domingo, junho 5

haikai da mulher distante

onde estão aquelas notas?
estarão perdidas em outros instrumentos
solando seus amores em outras escalas?

terça-feira, maio 31

marco zero

repito minhas palavras, eu sei.
e sei, também, que não sou mais
cego o suficiente pra não conseguir esse respeito.

e fico de longe,
aliviando minha mágoa
em luzes disformes e letreiros de cabaré.

fico sem pé e sem delírio
mas não posso e não passo pela ponte do passado
- quero o zero,
o puro contato.

como se tivesse começado nesse instante
no qual meus dedos são canais e meu coração a fonte.

domingo, maio 22

só conto meus medos e amores

não espero alarmar raivas e furias
com meu simples sentimento.
e o divulgo na roda de todos
por que sou somente sincero
e não preciso ter medo do deprezo.

não espero alertar dores e amarguras.
sendo meu próprio freguês,
sendo único entendedor de meus versos
talvez eu precise me explicar mas claramente,
mas não há como negar
que gosto quando o desentendimento alheio saliva,
e enche as bocas da mente de curiosidade.

se você quiser amor chegue aqui

como pode?
ver de cima do monte um passado todo!

é como se os pisos dessa terra
gerasse um retrocesso em meus passos
e os fizesse lentos.
e parece que só assim
o homem não vê minha saudade.

e a alma fica fazia,
nem que for por ínfimos segundos,
mas ela fica.
mais sombreada
mais escondida.

e o amor é aqui.
disso eu tenho certeza,
mas não posso ser doce nem rude.
somente tenho que esconder
para poder ao menos ver um sorriso
e não costurar as lágrimas no meu céu particular.

segunda-feira, maio 2

ave maria

é como se tivesse apagado um pedaço.
pedaço que foi moldado
pela inocência de risonhas estórias,
pela mão enrugada
pelo pequeno tamanho
e pelo riso doce.

é como se o olho
que podia brilhar um pouco mais
sentisse obrigação de se esfumaçar
e assim, sem querer, acabou borrando
uma parte de coração.
fazendo, numa segunda-feira,
meu toque ir pra longe,
pra hostilidade do passado.

mas sigo a seta,
e sei que estou pronto
e sei que seu, sou.

mas vou despir meu choro,
e colorir minha tristeza com um breve sorriso.

e agora, num relance,
meus olhos vão pra outros cantos
roubando seu brilho.

segunda-feira, abril 25

hakai iluminado

é espelho.
soltando, na forma de reflexos
os risos da paixão.

domingo, abril 24

alquimia

vamos supor o céu!
alinhá-lo aos nossos sonhos,
dos quais somos eternos poetas,
famintos alquimistas utópicos.

traga-o mais para perto!
mas, de longe,
já sintetize os personagens.

sexta-feira, abril 22

alma calma

venha calma
que a alma te dá lenha
pra queimar e
viver mais.

venha calma
que eu te chamo
mais e mais,
que eu sonho
andar ao seu lado.

pois ouvi dizer
que seu olhar
é capaz de entregar
minhas dores.

seja servente
do meu corpo
e tome minha tristeza
como assento.

deixa o vento

sou novo nêgo do mundo
jogado ao lado de outros bons.
sorrindo até o fim raiar
em nossos lares e olhares.

e nossas vontades
vão além do que se vê,
além do que pode
ser tocado pelo vento
que nos refresca do calor.

mas nem sempre
sou nêgo sorte
e a brisa que por aqui passa
entorta a flor lá do outro lado.

preferência

ninguém escapa do medo
de ser assim.
- de estar em par com a tristeza.

e como susto
ela veio me visitar, também.

eu não prefiro assim.