terça-feira, maio 25

terça noite

conversamos sobre o café
ou cigarros.
discutindo risonhamente conjuntos mineiros
estranhamente descombinantes.

sylvia plath e suas
inúmeras vidas de gato
entopindo nossas orelhas.

segunda-feira, maio 24

mademoiselle

escrevo nessa tarde cinzenta
chuvosa.

calho a achar metáfora combinante.
subo minhas escadas com medo de encontrar
o defunto deitado em minha cama.
lendo meus livros, tirando minhas fotos.
no verão de maio vi a canção parar.
desta vez acabou o disco,
e já foram tocados os dois lados.

o defunto me olha,
sim, o encontrei em meu quarto,
e resmunga torto a dança diluída.

reencarna, depois, na simbiose momentânea
de minha visita paradoxal.
e me vê uma dose de versos, s'il vous plaît.

só meia xícara, por favor...
meia basta?
não sou tã azul como você.
basta inteira para doer o osso,

doer bom.

é bom transviar o caminho
de minha chuva.


me perco no significado.

sinto agora seus braços me envolvendo

paro de me preucupar
tanto com o medo
quero fluir
nessa nova liberdade

o alimento do meu ego,
não quer ser o seu próprio
então pego esse papel
no seu teatro de sempre

dou nome a plantas amigas
e crio raízes em outro lugar,
numa escada em zigue-zague
eternizo aquele momento
eternamente fotográfico e mágico
perante aquele mar de cultuta,
onde listras se fundiram com o cinza de você.
e subiam mãos imaginárias,
no chão das letras
com certos presentes
e um fedegoso de jornal nos rodeando
discussões anarco-poéticas.

na base do trem,
onde descubro que tudo
aqueilo é real, o abraço
o cheiro, a poesia, a liberdade que me deu,
a expressão,
o troco,
a catraca, seu cabelo, sua mãe, meu pai, as películas,
verlaine, o sol, a lua, a medieval,
o ar, o queridissimo, o senhor feudal
o falso beijo imaginado.

encoste

minha mãe está oxidando
palavras não param de fugir
de meu cérebro
para os dedos. Oh lord.

me sinto medieval,
o servo e o rei
e está ficando díficil de respirar,
e ai volto à você, sol.
estático pelo papo
e minha mão em cabelo
enquanto a drámatica dorme.

aceito o abraço
ou até mesmo sua perna
para encostar minha cabeça

domingo, maio 23

sexta noite

acordei com a fogueira
me cutucando a perna com chama
escuramente quente e vermelha, ardia
três ou quatros poetas riam com a cabeça pra cima

sob as notas de um samba malandro
sambando sob o fogo
as palhas
e violões desafinados.

o bigode sobre a percurssão maluca
e sua dona querendo o tirar de lá, do vinho.

mulheres bêbadas grintam por nomes estranhos
e a camionete se enche de loucos.

solte seu cabelo

desenho  flores
azuis e grandes
com as letras
pretas e miúdas

enrolo-as num
pano e te dou
de olhos fechados
de cílios grudados

espero um sorriso
de batom vermelho
remoendo meus óculos
coçando meus sentidos

escrevo uma ou três frases
grandes ou pequenas
retas ou tortas
porém, sinceras até o fundo

amarro-as ao seu cabelo
e te deixo levar
sem perceber
que me leva junto

doente nas palavras
rezando pra você soltá-los
e me sentir
grudado

erre, vê

conto segundos e horas
e letras corridas.
durmo para o tempo terminar
e eu parar de só desejar, e viver

na encenação de pseudônimos franceses
brincamos de ser nossos mestre

cantamos em algum palco por ai.
correndo e saltitando
com sorrisos cravados no canto do lábio
brincando de rimbaud e verlaine

pano azul II

sinto o confortável da pele
pra tatuar no pano minha distância
do desejo
crente no saber do futuro que há de nos vir

senhor das letras

vivo, pois, na alergia de meu surgimento
sugando minhas raízes
até a última folha
na lezera de meu ser, estar ficar.
colhendo insuportáveis sementes
gordurosas
e adultas
na medida do impossível

creio em minhas palavras sujas.
interminando a matinal prisão
prisão colante e saturada
de meus queridos amores
distantes e inalcansáveis

sexta tarde

olhei para trás
oh, meu senhor!
vi terror e sombra.
saindo da flor bela
dos passos e rodas de carrossel.

não não não
não quero não.
desejo, mas me medo.
não o de antes,
contrário àquele.

tenho certeza absurda
muda pra mim.
acorda e muda.
resolve tudo.
tira o peso da minha barriga

p'ota pessoa entrar e chegar
encenando um chá numa sexta à tarde.
quero a chaleira inteira.
preu embriagar minha pançola
ardida e desconfiada.