicada,
todas lembranças,
todo sorriso
que foi dado à mim,
toda disputa de riso,
todos os bosques,

todas as danças,
todos os ventos,
todos os versos,
todo o amor,
toda, e quando digo
toda, é toda! toda poesia!
toda poesia que há em mim.


embrulho com carinho,
embrulhei com carinho
e estou te presenteando.

e junto, além da lista em si
vem tudo que há nela,
mas, em forma real.

e, bem na frente de tudo,
vem o amor. em primeiro lugar.
todo sincero.

domingo, julho 31

poema de dois

secando as madeixas
curtas e, ao mesmo tempo, longas madeixas suas.
encurtadas, alongadas, e assim se vão.

crescendo, diminuindo, dançando no vento gordo
meio nêgo, meio castanho acajú.

e o negume
esquenta a nuca da moça
que quase dança perto do menino torto.



              [a flor e o verso se encontram
               às vezes para fazer poesia.
               29.06 às 20:34]

eu fico

reine silêncio
- sábio silêncio.
grite mais alto
- simples silêncio.

e me ilumino
refletindo
à flor da pele
minha cor.

refletindo,
iluminando
a flor que abraço
com o coração
calmo que me foi dado.

rezo,
com fé.
e minha alma canta
quieta.
berra calada
- olhando com dor
as incertezas
causadas mim mesmo.

mas, sei de mim.

saio de mim
quando devo
e me torno etiquetado.
quando devo.
quando sou posto
diante dessa liberdade;
desse sorriso
que se abre na flor
quando lhe chamo de cheirosa.

e vou até ela,
com calma silenciosa
e intensa
- só quando ela
se abre pro meu lado.
- só quando suas pétalas
roxoavermelhadas e aveludadas
também me afagam.

com calma silenciosa!
com intensa simplicidade!
com os olhos saltando,
e o coração pulando.

terça-feira, julho 26

mente sambada

como consegue
moldar as palavras
e esculpir os versos?

dança o sentimento
e possui um
cerébro arquiteto.

mente artesã
dos dizeres.
e
corpo moreno
do samba.

mundo que gosto

gosto do olho semi-aberto
do céu bem azul
e do gosto de usar terno.

gosto de dizer sem falar
e de ouvir o silêncio
gosto das cores
e do jeito que a moça samba.

gosto de gostar
disso e daquilo
gosto da textura do café
e de como irritante pode ser o mosquito
e gosto, também de sua pequinez.

gosto da poesia sem rima
dos versos livres e da leveza
mas se tiver um pouco de destreza
a cadência um pouco se afina.

gosto da boca
da voz rouca
da pouca roupa
e de quando pessoas
viram guarda roupas no frio.

gosto da fumaça do leite
da cor da água
e de frases que não entendo.

gosto de música nova
de rock velho
e de imaginar o que estar por vir.

gosto daqui,
dali
e de quadros surreais.

gosto de gente feia,
de gente bonita
e de como
a simplicidade
e a sujeira
às vezes torna alguém maravilhoso.

gosto de brincar com criança
e gosto de malemolência.
gosto eu de sambar
e gosto de ter vergonha
de isso se concretizar.

para que numa hora
eu dançe no meio de uma roda.

gosto das rodas,
das calotas raspadas
e dos parafusos.

gosto de olhar
e reparar.

mesmo que meu alvo
nunca saiba que meus olhos
o gravaram.

e também gosto
quando esse meu olhar
é descoberto em um segundo.

gosto de mim,
gosto do mundo.