terça-feira, dezembro 14

poema moribundo

Descansada da estúpida monotonia que nos veste
A morte vem e nos rouba da naturalidade do livre.
Amamenta a verrucal teimosia e num piscar a leva.
Apaga da vista jovial uma corada luminância - e dói.

É da morte o esdruxulo da traição, a descortesia da solidão.
É assim que se é, quando ser tomado por ela é mais forte que a decência
Quando seus braços são desgrudados de um corpo amado
E um abraço vaza e escorre junto das lágrimas.

É incitar a dor. Cutucar uma longínqua saudade instantânea.
Como se fizesse anos.

É longe. Distante, ao ponto de não saciarmos a tristeza
E de não entendermos a realeza de nossos saudosos.

segunda-feira, dezembro 13

o palco lá e eu cá

Se sambar não sei
Amenizo minhas vontades apenas no olhar,
Na contemplação de um rodar de braços e cabelo.

E me satisfaço com o calor que me esquenta
E sento, pra me descançar as emoções,
Na penumbra dum botequim.

Foi sempre desse feitio,
Eu cá, a olhar
Os pés e olhos de outros,
Amando, e sentindo o derradeiro fim.

Um retrato móvel,
Aliado dos meus sonhos,
Nos quais amo,
Desejo e me sinto assim.

não questione

Salvo minha pele em uma só nota
E num só relance sonoro.

Arma maravilhada e maltrapilha,
Assassina dos pobres perdidos na podridão
Da ignorância.

Um passo recalculado,
Repesado que
Num piscar de sentimentos
Se torna frágil paixão.

sexta-feira, dezembro 10

tem peões na minha janela

Junto do sol veio a obra ao lado leito.
Fechando com suas trombetas de concreto meus sonhos,
Maltratando os sorrisos e sono dos bêbados na rua.
Maliciando o jantar de janela aberta.

Coloco no futuro.
Digo, essa cortina.
Tampando mil outros olhos
Mas abrindo outros mais.
Colocando na minha mira a vida nova.

 A despedida e a conformação
São necessárias.
Estarei aqui, mas não tão perto.

de lã

Há essa sutil diferença
Entre sentir os cochichos
Dos pingos da chuva em sua janela
e
Somente se molhar.

E na sua sutileza,
Faz da água algo intenso, recheado.
A preenche com alma.
Alma de água,
Suave, mas no mesmo instante,
Alma de poeta sem palavras.

É uma salva de palmas.

quinta-feira, dezembro 9

agora, eu vou.

Olhe o samba
Que passa e repassa a cor o povo
Passa dentre as peles
E por entre os olhos.

Tingindo tudo que é livre,
Pois assim, ele é.

É vento,
E nele tento me enganchar,
Para ir à outros carnavais,
À outros pessoais,
Para não mais me acorrentar no marasmo.

Me leve certo,
Me leve veloz,
Para que nem do caminho eu me lembre.

Olho o samba,
Que treme as peles dos ouvidos e dos corações.
O admiro,
E miro minhas vontades em suas ações.

logo

Há uma rosa,
E um verso.

Flutuantes nesse presente,
E que deveriam pousar
Em nossos sonhos futuros.

E pousam,
Como buquê
E poema.

no alto da serra

Dou-me dor,
sacrilégio.

Talvez nada mais seja
Capaz de , com vigor,
Saciar algumas de minhas malícias.

Não há mais cuidado.
Nem espaço há mais.
Só o apertado,
Que por trás
Anula e derruba
O pilar do meu sorriso.

Soa como se não soasse,
Como um um som sujo e longe
Que não esperaríamos dar nossa atenção.
Soa como neblina:
     É isso. Meio cinza, meio quieto.

domingo, dezembro 5

vestido azul

vi o vestido,
com flor e tudo, dançar mais perto.
rodando e rodando cheio do sorriso.

num som confortável, e carinhoso
que se fechou num anel de apertos.

olho com olho,
estendido no breu
e tremendo mais que as notas,
que faziam o ato mais sincero.

ontem, nos embriagando
nas gargalhadas da quase paixão de outrora.

quinta-feira, dezembro 2

não se estranhe
se teu pliê soar mais pesado.
- é meu desejo grudado em teus pés,
é meu calor amarrado ao seu.

deixo minha bolca a sós com você.
e a partir de agora ela é tua,
faz parte da tua valsa e do teu samba.

te dou, sutilmente, minha posse,
ó, doce do vestido florido.
e rode-o feliz,
que sinto o movimento
e largo o beijo no vento que te refresca.