terça-feira, outubro 13

Maneco

Eram quase dez da noite e o Maneco estava indo embora da casa da sua namorada, como sempre.
Os próximos sete minutos seriam normais e corriqueiros, banais, mas foram diferentes.
Chegando na praça do asilo, cumprimentou os velhos do Bar do Ponto e continuou andando e olhando lá dentro, fitando os copos e porções de torresmo no balcão e nas mesas.
Cachorros, bicicletas e postes iam passando por ele. Até chegar no escadão que desce para o Tijuco.
- Seu bosta, volta aqui.- foi o que ele ouviu, e foi o que apagou os cachorros, as bicicletas e postes do caminho.- É, você mesmo, playboy.
Arriscou correr, mas não ia adiantar. Dois vinham de frente.
- Aê, vacilão.
- Calma velho...
- Calma nada, mermão.
- O que vocês querem, eu dô, eu dô.
Eles não queriam nada de mais, estavam curtindo a noite, da maneira deles.
- Dá a carteira.
- Tudo?
- Vai, vacilão.
Maneco deu a carteira, que estava vazia, limpa, sem nenhum puto.
- Zuou, né?
- Eu não tenho nada, deixa eu ir embora.
Ele não foi embora sem dar nada a eles.
Não tinha dinheiro, então deu o que tinha pra dar.
Os velhos do bar, os cachorros e as bicicletas estavam muito ocupados para ouvir os gritos, o desespero, e a dor de Maneco.
Depois que terminaram o que tinham que fazer, deixaram ele ir.
- Vai cuzão, vai. Sem caguetá ein? Se não vai ter de novo. Se liga!Vai!
- Porra véio - falou um outro, enquanto o Maneco já tinha saído mancando - queima ele.
- Aqui?
- É, vai logo, porra.
Foram três tiros. Um nas costas, de longe, e dois na cabeça, à queima roupa. Pra ter certeza da morte.
Passaram diversos sete minutos até o amanhecer, até o acharem ali.

Nenhum comentário: