quarta-feira, outubro 6

morte

não é por medo
ou solidão;
não é de sede
e enem de fome;
não é com frio
ou calor;
não é só
nem acompanhado;
não é agora
nem depois;
não é de susto
ou surpresa;
não é aqui
ou lá.
é tudo, mesclado.

só sei que
é por desapego,
por despaixão
de alguém acima dos sonhos.

sei que é durante o tempo todo,
e não ontem, ou amanhã.

sei que é certeza e não surpresa.

não é por medo,
mas o é em sua essência,
é o medo da solidão, encrustado no vazio.

é a carne,
padecendo à outros poetas,
poetas da terra,
da melodia que é morrer.
é, realmente, ser parte de algo.
ser o chão de seus filhos.

terça-feira, outubro 5

amor

é uma peleja,
um doce vazio.
é, também, cheio, enorme.
e de seu vazio vaza um sol
alumiando dois rostos.
duas estátuas morinbundas de tanto se olharem,
no seu amar estático.

é uma quase morte.
de tão intenso que é.
que é mais,
que é tudo,
que é a vontade,
que é o susto,
que é o suor,
que é a bondade,
que é uma dor.

e como diriam?
-é uma daquelas que não se sente.

domingo, outubro 3

máquina

me calo os calos do falar,
afastando pontuais abraços
do não e do vazio.

isolo meus lábios,
saboreando sorrisos de anil.

e os beijos,
corredores de escuro
dança de cego,
arrastam e atrasam
o amor,
que como se fosse o último
me faz escapar.

um ele chegou diferente

é esse doce irmão,
que sem saber me enche os olhos.

enche as aventuras de meus sambas.
minha temporada do nada, rimas e outras mais.

me mande notícias boas,
de cartas ou mortes,
manhãs e botequins.

uma vida atoa,
gloriosa,
a minha,
que se torna um tanto sorridente
quando louca de acordes e olhos azuis.

sexta-feira, outubro 1

bondade

corre no meu sangue,
e com ele.
esse fogo de carinho.

fogo forte,
que em muitas vezes
me tropeça no ar
e faz meus olhos fecharem.
faz meus cílios
grudarem de dor
e lágrima.

me faz menos.
me faz ser menos.

quinta-feira, setembro 30

tela

cores,
mil cores quero
cores de anil
ou do céu
quero cores.
azul vermelho,
prédios, mar,
pés e peitos.
corpos.
ou boca.
quero cores de amor.

banhadas de sentimentos novos
quero cores
de sabores,
cores favoritas
quero cores.

quero conhece-las
saber seus passos,
para não me borrar novamente.

foda-se

quero me confortar
com outra dor.
esquecer desse velho pássaro.
chega!

que me encontrar em
outro corpo,
seja no fútil,
no mero egocentrismo
ou no balanço dos braços.

quero voar.
quero ensinar minhas asas bater.
quero amar
sem ao menos saber o nome
da cor favorita.
quero ser.

quero te afogar
na chuva fotográfica
que por ora nado,
e me sinto confortável.

arrancar-lhe as penas
com meu sorriso.

sim, sinto raiva,
mas o poema é sinceríssimo.

a vida é uma ópera e uma grande ópera

era o tempo da criação,
o qual esbanjava de intermitentes canções
no conservatório do céu.
as notas bailavam sobre as nuvens,
as faziam de palco
e mil arcanjos cantarolavam seus libretos abençoados.

era o tempo da criação,
e assim se sucedeu
a síntese de nosso chão,
do nosso beber,
da nossa razão,
do inferno
e da terra:

havia,
o que hoje se chama por fogo.
o mais afinado dentre os anjos.
o par da melodia,
a vida das dissonâncias,
o mestre do compasso.
porém, balbuciava suas melodias
pois das rebeldias e sorrisos era feito.

havia,
o que hoje se chama por Pai.
a santidade.
o senhor das letras,
 o par da grafia rimada.
que cansado com a preguiça
eliminou o fervente tenor
das notas do céu.

          II

naquela hora, o nada era tudo que havia.
era o nada e o tenor amaldiçoado,
embebido na furto do libreto do pai eterno.
eram agora o diabo, o libreto e o nada.
era só,
era nada.

virava a terra
sua partitura,
e seus pensamentos sustenidos
o erguiam ao céu.

          III

hove dia
no qual suas notas o caminharam ao céu.

houve dia
no qual foi ouvido.

- pinto aqui
nosso cume, Padre Eterno!
agrado aos ouvidos angelicais
lhe trago, letrado.

houve esse dia,
e nenhum outro que valesse a pena,
que valesse o queimar do inferno
.
houve esse tempo,
que parou, e congelado está.
afogado no brilho de mil olhos,
de mil asas.

e no tempo parado
os anjos tocam.
de seus arpejos
fluem a terra
a água
o ar.

e fazem de nós
suas notas
nessa ópera vital,
sem ensaios ou rodeios.

somos e seremos
embebidos na arte de outro alguém,
nos acordes das trombetas reais,
que dia após dia vão cerrando o soprar,
até acabar o fôlego,
e nos pintarem de negro e solidão

sábado, setembro 25

sou sol

minha carne é samba,
de batuque santíssimo,
e melodia insecável e
transcedental.

a jogo no mundo,
a par de olhos de lunetas,
viajando por meus mistérios.

sigo meu caminho
pelo ar.
malandro, da terra sugado.

sexta-feira, setembro 24

saga verde

uma vez de floresta,
vesti minhas logradas saudades.

fiz de plantas e planaltos,
meus meros sonhos.
esperei germinar a falta de sono
e acordei junto do sol.
-junto do rei,
se nascendo todo orgulhoso perante mil olhos.

uma vez,
vesti-me de floresta,
de bulbo e sangue.

fiz meus rios,
de plantas mal colhidas.