quinta-feira, março 11

dedão

creio que não é tanto pela aparência.
é sempre assim.
diminui e é essa cara de um conhecido.
eu gosto.
ela gosta.
homônimos gostam.
gosto por que ela gosta.
meu tudo.

alguns já assustaram com a semelhança
mas tudo bem.
sustos de saudade valem a pena.

já que cresce denovo e volto ao léo.
enquanto curto, me falam sobre esse céu.
sempre.
não que eu deixe eu de lado.
de maneira nenhuma.
é que é sempre.

agora

sinto agora
como se fosse normal,
sentir depois.
essa liberdade
a dois, nós dois.
confiantes no que vem
é um braço mais uma perna

sinto agora
livre, querido.
aceito.
não o dejeto de antes
não o que será amanhã.
sim o hoje.
o riso agora.

quinta-feira, março 4

les bonbons

é confortável.
um passo atrás do ôto.
girando a cabeça depois do corpo
                                           [lindo]
cabelo curto.
pinta no chão com os pés, indo.
flui com o chimbal.
segue o curso, nas curvas.
                              [linda]
no palco, fazendo par com o disco.
até me deixa de lado.
mas não esquece. ama.
senta no meu colo, dançando com os braços e pernas.
denegrindo os pobres ignorantes.
que não sabem um só espacarte.

domingo, fevereiro 28

vergonha nº 3

queria você, querendo
correndo.
temendo nosso acontecimento
com esses seus olhos de cimento
me deixando tremendo

comendo carne crua.
lambendo os dedos
olhando pra você, com vontade.
esquecendo do momento
atento só ao seu olho
alimentando essa cor bela.

bebendo eu, do avesso
respiro eu fundo
e penso em seu olho
e seu nariz.
atormento sua boca e seu seio
dormindo,
colhendo o seu anseio.
ansiosa, preciosa.
teimosa.

somente com seu olhar rimado, paro
e de repente vem esse seu cheiro,
me lava.
larga eu;
deixa eu aqui com seu olho.
o meu e o seu, grudado um noôto
ôto?

vem cá.
te prendo.
te atendo
te socorro
no rio-escola-montanha-sofrimento.

do marrento.
do atormento
do lamento.

te olho, nesse seu olho.
repito e repito.
(repito)

te tendo
te entendo, te lendo.
sabendo do seu gosto lento.
te lendo, te aprendo.

quarta-feira, fevereiro 10

rabisco

escrevo essa quase-grosa
grosa de letras
gozo versos
e verbetes
e trocadilhos
moderninhos
foda-se.
mas não vejo saída
eu sou dessa época.
fazer o que?
grudou,
na minha caneta, no meu moleskine.
essa poesia incolor
já faz parte do cotidiano,

meu eu lírico
está falando mais alto agora
e ontem
e daqui a pouco
e amanhã
e na minha morte

quero meu caixão cheio de flores
e poesia.
pode ser dessa sem sabor,
divertida de ler
iguais as minhas,
pode ser dessa
pode ser a das flores
do mar, do chão,
da terra, da pá, da madeira
do meu irmão
do pessoa, dos andrades
pode ser.
só quero que seja poesia,
de qualquer espécie.

quarta-feira

veio o trator
me ensinou o que sei,
me deu esse tiro
de livros e movimentos

veio do nada, o trator
comendo e matando
matando minhas criticas mal formadas
formando novas.
debulhando cada frase dita.

consumido do ódio e pelo ódio
passa, quem sabe? uma falsa calma, uma vez ou outra.
calma que é desvendada,
por um simples olhar

esse olhar matador
de trator mesmo.
gordinho e robusto
me apontando o que é bom.

                   (desculpe-me os termos)

Letícia

                      I
eu mundo
eu mudo o mundo, será?
pertubo
escolho com cuidado as palavras
penso, repenso
conto pra todos canalhas.

tenso, continuo no lápis,
no papel,
léo, só a idéia do poeta,
só a essência.
é o que sobra da minha vã,

rã, pulando da boca pro papel.

                    II

quero mudança
e foda-se deus.
e tudo o que ele sabe.

sempre dizem isso quando algo dá errado
''ele sabe o que faz''
sabe o caralho

a gente não merecia isso.
esse sangue mensal
e nada de vida nova.

mas, calma, Mãe.
quem sabe essas minhas rezas poéticas.
quem sabe essas vãs sutilezas
vão mudar alguma coisa.

chega de sei idéia
e de ter esssas digressões.
esperando que a Sofia chegue.

terça-feira, janeiro 26

poema

passatempo,
queria que você fosse diferente.
não andasse do outro lado da rua.
andasse em cima de mim, me esmagando, doendo.
queria que fosse mais importante do que é.
fosse vital.
fosse pão.

queria depender.
pender...Ficar pendurado em cada última letra,
e ir decendo até o último verso e viver no lugar da onde eles saem.

afogar lá, para que essas palavras entrassem mais em mim.
pagar o que eu compro com versos.

não é só que dá?

às vezes,
só às vezes eu me sinto
só.

é assim mesmo, de vez em quando
dá essa sensação,


dá pra fazer linhas grandes?
dá pra deixar essa miserezas de lado?
dá pra mostrar quem é você, eu?
dá.

só, eu não consigo.
é por isso que às vezes, só às vezes não escrevo.
só, por que estou só.
é sutil, e qualquer um escreve.
é amor, é por isso que eu consigo.
é... acho que é por isso.

não é?

terça-feira, janeiro 19

1º - De São João à Águas de Lorena

21/12/1996

Meu nome é Lisa.
Eu só comprei esse caderno de folhas verdes por que eu estava passando em frente da papelaria lá da praça e resolvi comprar.
E também por que eu queria escrever sobre mim mesma. ('mim mesma'? é isso mesmo?)

Eu nasci longe pra caralho. Em São João do Salmo, cidadezinha pequena.
Na verdade eu não lembro muito de lá, saí  de lá por volta de 40 anos atrás. Lembro da praça, com o parquinho. Aquelas praças de filme sobre o nordeste, sabe? com uma igrejinha e ma vendinha e um parquinho que fica tocando músicas regionais.
Minha mãe me deixou com a Vó Lena logo que eu nasci. Nem sei o nome dela. Só do meu pai: Guido.
Dele eu lembro bem também, ele que me levava no parquinho, e me mostrava todas aquelas músicas apaixonantes e caipiras. A gente costumava ouvir na vitrolinha dele. Lembro até a marca: TomPlay, e era verde e cinza. Ele me colocava no ombro, com minhas pernas envolvendo sua nuca e me levava por ai.
Eu era sua maior companheira, onde ele ia, eu estava atrás. Correndo e pulando. Gostava quando ele ia pescar e eu tirava os peixes, até os maiores do anzol e ele morria de rir com a minha falta de jeito, sempre lembrando da minha mãe. ''Como você parece ela, Lisa.''

Na escola eu conhecia todo mundo, já que era uma cidade minúscula. Na minha sala, eu ficava com o Duda, a Dilma e com o Sérgio, que eram mais velhos que os outros, desde as primeiras séries. No colegial era a mesma coisa.
A Dilma era a mais legal, e mais bonita menina da escola, senão da cidade, linda. Ela morreu esses dias, mas isso não vem ao caso, mas tarde eu conto sobre isso.
Nós éramos inseparáveis, ela vivia em casa, e vice-versa. Ela chegou a morar em casa por uns meses, devido a umas brigas familiares, e nesse tempo que eu descobri que era completamente apaixonada por ela. Mas não dava pista nenhuma pra alguém descobrir. Naquela época era completamente proíbido uma menina namorar com outra. Logo depois que ela saiu de casa, nós nos mudamos de São João do Salmo para Águas de Lorena, cidade grande. Fomos pra fazer faculdade, eu, a Dilma e o Duda. O Sérgio fora preso lá em São joão por usar drogas. Sorte nossa que não fomos descobertos.
                     
[continua]