Levanta a mão
Pede por ajuda
e sai dessa,
merda.
Dessa merda
que todos nós vivemos
ontem, hoje,
de manhã, de tarde e à noite
sai logo,
enquanto há tempo.
Tenta dormir
e varar dias nos teus sonhos: vivendo.
Vivendo na utopia de ser feliz.
terça-feira, outubro 13
Domingo
Há sempre esse monstro
subalterno a nossa situação
Vive das nossas sutis desgraças
e vive no fundo, bem no fundo do coração
Mesmo depois de horas de paz
é impressionante como ele põe a cabeça pra fora
e mostra toda sua força
o que você quer que eu faça? se ouve.
Hein?? Vai explicando!
Dói saber que as pessoas se divergem.
Mas aceitamos,
aprendemos,
e amamos,
cada vez mais.
subalterno a nossa situação
Vive das nossas sutis desgraças
e vive no fundo, bem no fundo do coração
Mesmo depois de horas de paz
é impressionante como ele põe a cabeça pra fora
e mostra toda sua força
o que você quer que eu faça? se ouve.
Hein?? Vai explicando!
Dói saber que as pessoas se divergem.
Mas aceitamos,
aprendemos,
e amamos,
cada vez mais.
Maneco
Eram quase dez da noite e o Maneco estava indo embora da casa da sua namorada, como sempre.
Os próximos sete minutos seriam normais e corriqueiros, banais, mas foram diferentes.
Chegando na praça do asilo, cumprimentou os velhos do Bar do Ponto e continuou andando e olhando lá dentro, fitando os copos e porções de torresmo no balcão e nas mesas.
Cachorros, bicicletas e postes iam passando por ele. Até chegar no escadão que desce para o Tijuco.
- Seu bosta, volta aqui.- foi o que ele ouviu, e foi o que apagou os cachorros, as bicicletas e postes do caminho.- É, você mesmo, playboy.
Arriscou correr, mas não ia adiantar. Dois vinham de frente.
- Aê, vacilão.
- Calma velho...
- Calma nada, mermão.
- O que vocês querem, eu dô, eu dô.
Eles não queriam nada de mais, estavam curtindo a noite, da maneira deles.
- Dá a carteira.
- Tudo?
- Vai, vacilão.
Maneco deu a carteira, que estava vazia, limpa, sem nenhum puto.
- Zuou, né?
- Eu não tenho nada, deixa eu ir embora.
Ele não foi embora sem dar nada a eles.
Não tinha dinheiro, então deu o que tinha pra dar.
Os velhos do bar, os cachorros e as bicicletas estavam muito ocupados para ouvir os gritos, o desespero, e a dor de Maneco.
Depois que terminaram o que tinham que fazer, deixaram ele ir.
- Vai cuzão, vai. Sem caguetá ein? Se não vai ter de novo. Se liga!Vai!
- Porra véio - falou um outro, enquanto o Maneco já tinha saído mancando - queima ele.
- Aqui?
- É, vai logo, porra.
Foram três tiros. Um nas costas, de longe, e dois na cabeça, à queima roupa. Pra ter certeza da morte.
Passaram diversos sete minutos até o amanhecer, até o acharem ali.
sábado, outubro 10
Fogo Colorido
o cigarro cantou na minha boca,
cantou o que ele queria
queimou todos meus planos
queimou tudo que queria
cantava sobre os livros,
e sobre os rocks, cantava.
meu isqueiro não tinha mais um cheiro de fogo.
foi esquecido como meus planos.
e como estes foi trocado por outro.
só o desgraçado do cigarro continuava o mesmo.
queimando e bebendo minha vida.
ele me colocava em sua boca e ateava fogo.
mas não um foguinho qualquer,
um fogo enorme
com todas as cores que tinha direito.
as cores da minha vida,
que iam virando nuvens de fumaça,
pouco a pouco.
sexta-feira, outubro 9
1, 2,
1, 2, 3, 4.
Crocodilavam sem parar.
nenhuma alma deixava de lado.
sei lá se era bom ou ruim.
era de momento.
todo mundo estava afim
era mais que tormento.
Pararam de rimar
pra ficar mais divertido
mas ainda tinha ritmo
e vontade,
e coragem,
e amor.
Foram chamados de loucos,
mas, como não eram poucos
rebelaram.
anarquizaram.
Corriam escuros e rasgados pelos bares escuros.
tiveram prés, eles e pós.
hoje são esquecidos.
1, 2, 3, 4.
Crocodilavam sem parar.
nenhuma alma deixava de lado.
sei lá se era bom ou ruim.
era de momento.
todo mundo estava afim
era mais que tormento.
Pararam de rimar
pra ficar mais divertido
mas ainda tinha ritmo
e vontade,
e coragem,
e amor.
Foram chamados de loucos,
mas, como não eram poucos
rebelaram.
anarquizaram.
Corriam escuros e rasgados pelos bares escuros.
tiveram prés, eles e pós.
hoje são esquecidos.
quinta-feira, outubro 8
50's
Uivaram o dia
Nasceram na folia
Falavam em progresso
Viraram sucesso
Morreram na agonia
Não tinham medo
Viviam em recesso
Colhiam do azedo
cultuavam o sexo
Comiam drogas
Comiam-se todas as horas
Pegavam a estrada
subiam as escadas
escadas da morfina
e heroína.
Nasceram na folia
Falavam em progresso
Viraram sucesso
Morreram na agonia
Não tinham medo
Viviam em recesso
Colhiam do azedo
cultuavam o sexo
Comiam drogas
Comiam-se todas as horas
Pegavam a estrada
subiam as escadas
escadas da morfina
e heroína.
terça-feira, outubro 6
Cozinha
eu não sabia se escrevia, se lia, se cantava, se cozinhava.
Tinha um, dois livros.
três cebolas, uma partitura e um lápis sem ponta
perdia a conta,
toda vez perdia a conta
não sabia se era melhor o livro, ou as duas cebolas
ou a lapiseira, não sabia.
Liguei pra tia,
pra tia Maria.
Era cozinheira das boas.
escrevia, cozia, lia.
tudo estava prontinho,
só faltava um temperinho, um banquinho
e um tempinho.
tempo eu não tinha.
a tia minha, tinha.
tempo pra tudo,
pra ler, escrever, contar, cantar, comer.
ela mexia a colher
com a força de um homem, e a destreza de uma mulher.
cortava os ingredientes e jogava tudo na panela,
tudo estava prontinho.
Tinha um, dois livros.
três cebolas, uma partitura e um lápis sem ponta
perdia a conta,
toda vez perdia a conta
não sabia se era melhor o livro, ou as duas cebolas
ou a lapiseira, não sabia.
Liguei pra tia,
pra tia Maria.
Era cozinheira das boas.
escrevia, cozia, lia.
tudo estava prontinho,
só faltava um temperinho, um banquinho
e um tempinho.
tempo eu não tinha.
a tia minha, tinha.
tempo pra tudo,
pra ler, escrever, contar, cantar, comer.
ela mexia a colher
com a força de um homem, e a destreza de uma mulher.
cortava os ingredientes e jogava tudo na panela,
tudo estava prontinho.
mamãe dada
caligrafia maneirista
chumbo escrita
coliforme dentista
mandruvá jornalista
vermelho amarelado
limão salgado
lado do dado
número desafinado
teclado desconfigurado
índio sentado
canção atemporal
criança no vendaval
samba no carnaval
amor carnal.
segunda-feira, outubro 5
Medo
há um medo
um medo enorme
cruzo um só dedo
esperando que o medo se conforme
não sou sua vítima
não estou na sarjeta
coloquei todos os outros num trem
que vai pra longe, bem longe
estava me enchendo
eu não estava crescendo
estava ficando esquecido
eu não estava pronto
fugi pra bem longe, bem longe
mas pra outra direção
fui indo, até cansar
cansar de andar
e de ter medo.
um medo enorme
cruzo um só dedo
esperando que o medo se conforme
não sou sua vítima
não estou na sarjeta
coloquei todos os outros num trem
que vai pra longe, bem longe
estava me enchendo
eu não estava crescendo
estava ficando esquecido
eu não estava pronto
fugi pra bem longe, bem longe
mas pra outra direção
fui indo, até cansar
cansar de andar
e de ter medo.
quinta-feira, outubro 1
O cheiro
eu quase podia tocar
no cheiro daquela melodia
atravessando a rua, rua cheia
moderna, cheia de sons e cores
fui seguindo só um.
um só, eu fui seguindo
e passando, e andando,
ouvindo, cheirando.
Quase atravessando a rua
virei.
olhei,
cheirei,
escutei,
pensei.
só naquele cheiro de música boa, pensei.
estava ali, bem atrás de mim.
sempre me seguindo,
e eu nunca conseguindo pegar.
no cheiro daquela melodia
atravessando a rua, rua cheia
moderna, cheia de sons e cores
fui seguindo só um.
um só, eu fui seguindo
e passando, e andando,
ouvindo, cheirando.
Quase atravessando a rua
virei.
olhei,
cheirei,
escutei,
pensei.
só naquele cheiro de música boa, pensei.
estava ali, bem atrás de mim.
sempre me seguindo,
e eu nunca conseguindo pegar.
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