quinta-feira, julho 8

a lua é diferente

escrevo torto,
teço linhas judiadas,
pelo vento.

e quem tem fome
de mim?
ninguém.

um sabotado
poeta,
unicamente grande
pra mim mesma.

minha pele sua, por hora.

e não vejo.

creio na porta de entrada,
por que sair
e desejar errado,
deixar para trás
o filme rodado,
a letra escrita,
o sonho acordado.

é como o sol pelo anoitecer,
que nos esquece de alumiar.

terça-feira, julho 6

relva

espanto a lucidez
que acaba de pousar em minh'alma.

dou-lhe um tapa
e esta responde na consternação da vida.

talvez seja natural,
meus sonhos que saem como brisa,
num voo que podia não ter volta.

mundo mais bonito

cuido da terra,
ao ponto de deixá-la
leve, e afinada o suficiente
para receber o seu jardim azul.

carinhosamente me apego,
recito versos por entre a relva
e trato com água minha futura mãe sepulcral.

quando vejo ecoar o sol,
que bate nas verdes folhas e brilha,
sei que a garoa nos encontrará,
serena fina paz.

ouço passos subterrâneos,
dentro de mim,
quebrando minhas peles,
quebrando o brando ser.
querendo mais de meus sentidos.

segunda-feira, julho 5

seis horas da manhã

tenho três passos, só.

paciência,
              minhas pernas
              são o tempo, sabido.      
              amigo do ser lua
              aguardo cair da noite,
              mas o sol acaba de nascer.

saliência,
             desses sentidos.
             moralisando meus olhos
             de soturnos pensamentos,
             que afloram torturas e
             prisões internas de vã distância.

abismo,
            que vez em quando
            machuco ao cair.
            pois equivoco meu presente
            achando-o futuro,
            que é, para mim, tão belo e forte.
            pensando-o como vida,
            sabendo-o pouco.          
            pois ando cego, como os homens.

[todos homens são cegos,
nadadores de turvas águas
onde enxergam somente o próprio nariz.]

tenho três passos,
e minhas pernas cansam.
oro para ter-las
quando o luar chegar,
pois ai,
não será andar,
terei de olhar fundo.

quinta-feira, julho 1

terreno dos sonhos

negocie loucuras,
e veja ao certo quem te vê.

compilações do barão itabirano,
ou do negro carioca,
que ficam sentados em meu mudo criado,
que me traz águas e frases, cinzeiro, balas,
óculos, lápis, caderno e  linhas.

vejo essas negociadas loucuras,
bailando por entre seus olhos,
pelo seu avesso,
e quando venho para esse mundo,
quando venho pra cá,
morro no palco
bem mais velho do que eu.

um esforço futuro,
grato,
apoiando em meu ombro,
esperando a hora de trocar a máscara.

o que vejo nos olhos do palco,
não vi não vejo e não sei
quando encontrarei
paisagem que me eleve tanto,
à outros céus.

comidos por uma distância,
maior do que a minha para com
imortais letreiros nostalgicos.

me afeta,
olfato,
tato,
visão.

e esta é o que me resta.
mas de olhos no escuro,
o vídeo dos sonhos,
imaginado.
sem saber ao certo se a forma
é a mesma.
se cabelos ornam com o vestido.

imagino mais e mais.
mais intenso mais tenso.
fico tenso mais e mais.
ilumino minhas loucuras
com overdose de orquestra utópica,

que é voz e o azul no pano.

quarta-feira, junho 30

lis

o bojo daquela manhã,
que emerge até hoje,
sabe bem como sou silêncio.

sabe sem ter que ouvir
línguas arcaicas,
e me sola o giz.

diz, flores,
o que querem quando
do sol são filhas,
rodopiando durante uma valsa de arco,
mais que os casais do salão.

tomando luz como vida,
sugando a força de águas  perplexas.
anexas da mão da terra,
como dedos,
unhas dos titãs olimpicos,
que são aparadas pelos tolos de macacão,

que não sabem bem ao certo onde a curva verde,
dos florais mais belos, vai dar.

um vestido pro chão,
de bordados clorofila.
daquela manhã de ressaca,
que acordei e vi pétala ao lado.

ser

pelos homens
e mais seres,
serei total adepto.

credenciarei meus belos
pelos belos de viver,
pelo menos hei de sentir.

me repito frases
e frutos salgados
que saudam prosas nupciais.

um par de consoantes
destonadas, desbotadas.

pelos homens e mulheres,
moças de folhas claras,
pecarão em nome da língua.

sabotearam os cristãos
os cristos
e os seguintes infernais.

em nome dos adeptos,
serei homem e mais.
nativo da letra que vos corre.

que faz a correnteza em maçãs,
vazar por cavernas o muco do sentimento.

choram-te os olhos
devaneios à esmo.

e a fulgaz esperança
me dá de amor
o aberto do abraço,
que ecoa,
toda vez que sou.

terça-feira, junho 29

onde está meu dicionário?

vejo palavras,
cobiçadas,
o vocabulário que
nós, poetas da vida,
cobiçamos pelo andar.
pensamos ter,
mas não temos tinta
suficiente para escrever.

palavras azuis,
imagens de nossos sonhos.
que não contamos para ninguém,
se não, não acreditariam em nós.

flor de maracujá

olhe bem em meus olhos
que acabam de acordar pro sol,
para mais tortura numeral.
os visto com um pouco de carência,
preguiça e luz.
fico pesado, sem decência para sair do leito.

minha porta de saída,
ainda fechada,
me implora companhia,
pede-me para ficar, sem marasmo,
sentado ao chão, criando mais.
de janela e mente aberta,
à luz do sol matutino,
morna e confortável.

hesito o pedido.

calho a descer degrais
mancando os pensamentos,
sentindo larica de mundo.

vejo entrar pela porta da cozinha um vento comprido,
frio, doente.
exatamente como meu viver durante
a dor do dia.
que dura o tempo do sol.
e há de acabar com o nascer da lua.

porém, esta está longe
e demora para acabar a gestação lunar.
espero quente ela nascer.

a cada passo,
sento versos no asfalto e passeio.
na rua, sei que posso olhar o frio
com meus próprios olhos
dar-lhe minhas próprias idéias,
sem paredes sufocantes me prendendo,
me ardendo.
na rua, livre, sei que sou.
e sei que posso.

o guardo para mim,
sem receios e anceios,
sem medo,
medo este que tanto me atormentava,
batendo sempre à minha porta.

me sinto leve.
sem dores,
quando transpiro livre, livro.
pelas vielas azuis antigas,
à sombra de maracujás
com em fatos de infanto sorriso.

bom dia, flor
como vão as torturas
que perambulam por aqui?
flor de sombra fria, azul
fruto de doces desejos,
adubados até mesmo
pela desgraça dos pesadelos mundanos.

me sinto pesado novamente,
quando saio da sombra do leve
e vou para o castelo dos inquisidores,
ábades da minha melâncolia.

império dos assassinos,
criando novos matadores,
gerando mais dor e agonia.

mas me amarro à mesa,
e decolo meus sentidos gastos
em direção às linhas.
tento fugir pra chuva, mil vezes mais.
e divago, navego, vivo, na tinta negra e folha.

sorrio ao ver o escuro chegar.
a noite, mãe, acolhedora,
de minhas lágrimas, que corta minhas dores,
surge como amor.

minhas porta de saída
vira-se em alegria,
calmaria.
sutilezas me bañam e pairam sobre o lençol.

me visto de vontade e
saudade.
uma nostalgia emerge
em notas queridas que voam
como água quando de boca de sol.

à noite, me sinto filho,
vivo pela lua, escondido
em crateras azuis.

meu leito me chama.
espero meus pés esquentarem,
e fecho o ver, criando meu falso céu.
e quase desejo não ver o outro amanhecer.
quero o sonho, vive-los na noite,
onde quer que seja.
quero o azul mais perto.
sentir o repirar perto e quente,
inalar os gases lunares,
e ser vida.

quarta-feira, junho 23

cresca aqui, ó, lírio

escute as estrelas,
tão sábias quando amadas.

escolha uma,
que escrevo à ela mil versos ,
tentando ganhá-la para ti.

não tenho certeza dessa verdade,
mas uso todos dicionários presentes
para escolher palavras gordas
e cheias.

palavras transbordantes,
como chuva em seus olhos,
como folha do pé,
que cai da árvore da qual
sonho ter a sombra sobre as idéias.

frutos me caiam na mão,
de sua copa,
me deixe ter lenha de você,
para me aquecer no marrom de seu ser.

sede de ter tudo,
que agora me é normal,
e para o tempo quando sei que está dando flores.

roubo aos poucos estas,
e vou montando-te aqui ao meu lado.
falta raízes e folhas.

fica aqui, o cheiro e alma,
do sol da manhã, do poente sol da tarde,
da lua da noite.

fica aqui, olhando-me as estrelas,
sinta-me como pássaro,
roubando-te o doce da flor.